quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Silêncio na Biblioteca: um problema minhoto?

Eis o que escreveram os Serviços de Documentação da Biblioteca da U.M. (texto de 12/6/2007):
«Os Serviços de Documentação da Universidade do Minho desenvolvem uma campanha pelo silêncio na biblioteca da U.M. em Guimarães, apelando ao respeito por quem quer estudar e sensibilizando para a importância de todos termos um espaço favorável à concentração na leitura e investigação. Contamos com a sua colaboração!

De acordo com o estipulado no Regulamento das Bibliotecas da Universidade do Minho, no seu Art. 5º, na sala de leitura não é permitido falar, tomar quaisquer atitudes ou transportar objectos que possam pôr em causa o ambiente de silêncio e disciplina, exigido nesses espaços; alterar a colocação dos móveis e equipamentos; o estudo em grupo.

Efectivamente, manter SILÊNCIO dentro de uma biblioteca é uma norma universal, um comportamento padrão, necessário ao cumprimento do fim a que se destina: proporcionar um espaço onde os utilizadores se possam concentrar na leitura e investigação. O RUÍDO é naturalmente uma fonte de distracção, que diminui a capacidade de concentração e por conseguinte de rendimento no estudo. Na biblioteca, o respeito pelo trabalho e estudo dos outros utilizadores manifesta-se através do silêncio.» (nosso sublinhado)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

"Ressaca americana" II


Eis uma parte do artigo (cuja tradução é muito, muito, fraquinha - alguém esteve distraído nas aulas de Português...):
«Enquanto a turbulência persegue os mercados financeiros americanos e os protestos enchem as suas ruas, as escolhas de estilo de vida estão a evoluir de um modo revelador: vistos, em tempos, pelo resto do mundo, como uns adolescentes exuberantes – os extrovertidos do mundo, exportadores do rock & roll e de filmes chamativos de Hollywood – os americanos estão a retirar-se agora, decididamente, dessa posição, ou pelo menos a serem introspectivos. As tendências nas actividades de lazer reflectem essa mudança: frugalidade e laboriosidade estão na moda; o consumismo ostentoso está fora de moda.

Esta mudança deve-se à frágil economia, é claro, mas acredito que isso seja também psicológico. Após duas guerras e uma meia dúzia de conflitos não declarados, na década passada, a América entrou num período de hibernação cultural sem precedentes.

Jardinagem, álbuns de recortes, tricotar, e cozinhar, tornaram-se em actividades recentes, desprezivelmente chiques. Nos bairros urbanos periféricos, para onde os jovens de estilo hip estão a mudar-se, as hortas citadinas e os tomates de herança, que crescem em floreiras, substituíram os veículos Lexus e Prius.

Outros jovens hipsters deslocaram-se mais para o campo, em busca de uma idílica nova fantasia narrativa. O jovem casal – ele com barba e ela com um vestido sem mangas e botas de borracha – têm uma propriedade no vale do rio Hudson com um bando de galinhas, ou no Novo México, com uma cabana de palha amiga do ambiente. Eles substituíram o jovem casal de há cinco anos – ele com o fundo de cobertura (hedge fund), ela com decoradores de interiores – numa McMansão em Westchester County.

As secções de produtos alimentares dos jornais urbanos que, há cinco anos, cobririam a recente cozinha de fusão, agora mostram perfis sonhadores do indivíduo com uma licenciatura Ivy League, que saiu da rede, e fez bem a ele mesmo ao iniciar uma linha de picles caseiros. Mercados de produtores da região, fogões a lenha, painéis solares e lojas agrícolas Agway são os novos focos do sonho com aspiração para as pessoas, que há pouco tempo tinham muitos créditos ilimitados, consumiam marcas de luxo adaptadas à classe média e fantasiavam sobre o tipo de vida exposta nas revistas de luxo.»

Para ler o artigo completo, clique em http://www.publico.pt/ProjectSyndicate/Naomi%20Wolf/a-ressaca-americana-1523984

A ressaca americana (I)

A página inicial do meu computador é a do jornal Público (na verdade, sou mais coerente nas navegações na Internet do que nos consumos culturais, pois, por mais que pense que o Expresso se está a tornar um jornal detestável, continuo a comprá-lo semana após semana. Acho que é o meu "jornal-nostalgia", dado que o compro todas as semanas desde que comecei a trabalhar. É possível que a chamada de capa para a não notícia João Semedo seja a gota de água.

Voltando ao Público: chamou-me a atenção este título, "ressaca americana". Verifiquei depois que se tratava de um texto de Naomi Watts, cujo livro No Logo achei muito interessante.

"Em casa", ou o fascínio de Bill Bryson

Há anos que vejo por aí (ou por aqui, pois temos vários aqui na Biblioteca) os livros deste autor, e sempre quis lê-los. Mas, vocês sabem como é, pego sempre noutros - de preferência literatura. Há duas semanas, porém, recebi um presente de Natal antecipado, e dei por mim a ler Em casa. Fiquei fascinada, apesar de não gostar muito dos textos promocionais e de achar a capa ridícula. Ei-la:


Mas li o livro quase de um fôlego (tanto quanto é possível a uma pessoa que trabalhe).
A ideia é muito interessante: o autor inquire, um por um, os espaços da velha reitoria em Norfolk onde mora. Compartimento a compartimento, ficamos a saber que objectos, móveis, inovações, invenções e costumes se usaram através do tempo. Trata-se de uma "forma leve" de história da vida privada, sem o peso académico. Uma leitura muito fluida, embora não isenta de defeitos, pois, por regra, apenas se centra na Inglaterra e Estados Unidos; e tende a repetir algumas formas de narrar. Defeitos menores, face ao interesse geral da leitura. Eu, pessoalmente, fiquei cliente.

Dia Internacional da Tolerância

No dia 16 pudemos assistir a uma óptima palestra, intitulada "Islamismo/Terrorismo?", proferida pelo Major Vale de Faria. Apreciei muito o teor do que foi dito, mas também as inúmeras perguntas feitas pelos alunos. Nesse dia foi muito oportunamente exibido o filme "Persepolis" e pendurada uma belíssima faixa, que vou tentar reproduzir. Um dia em cheio.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Bom fim-de-semana, bum ci bum bum




«Entra e fatti un bagno caldo / (...) Fuori piovi, è un mondo freddo»

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Livros & algo mais...



Duas das isabeis e a Ana Margarida estão a pensar concretizar um projecto antigo, a Comunidade de leitores da ESVV. Antes de começar, vão fazer uma sessão zero, para sondar acerca dos dias, dos horários, dos livros e das modalidades mais convenientes. À laia de motivação, será visionada uma "americanada" inofensiva, "O clube de leitura de Jane Austen", um filme delico-doce que mostra, entre outras coisas, o potencial sentimental das comunidades de leitores. Não sei concordo (etiqueta: falsa moralina).

Dar abraços ao aluno desconhecido

Hoje, à saída da aula, quase dei um abraço num aluno desconhecido. Não pensem, porém, que enlouqueci. Acontece que, ao longo do percurso até à sala de professores, havia vários alunos com máscaras e mensagens alusivas ao Dia Mundial da Luta contra Sida. Este tinha um cartaz que inquiria: "Se soubesses que eu tinha sida, davas-me um abraço?". Eu, que sou uma mulher cautelosa, perguntei-lhe se ele queria um abraço. Declinou com um ar assustado, e eu fui à minha vida com a consciência tranquila. As outras mensagens eram menos interpelantes mas igualmente importantes. Uma iniciativa louvável - com ou sem abraços.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Revelou-se a minha enorme ingratidão...



Há dias comentava com a Ana Margarida que escrevo menos sobre o que nós fazemos (as nossas iniciativas) do que sobre as iniciativas dos outros. Ambas concordamos que, de certa forma, nos esgotamos na organização e que, depois, nos sentamos com um suspiro de alívio. Quando vamos escrever acerca do assunto, já a memória não é tão vívida - enquanto que, quando assistimos às iniciativas dos outros, (como aconteceu recentemente, com as comemorações do Dia Internacional da Tolerância) estamos totalmente predispostas a "absorver", sem outras preocupações, o que sucede. E só escrevemos crónicas parcas e, de algum modo, desafinadas. Está visto que não temos jeito para o "marketing pessoal"...

O que é... mesura



Ao procurar no "Youtube" uma versão da música de João Gilberto, li um "post" que se referia à "mesura" deste cantor brasileiro. Fiquei cheia de pena de não me ter lembrado disso quando  expliquei este conceito, que herdámos da lírica provençal, aos meus alunos de Literatura Portuguesa. Com efeito, João Gilberto é um homem cheio de mesura, um cavalheiro, uma pessoa "comme il faut". Ah, que me dera que a nossa Biblioteca conseguisse inculcar em todos os seus frequentadores esta ideia...

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

"Nascimento de uma ponte", de Maylis de Kerangal


Foi o meu centro de recursos que encontrou a fotografia ideal para ilustrar um dos melhores livros que li nos últimos tempos  - oferecido, claro, pelo meu centro de recursos. "The best".
Não estranhem se uso a língua inglesa para qualificar este livro francês. É que o seu imaginário é totalmente "americanizado" (quando digo ou escrevo esta palavra, ouço sempre o Caetano Veloso). Por norma, irrita-me a colonização cultural a que os Estados Unidos nos sujeitam, essa colonização que, como todos os bons colonizados, aceitamos, fomentamos, procuramos - e eu não constituo excepção.
Porém, este livro recorre a esse imaginário como a uma espécie de plataforma comum para nos entendermos e, de facto, ela confere-lhe um alcance global que, de outro modo, talvez não atingisse.
Outro aspecto interessante, particularmente para nós, aqui na Biblioteca da ESVV, é o seu carácter "Duas culturas": Nascimento de uma ponte parece um livro de, e para, engenheiros, operários, condutores de gruas, motoristas, mineiros, arquitectos. Todos aqueles que trabalham para construir uma ponte, todos aqueles que trabalham para a destruir, tudo o que a construção de uma ponte destrói, eis o que está em jogo neste livro que, apesar de extremamente bem documentado (e, por conseguinte, bastante pedagógico), nunca soa a falso. Se eu fosse professora de arquitectura ou de engenharia, adoptava-o como leitura obrigatória.


terça-feira, 15 de novembro de 2011

Procrastinar

Foi esta semana, justamente esta semana, em que li no Expresso que esta palavra está a ficar fora de moda, que a vou utilizar... não é justo, não é mesmo nada justo. A bem da verdade, devo dizer que não concordo que a palavra esteja fora de moda. Pois se ela chegou dos latinos até nós, por que razão deveria deixar agora de se usar, só porque o Luís Pedro Nunes decretou que ela estava fora de moda(http://aeiou.expresso.pt/luis-pedro-nunes=s24975)?!

Não creio que - quer a palavra, quer o conceito - procrastinação esteja fora de moda. Aliás, há dois anos passei uma curta metragem do Indie Junior aos meus alunos do 11º  e eles reviram-se logo nela.

 
Os alunos do 11º, o Marcel Proust, eu, todos procrastinamos.

 
Eu, em particular, tenho procrastinado a escrita de uma das melhores coisas que se fizeram aqui na Biblioteca. Já lhes falei da apresentação dos e-books "Carolina" e "Gabriel" por alunos do 8ºA e B? E das "Oficinas de escrita criativa", pela equipa do projecto? Que o professor Luís Castro nos apresentou A biblioteca, de Zoran Zivrocic, com música e tudo?! Já lhes falei da vinda da Dra. Yu Young e do Dr. Miguel Cruz cá à escola? Já lhes falei da prestação dos alunos do 10ºG a declamar "comme il faut" uma cantiga de João Peres de Aboim e depois a recriá-la? Já lhes falei da excelente palestra do Doutor Agostinho Domingues e da promessa que nos foi feita pelo Dr. Henrique Barreto Nunes? Não, não e não. Tenho andado a procrastinar.

The Big C





O grande C é um concurso de criatividade para as escolas que nos parece merecer a vossa atenção. Dedicado a alunos do 3º ciclo e secundário, pretende "sensibilizar alunos e professores (...) para a importância do Direito de Autor" e conexos. Podem concorrer individual ou colectivamente, criando uma obra original, que pode consistir num texto, fotografia, vídeo, música, letra (para músicas originais que se encontram no site), media ou design de capa. As obras vencedoras serão produzidas, editadas, divulgadas e comercializadas (no estrito respeito dos direitos de autor, como é por demais evidente...). Aqui fica um belo desafio, a descobrir em http://www.grandec.org/.

Uma mentira mil vezes repetida

NAS LIVRARIAS

Ontem, na Comunidade de Leitores da Velha-a-Branca, o escritor Manuel Jorge Marmelo apresentou o seu livro Uma mentira mil vezes repetida. Já o tinha visto na Póvoa do Varzim e confirmei a impressão inicial: é uma pessoa interessante, que, a propósito da projecção mediática da literatura, das literaturas, dos livros (enfim...) comentou o pouco caso que os jornalistas concedem a acontecimentos como os que se produziram recentemente na Libéria. Manuel Jorge Marmelo não é, apenas, um autor interessante, ele é também uma pessoa, um jornalista (do Público) interessante. Na impossibilidade de colocar aqui o livro, que vou começar a ler no próximo Domingo, deixo-vos a hiperligação para o seu blogue:
http://teatro-anatomico.blogspot.com/ , com uma recomendação especial para as "Crónicas do autocarro".

Uma camioneta

Eu admiro, palavra de honra que admiro, o estilo do condutor da camioneta da Avic que faz o percurso do Alívio até à escola às 8h20m.
O senhor nunca encosta. Nunca. Se por azar viermos atrás dele, só despegamos da traseira da camioneta (eu até já decorei a publicidade ao Santo Inho...) aqui na escola. Mas o que mais me admira, numa pessoa que faz questão de nunca encostar - o que significa que ocupa toda a faixa de rodagem - é o zelo infalível com que dá pisca... para se manter na faixa.

Oficinas de escrita

As oficinas de escrita tem estado a produzir: o primeiro texto da Diana Correia já foi afixado, a firma João & Rita Leonardo continua a laborar a bom ritmo. Não acreditem? Ora cliquem em

http://lol.cortexiphan.net/site/

Já vêem se não tenho razão.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

"Sounds Of Silence" de Simon & Garfunkel, uma "boca" deslocada



Vem esta música mais ou menos a propósito da nossa campanha"The sounds of silence". Mais ou menos porque, se prestarem atenção à letra - belíssima - ela não vem ao encontro do nosso propósito, que tem a ver com a bondade do silêncio.

Numa biblioteca, o silêncio é essencial (se não, é uma feira com livros). Alguém em seu perfeito juízo quererá ir ler, trabalhar ou pesquisar numa biblioteca barulhenta?

Oficina de escrita

A oficina de escrita tem estado a produzir para a gaveta (não é bem para a gaveta: eu depois explico melhor), mas ontem já se afixou um primeiro texto, interessantíssimo, da Diana Correia. Está afixado no painel da entrada. Leiam-no!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A/C da Associação de estudantes da ESVV

Ando há anos a pregar a necessidade de esta escola ter associações fortes, que se envolvam na vida da escola, dêem sugestões e nos ajudem a resolver problemas - mesmo aqueles de que, por estarmos demasiado "enfarinhados", não nos apercebemos.


Hoje, de roda de um PCT que já me consumiu muitas horas de trabalho e que parece nunca estar concluído, encontrei numa página da DGIC uma proposta de Educação para a Cidadania, coordenada por Maria Emília Brederode Santos. E aí estavam, num português muito mais límpido do que o meu, dois objectivos que, sem desprimor dos outros, muito me preocupam nesta escola:
«- Assumir criticamente os direitos e deveres que lhe competem no contexto da família, da escola e da comunidade, e identificar direitos associados à vida adulta (...)
 - Participar na governança da escola, de associações estudantis ou de instâncias da comunidade (...)»


Trata-se, pois, das aprendizagens que todos os alunos devem ter feito no final do ensino secundário.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

"7 Seconds" e o bebé sete mil milhões



Na segunda-feira estive horas a tentar publicar esta música, que vinha tão a propósito do nascimento, algures no planeta, do bebé sete mil milhões. Debalde. Hoje já somos mais...

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

"No meio do caminho", um dos meus poemas preferidos






Já lhes tinha dito que temos uma antologia de Carlos Drummond de Andrade disponível para requisição?

Profecias auto-realizáveis

A verdade é que a nossa escola - vá-se lá saber porquê (eu tenho uma teoria) - parece estar a ser objecto de uma profecia auto-realizável: se as pessoas não cuidam, não limpam, não tratam, ela vai ficar necessariamente suja e descuidada.
A nossa escola, a minha escola, onde tenciono passar cada vez mais tempo porque a acho ampla e arejada e porque pela primeira vez na vida me apetece ficar a trabalhar aqui em vez de ir para casa preparar aulas e corrigir trabalhos. É como diz o Caetano: «Quando a gente ama, é claro que a gente cuida».

Uma excêntrica aos gritos com os alunos

Este blogue está parado, demasiado parado. À uma, porque só tenho 45 minutos semanais especificamente para ele; às duas, porque tenho tido demasiado trabalho extra; às três, porque a escola nova, que tanto me agrada, anda a ser muito maltratada e eu não quero dizer as coisas desagradáveis que às vezes penso.
Dói-me o desamor com que os novos espaços e equipamentos são tratados. Na semana passada, dei um berro a um aluno - ainda por cima, nem tinha ar de grunho - que estava a dar pontapés a uma porta do ginásio. Eu paguei por aquela porta, os pais dele também devem ter pago aquela porta (se pagarem impostos), nós todos a pagámos. E ele estava a dar cabo dela, porque - dizia - estava fechada. Mas que culpa tem a porta? Que culpa temos nós? Porque não foi chamar o funcionário para lhe abrir a porta? Em que estado estará a porta quando os filhos dele vierem cá para a escola?!
Parecemos uns novos-ricos, desdenhando tudo, malbaratando tudo. Uns grunhos, maltratando o material que - necessariamente - se deteriorará. Claro.

Não tenho escrito, entre outras coisas, porque me dói a escola.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Oficinas de escrita

As Oficinas de Escrita, idealizadas pela Ana Paula, estão a carburar a pleno gás. Há alunos que se dedicam à escrita criativa e alunos que se dedicam à escrita utilitária. Tudo a correr como previsto, em suma.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Aviso à navegação

Para os mais distraídos: todas as entradas do bloco de serviços têm um tapete, uma faixa cinzenta onde se devem LIMPAR OS SAPATOS para não sujar o pavimento. Como em nossas casas. Simples, não é?

Casa nostra, causa nostra, escola nostra

Uma escola que se renova precisa de pessoas à altura. Pessoas que, aquando da discussão do projecto, disseram o que tinham a dizer. E que, depois desta, a aceitam como produto das suas contribuições ou se calam como resultado da sua não participação.

Pessoas que, seja como for, a tratam como casa sua, que também é. Daí que me doa ver alunos dar pontapés a portas ou a pôr os pés nos assentos estofados das cadeiras da Biblioteca. Que tenha sentido náuseas quando ouvi o Augusto a contar que, logo no primeiro dia de aulas, tinha visto um aluno a dar um murro num distribuidor de líquido acabado de instalar.
Mas o que somos? Vândalos? Bárbaros? Ricos (com dinheiro para substituir material acabado de instalar)? Animais, que refocilam na própria sujidade?
Fico perplexa: estimo a minha escola como a minha casa. Tal como a minha casa, paguei-a e passo nela muito tempo. Se as nossas casas nos revelam, as nossas escolas mostram aquilo que somos.

Como folhas de árvore

SOU COMO FOLHAS DE ÁRVORE

Sou como folhas de árvore — reparo.
Numerosas, presas ao ramo por pecíolos tenazes,
contudo complacentes com o ar que passa,
e por isso frívolas, mostrando
alternadamente as duas faces.


Assim múltiplo e trémulo sou eu.
Apenas um pouco menos perecível,
julgo. E a figueira a que pertenço
talvez um pouco mais durável
que as de verdade.
Mas isso pode ser impressão minha.

(A. M. Pires Cabral)

domingo, 25 de setembro de 2011

A escola começou e, com ela, o Outono

Se deste Outono uma folha,
apenas uma, se desprendesse
da sua cabeleira ruiva,
sonolenta,
e sobre ela a mão
com o azul do ar escrevesse
um nome, somente um nome,
seria o mais aéreo
de quantos tem a terra,
a terra quente e tão avara
de alegria.

Eugénio de Andrade

terça-feira, 26 de julho de 2011

Possessão, uma história de amor

Prometi à Isabel Leite que lhe emprestava um dos livros que alegrou o meu fim de ano lectivo: Possessão, a obra que valeu à britânica A.S. Byatt o Booker Prize. O livro foi editado em Portugal em 2008, mas ou me escapou, ou era caro, ou o achei grande demais, ou fiquei irritada com o subtítulo. Há tempos, já depois de ter descoberto que tinha dado origem a um filme que não vi (de Neil LaBute, com Gwyneth Paltrow, Aaron Eckhart, Jeremy Northam e Jennifer Ehle), descobri-o, por 7,5 euros, numa feira do livro. Foi uma boa horinha, essa, em que adquiri por menos de quinze euros Bomarzo e Possessão.
Se é um trocadilho fácil dizer que fiquei possuída por estes dois livros, ele não é menos verdadeiro. Possessão é um livro de uma arquitectura perfeita, um romance parcialmente epistolar, que contém duas histórias de amor em paralelismo imperfeito. Um livro muito informado acerca da cena artística do século XIX e da crítica na actualidade. Um livro simultaneamente tocante e trocista, romântico e realista. Um livro recheado de "pastiches" de dois escritores que nunca existiram mas nos quais acreditamos. Um quase livro policial. Uma contenda entre uma concepção britânica, circunspecta e reverente da pesquisa literária e uma concepção americana, canibal, neo-colonial, dos estudos literários. Um David Lodge talvez mais bem escrito. Um romance cujo desenlace nos consegue, apesar de tudo, surpreender.
Eu sei que hoje me está a sair tudo demasiado encomiástico, demasiado lamechas, demasiado previsível. Deixem-me, por isso, transcrever um pedacinho deste romance de 529 páginas, que me soube a pouco:
«Roland descobriu que as cartas são uma forma de narrativa que não prevê desenlace nem termo. O seu tempo era um tempo de predomínio das teorias narrativas. As cartas não contam nenhuma história, porque não sabem, de linha para linha, para onde vão. Se Maud tivesse sido menos fria e hostil, ele teria comentado oassunto com ela - como assunto de interesse geral; Mas ela não levantava os olhos nem correspondia ao seu olhar.
As cartas, finalmente, não só excluem o leitor como co-autor, ou previsor,ou adivinhador, mas excluem-no também como leitor, são escritas, se são verdadeiras cartas, para um leitor.»

Isabel: eu empresto-to. Mas devolve-mo depressa.

Ei-los que partem

Uma nova angústia se junta às angústias antigas: esta é a época em que os professores que não pertencem ao quadro de nomeação definitiva (alguns até pertencerão) começam a temer pelo seu lugar. Não pensem que exagero se disser que se me aperta o coração. Aperta-se-me o coração, mesmo se esta fórmula é antiquada e lamechas. Aperta-se-me o coração, mesmo quando não sei o nome dos colegas, nunca estive no mesmo conselho de turma que eles, não tenho a certeza de que disciplina leccionam. Agora imaginem que está em risco o lugar da Sheila, que está cá há cinco ou seis anos, da Cláudia, com que falo frequentemente, do Sérgio, que é sempre simpático. Retrospectivamente, penso nas perdas que sofri ao longo dos anos, pessoas cujos números de telefone conservo, que sei de onde são, onde moram, quantos filhos têm: a Carla Sofia, o Paulo, o Filipe, a Ana...

E agora, a Ivone.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Os nossos filmes




Aproveitei o retorno ao serviço para recarregar o "stock" de filmes na Biblioteca. Trouxe um filme alemão, "Os falsificadores" (de Stefan Ruzowitzky) o qual, além de me ter agradado, me parece muito útil para o nosso trabalho. Trata-se da história (autêntica) de um grupo de prisioneiros dos campos de concentração nazis que são obrigados a produzir moeda e documentos (falsos). O filme tem todos os ingredientes para agradar aos nossos alunos e todos os condimentos para ser útil na leccionação de várias disciplinas. 
Trouxe também mais um filme premiado no festival de Sundance. Por norma, são filmes agradáveis - e este não escapa a essa regra. "Uma outra educação", de Lone Scherfig, tem (tal como "Alta fidelidade" e "O rapaz"), argumento de Nick Hornby. Só que, desta feita, o escritor não adaptou um livro seu, mas baseou-se nas memórias de Lynn Barber. Outro filme interessante, muito, muito apropriado para exploração pedagógica. O "trailer" vale a pena e está acessível em http://youtu.be/qn9IMe5jmf0.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Zero no exame

Hoje sonhei que a Sandra tinha tirado zero no exame. De manhã comentei com a Fá como a atitude dos meus alunos que este ano foram a exame me preocupa: com honrosas excepções, a despreocupação reinou até ao momento de a prova começar. Dois anos de trabalho, nem sempre correspondido. Aulas de preparação para o exame a que apenas um aluno comparecia.

A Fá comenta: "No nosso tempo..." No nosso tempo, nós - éramos poucos. Tínhamos objectivos. Mas também havia outros, para quem tudo era uma galhofa pegada. Que talvez troçassem de quem se preocupava. Onde estão eles agora? Certamente que não sonham que alunos seus tiram zero no exame. Continuarão felizes? E eu, não sou feliz? Ao contrário das personagens de Robert Yates, não me vejo (a maneira como nos vemos é o mais importante, embora possa não corresponder à forma como OS OUTROS nos vêem) como alguém que ficou aquém, que esteve quase lá, que não chegou, não foi capaz, não enveredou pelo caminho certo, não ousou. Sonhei-me professora, eis-me professora. Não me quis tíbia, não creio que o seja. E, no entanto, fico frustrada quando corrijo vezes a fio os mesmos erros. Quando escrevo conselhos que são ignorados uma e outra vez, dezenas, centenas de vezes. Distracções, asneiras, imprecisões que, estou certa, repetiram no exame.

Acarreto há anos a mesma pedra, e nem sempre a consigo levar até ao topo. No ano seguinte, ela volta a deslizar para a base. Carrego-a penosamente. Como será a pedra da Clementina que vende na feira, a pedra do Joaquim que trabalha numa loja de ferragens, a pedra do Bernardino que é lavrador, a pedra da Inês que trabalha nos serviços municipalizados? A pedra do Carlos, que herdou uma agência funerária? A pedra do Augusto, tão "cool", agora a trabalhar numa empresa? Não sonham que os alunos tiveram zero no exame... com que sonharão eles?

Meias-tintas


Esta bela capa pertence a um dos livros que levei da Biblioteca, e que já li. Segunda-feira devolvo-o. Trata-se de um texto breve, bem escrito, interessante. O título é - como tantas vezes - enganador, pois remete para uma felicidade que não está lá. Aliás, todas as personagens são um pouco frustres. Às vezes estão perto dela, mas deitam-na a perder, hesitam, cometem o gesto fatal que estraga tudo, falam um pouco demais, ficam um pouco aquém das expectativas. Talvez a vida seja sempre assim, talvez não.
Gostei do livro, embora prefira autores como Carson McCullers (Coração, solitário caçador ou Balada do café triste) ou uma das autoras que adquirimos recentemente para a Biblioteca, Flannery O'Connor. Este é cinzento, os outros são negros, mesmo negros. Ainda mais perfeitos. 

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Leitura para férias

Embora esteja de férias,  vim à escola e - claro - fui irresistivelmente atraída para a Biblioteca. Ando há meses a ansiar pelas férias, para ler à minha vontade. Há meses a arrecadar livros, a fazer pilhas, a pensar neste e naquele que tenho de acrescentar ao monte.
E mesmo assim, não resisto a levar dois livros da biblioteca: Pau-Brasil, de Jean-Christophe Rufin e Perto da felicidade de Richard Yates (esses já cá cantam, escusam de os vir buscar).
Mas passei de viés por Deixem passar o homem invisível, de Rui Cardoso Martins e O cemitério dos barcos sem nome e O mestre de esgrima, de Arturo Pérez-Reverte. Quase tenho pena de já os ter lido...

Fila para o arroz de pato

Naquele almoço de professores houve uma coisa simplesmente lamentável: uma professora que passou à frente de toda a gente na fila para o arroz de pato.
Eu estava lá, mesmo lá, e vi tudo. Foi a Isabel.
- a Isabel Leite?!
- Não...
- A Costa?
- Nããã...
- Não me digas que foi a Isabel Gonçalves!
- Também não.
- Ah, já sei: A Isabel Oliveira.
- Também não. A outra.
- Qual outra? A... não me digas! A sério?!
- A sério. Olha, estava lá o marido da Helena Balreira, que deu logo por ela.
- Ele há cada uma...
- Quem havia de dizer...
- Há pessoas capazes de tudo.
- Realmente. Uma vergonha para a escola.
- E com gente de fora: o que há-de ter pensado o marido da Helena...?!
- Deus queira que não comente com ninguém.
- Pois, ficamos todos mal.
- Gente desta deixa ficar mal a nossa classe.
- A lata dela!
- Olha que realmente... e nem por isso perdeu o apetite.
- Deve ser por isso que está engordar.
- Bem feito!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Para que serve a literatura?



Pois a resposta, a resposta breve e concisa, à volta da qual todos os devaneios se podem tecer, vem no Ípsilon, sob a forma de confissão: «Estou a ir-me abaixo, é da idade. Tens razão, houve uma altura em que me resignei à literatura. Confesso tudo. Dando como testemunha abonatória das boas intenções poéticas desses meus últimos livros, no que toca a comover, o velho Rodolfo Agrícola, para quem a literatura serve "ut doceat, ut moveat, ut delectet", que é como quem diz: "para ensinar, para comover, para deleitar"».

Exame de Português, 1ª fase: o autor explica-se



O trabalho abrandou e eu aproveito para me dedicar às limpezas e arrumações. Infelizmente, encontro muitos jornais que comprei e não li. Entre eles, o Ípsilon de 14 de Junho que contém uma entrevista que Manuel António Pina. Ora, acontece que eu estou há meses (há meses) a culpabilizar por não ter escrito nada acerca deste nosso surpreendente prémio Camões 2011. Digo surpreendente porque (embora conceda que sou muito distraída e que, por isso, faço às vezes julgamentos apressados de que me arrependo) não é muito habitual que se condecorem autores que não estão a cair da tripeça e, sobretudo, que dizem o que pensam sem contemplações.
Agora encontro a força e o pretexto para (começar a) escrever acerca do M.A. Pina, e também do exame de Português de 12º ano. Se se lembram, a prova concluía com a citação «A importância da literatura para a criança, como para o adulto, é que ela é um "organizador fundamental", que protege a vida contra a automatização e contra a "tragédia da rotina" que ameaça a afectividade e as relações.». Este tema - tal como o seu «primo direito» que saiu no exame de 9º ano - faz-me sonhar. Mas, como não é para sonhar que aqui estou, deixem que vos diga que no tal Ípsilon que estagiou no meu quarto de banho à espera de Go... de leitora traz a resposta. A RESPOSTA.

O Seixas e o Fernando Pessoa

O Seixas mandou-me uma hiperligação que não resisto a colocar aqui: http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/index.php?id=2233.

terça-feira, 28 de junho de 2011

A dificuldade de ter dois empregos

Tento fazer das fraquezas forças. Tento tirar proveito de coisas fracas, más, ruins, nocivas. Como o alarme da Escola Secundária D. Maria II, que toca quando muito bem lhe apetece e só estanca quando telefono a avisar. Vigilante à noite, professora de dia: por quanto tempo conseguirei manter dois empregos? Bem, entretanto vou dando de comer ao blogue...

Diga não ao palavrão


Esta nossa campanha não é só nossa, como prova o texto que surripiei do blogue http://projectopne.blogspot.com/:

Um jornal de um estabelecimento de ensino não serve apenas para dar notícias, também pode, muito bem, promover iniciativas úteis para a comunidade escolar. Assim o entendeu o Expressão, da Escola Secundária de Afonso de Albuquerque, Guarda, que, no número de Junho, dinamiza a campanha “Não ao palavrão”. A ideia surgiu porque, “amiúde, nos corredores e nos acessos à escola, os nossos ouvidos gritam por socorro ao ouvir chorrilhos de palavrões”. Esperemos que muitos acudam a um pedido de socorro que não é gritado apenas na Guarda.»
(publicado dia 21/6/2011)

Mais árvores

 
CIDADES QUE NÃO NOS PERTENCEM

Em cidades estranhas
nossos pensamentos vagueiam calmamente
como túmulos de artistas de circo esquecidos,
os cães ladram aos caixotes do lixo e aos flocos de neve
que sobre eles caem.
Em cidades estranhas passamos despercebidos
como um anjo de cristal fechado numa caixa de vidro sem ar,
como um segundo terramoto que meramente
rearranjasse o que já estivesse arruinado.

(Nikola Madzirov)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Bomarzo e o seu sortilégio

Acabei ontem de ler um "tijolo" de 900 gramas: Bomarzo, de Manuel Mujica Lainez. Atravessou-se-me à frente há uns tempos, numa daquelas feiras do livro que vendem exemplares um pouco danificados, possivelmente expostos nas livrarias e depois revendidos a um preço módico. Ultimamente, por causa da crise, tenho comprado vários livros assim - e feito boas aquisições.
Este livro é a prova provada da minha incomensurável ignorância. Com efeito, nunca tinha ouvido falar deste escritor argentino, que não só ganhou vários prémios com esta obra, como escreveu o libretto para uma ópera com o mesmo nome, musicada por Alberto Ginastera.

O livro é notável pela sua mestria estilística (a tradução, excelente- do melhor que tenho lido - é de Pedro Tamen), pela erudição histórica, artística, literária; pelo seu conhecimento da natureza humana; e pela contribuição para a teoria literária.
Bomarzo é, também, um livro inquietante. A mim provocou-me uma sensação de desconforto muito próxima da que experimentei ao ler O perfume de Patrick Suskind. A par dessa sensação, porém, há um fascínio pela personagem de Vecino, ou Pier Francesco Orsini, duque de Bomarzo. Encarnação do mal, homem do seu tempo, figura meio histórica, meio ficcionada, o duque não é, a meu ver, o verdadeiro protagonista da história, o qual seria... o castelo de Bomarzo. É pelo seu domínio que o aristocrata comete parte dos seus crimes, é ele que o explica e sustém, é nele que reproduz a sua própria enfermidade. Os jardins de Bomarzo confundem-se com a sua própria biografia, como comenta Vecino:
«Um mundo de imagens e de incógnitas - a minha biografia fantástica - brotou das vísceras da minha terra. Tive de repetir para o descrever as palavras enorme, imenso, gigantesco, colossal, esgotando os sinónimos à saciedade.» Assim, também, este livro.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

"Posts" politicamente incorrectos

Eu sei, eu sei que tenho escrito uns textos que passam mensagens politicamente incorrectas. Sou contra as cábulas, as fugas de adolescentes assustam-me de morte e, naturalmente, não creio que os professores sejam quase todos uns débeis mentais. Mas é o imaginário deste livro de Murakami, é o imaginário dos adolescentes e a "parte prática" tem muita utilidade, oh se tem. Tem tanta, que eu própria estudei muito pouco até ao décimo segundo ano e tive boas notas. Enfim, fazia os trabalhos de casa. O meu método era exactamente aquele: apurar os sentidos e usar o cérebro como uma esponja, atenta a cada palavra que era dita na sala de aulas e captando tudo, a fim de perceber o significado das coisas e de conservar tudo na memória.

Conseguir quase sempre as notas mais altas nos exames, e sem ter de queimar as pestanas

O rapaz chamado Corvo (ainda não sei quem é, mas vos garanto que hei-de saber) aconselha o fugitivo de Kafka à beira-mar:
«Os factos e a teoria ou lá o que vos ensinam na escola não vai servir de muito no mundo real, isso é limpinho. Podes ter a certeza de que os professores não passam quase todos de um punhado de débeis mentais. Mas uma coisa é certa: estás a preparar-te para fugir de casa. Se calhar nunca mais tens hipótese de ir às aulas, por isso, gostes ou não, o melhor que tens a fazer é aproveitar a oportunidade ao máximo. Faz de conta que és uma folha de papel mata-borrão e trata de absorver tudo o que puderes. Mais tarde logo decides o que é que te interessa reter e o que não serve para nada.»
E o protagonista comenta: «Fiz como ele dizia. Neste ponto convém dizer que, regra geral, sigo os conselhos dele à risca. Apurei os sentidos e usei o meu cérebro como uma esponja, atento a cada palavra que era dita na sala de aula e captando tudo, a fim de perceber o significado das coisas e de conservar tudo na memória. Graças a isso, consegui quase sempre as notas mais altas nos exames, e sem ter de queimar as pestanas.» (pp. 15-16)

A Biblioteca, um lugar para viver

Ando há anos para ler o Murakami, um dos autores preferidos da minha amiga Raquel. Hoje, enquanto os alunos do 7ºC viam "Bienvenue chez les ch'tis" - que já vi duas ou três vezes - folheei Kafka à beira-mar. Fiquei espantada com as menções a bibliotecas que aí encontrei. A páginas onze, o protagonista, um jovem de quinze anos, diz:
«No dia em que fizer quinze anos fujo de casa e sigo viagem até uma cidade distante, e ficarei aí a viver, num canto de uma biblioteca qualquer.»

Cábulas de luxo - ou de lixo



Hoje de manhã fui surpreendida com a notícia de que candidatos a juízes teriam copiado no exame. Lembrei-me do último texto que publiquei no Portazul. Talvez não tenha sido suficientemente severa com os alunos que fazem cábulas. Pessoalmente, tentei uma vez, no décimo ano, para nunca mais.

Não queria ser moralista, mas também não queria ser tratada por médicos ou julgada por juízes que tivessem copiado nos exames. Se, no primeiro caso, pode ser a minha saúde - ou a minha vida - a ser posta em causa, no segundo questiono-me acerca dos princípios éticos destas pessoas. Copiar num exame do Centro de Estudos Judiciários?! Além de falta de ética, parece existir aqui uma sensação de impunidade muito pouco consentânea com o exercício da função. Não, não era dez que mereciam. Era a interdição de exercer tais funções.

terça-feira, 14 de junho de 2011

As cábulas, os cábulas

Não tenho (quase) nada contra cábulas. Na verdade, tenho uma bela colecção de cábulas (apenas duas confiscadas por mim), que tenciono expor quando me reformar. São extremamente engenhosas: o autor de uma delas recorre a um princípio da Física (o sistema de roldanas); há reutilização de materiais e criatividade a rodos. Com efeito, fazer uma cábula envolve duas competências: criatividade no meio e selecção e sistematização dos conteúdos, o que lhes confere um certo valor pedagógico.
Nada disso sucedia com as cábulas que vi "fazer" hoje na reprografia: três alunos de nono ano pediam à funcionária que reduzisse um texto do manual. Intervim, no meu muito activo papel de "chata de serviço", pedindo à funcionária que não tirasse aquelas fotocópias que um dos alunos apelidou "auxiliar de memória". Não tenho dúvidas de que a minha intervenção não adiantou nada; quando muito, contribuirá para baixar (ainda mais) o meu índice de popularidade. Acho graça a cábulas, mas não sou fixe.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Tertúlia na ESVV

Na Terça-feira, dia 31 de Junho, tive oportunidade de assistir cá na escola a uma tertúlia em que participaram os bibliotecários da Rede de Bibliotecas e o Director Pedagógico do Projecto Público na escola, Eduardo Jorge Madureira. O tema eram os jornais escolares.
Para mim, neófita nestas andanças, trata-se de uma boa prática. Eu diria mesmo: uma excelente prática. Pensarão talvez que me refiro ao chá e bolinhos que acompanharam a tertúlia. Ao bom humor dos participantes. À tranquilidade com que, em tempos um pouco conturbados, pudemos trocar ideias. À leitura de um texto da nossa Ver.de em papel por parte da Manuela Artilheiro.
Têm alguma razão, mas não toda. Acima de tudo, realça-se a partilha de ideias. Gostei tanto, que pedi à Margarida para assistir às próximas reuniões e que fiquei com a cabeça a andar à roda com tantas ideias. Para tão longos projectos tão curta a vida...

Manuais escolares e publicidade enganosa

Em tempos de escolha de manuais, é bom recordar que os professores são enganados como os demais cidadãos. Muito se falou acerca das empresas que ofereciam uma percentagem (uma percentagenzinha inha inha inha) por cada manual vendido a instituições de solidariedade. Depois houve as ofertas, mais ou menos encapotadas: agendas, esferográficas, pastas. Talvez tenha ouvido uns zunzuns de aparelhos didácticos, mas nunca os vi concretizados (nada, em todo o caso, que se assemelhe com a agressiva propaganda médica).
Mas a Texto Editora está muito, muito à frente: quando lançou o projecto Mission spéciale oferecia aos alunos três exemplares da revista "Allons-y". Este ano, fiquei perplexa pelo facto de os meus alunos não a terem recebido. Mandei um "mail" para a texto Editora e recebi em troca um de alguém da Leya que ignorava do que eu falava. Voltei a escrever para a Texto Editora, não responderam. Telefonei para a representante da Texto, expliquei o que se passava. Nada. A Ana Paula Fontão já tinha feito as mesmas diligências há uns anos atrás. Debalde.
Verifica-se, então, que a Texto ofereceu aquela revistinha apenas no ano lectivo 2006/2007. Não tendo escolhido o manual, não sei se as condições eram claras. Desconfio bem que não. Tenho a certeza de que as pessoas pensaram que a oferta se manteria durante a vigência do projecto. Felizmente que, no ano seguinte, adoptámos outro manual. E mais não digo, que para o ano já não trabalharei com ele. Conclusão e moral da história: com papas e bolos se enganam os tolos.

O crime da Livraria M****

Se a nossa Biblioteca tem uma política de aquisições que visa distribuir equitativamente as encomendas, nem sempre as livrarias usam da mesma lisura. Ora vejam: há anos, era eu representante do grupo de Francês, e fiz uma criteriosíssima encomenda de livros a uma conhecida livraria bracarense, especializada em livros escolares. Digo "criteriosíssima" porque o assunto foi ponderado e debatido por todos.
Quando a encomenda me chegou às mãos, verifiquei que não tinham mandado NENHUM, repito, nenhum dos livros encomendados. Tinham mandado todos os monos que havia na livraria. A escola, desconhecendo o teor da encomenda, pagou. Reclamei, reclamei, reclamei, mas não havia nada a fazer. Ainda hoje, quando passo pela prateleira onde estão os monos da Livraria M****, me arrepio toda. Roubaram-me como representante do grupo, como professora de Francês e como cidadã que paga os impostos que financiam as escolas deste país. E roubaram os alunos da escola, que nada lucraram com aqueles monos caríssimos.
Porque relembro esta história (este espinho) ocorrida nos anos noventa?
Porque ontem a Margarida estava a receber uma encomenda e lá estava uma bela quantidade de livros, vários dos quais monos, que não tinha pedido - e que a escola ia pagar. Chegámos à conclusão que o crime tem compensado. Ou acham que a Livraria M**** só faz isto na nossa escola?
Tantos cuidados com a política de aquisições e depois só dá vontade de ir comprar em multinacionais que, ao menos, não fazem de nós parvos... 

sexta-feira, 3 de junho de 2011

«Estávamos só a brincar»

Já não tenho tempo para desenvolver um dos temas dos dias que correm: a violência entre jovens. Fico católica: Deus nos livre e guarde dela. Mas sempre vos digo que me aconteceu várias vezes cá na escola ter de intervir para terminar brigas feias. E já me aconteceu apanhar um safanão involuntário. Não tenho memória de um caso, um único caso, em que os intervenientes não me tenham dito que estavam a brincar. Assustam-me tanto estas brincadeiras, como a ligeireza com que são encaradas. Mas, como já tocou, remeto-vos para quem sabe mais do que eu: é só clicar em http://projectopne.blogspot.com/2011/05/duas-contra-uma.html e ler.

Arte urbana, the real thing



Nem de propósito, foi esta semana lançado em Portugal um documentário/comédia inglês, intitulado "Bansky - pinta a parede!" Bansky é o nome de um tão misterioso quão famoso autor de pixagens... enfim, não que eu advogue os seus métodos. Mas as suas intervenções têm um sentido, e não pretendem (antes pelo contrário) deixar apenas uma marca no território.

"Les Bourgeois" dançados por Daniil Simkin

terça-feira, 31 de maio de 2011

Tiago A., o vândalo

Há dias, à vinda para a Biblioteca, deparei com um aluno, alto e espadaúdo, a escrever no topo norte-poente do bloco B. Nem preciso de vos dizer como se chama, está lá escrito. O bloco B estava tão limpinho... para quê grafitá-lo? O que ganha a escola com o sarrabisco que aquele nosso aluno do secundário entendeu escrever na parede?! É que nem sequer era um "tag" digno desse nome, nem sequer tinha a graça do "Psicopato" que insistia em sujar o portão da Escola Secundária D. Maria II, nem o carácter poético de alguns grafitos que apareceram nas imediações da rua do Raio, em Braga:


«Sinto que podia escrever o mar sob os nossos passos»

ou

«É só com sangue que se escrevem versos»

O Tiago A. não foi mal educado e tentou justificar o injustificável, alegando que o bloco ia ser pintado de novo por causa das obras. O que ele parece não saber é que se trata de um comportamento associado aos animais: marcar o território. Ainda para cima de forma efémera, criando uma inútil poluição visual. Isso há-de passar-lhe, como em "Les bourgeois", de Jacques Brel.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Que conto escolher?

Trouxe "Contos dos subúrbios" para a escola para poder passar um fragmento, mas não sou capaz de escolher um conto, uma citação. Na Sexta-feira tive a certeza de que iria transcrever (apesar da enorme perda que a não inclusão das ilustrações representa) o texto de "Chuva distante". No Domingo, tive de reler "Uma história do avô", igual à minha história de amor, a todas as histórias de amor. Na Segunda-feira condoí-me com o menino de "Correntes submersas" e prometi a mim mesma falar dele no Duas culturas. Na Terça, achei que o que tinha tudo a ver comigo era "Só neste país". Na quarta, pensei que a presença dos animais como seres dignos de humanidade era de realçar (adorei "Velório", enterneci-me com "Como fazer o seu próprio animal de estimação", fiquei suspensa de "A noite do resgate das tartarugas"). Ontem, estava a ver o telejornal e apareceu-me nítida a imagem dos mísseis customizados nos quintais ("Armados mas não alarmados"). Não sei. Leiam vocês e digam-me o que escolheram.

Comportamento suburbano

Provavelmente aprenderam isto nos "Morangos com açúcar", ou talvez tenham ouvido isto noutro sítio qualquer. A verdade é os nossos alunos parecem considerar que pedir desculpa de maneira mais formal - um "Peço desculpa" proferido com um ar falsamente deferente (que me parece a mim verdadeiramente irónico) - os iliba de toda e qualquer culpa, e lhes permite até recomeçar quase indefinidamente. E, se é verdade que acabo de o ouvir aqui na Biblioteca, dirigido a uma colega minha, é também verdade que eu própria já o ouvi. Ficamos interditos (não estamos muito habituados a que os nossos alunos sejam formais), abanamos a cebeça, continuamos. Mas o mal está feito. É o efeito surpresa.

"Contos dos subúrbios"

Juro, mas juro mesmo, que não fiz de propósito. Mas a verdade é que deixei à mão de semear um recorte do Expresso onde se falava muitíssimo bem deste livro escrito e ilustrado pela australiana Shaun Tan. O meu centro de recursos, a quem não escapa nada, ofereceu-mo na sexta-feira e eu passei duas horas deliciosas a lê-lo. Não fiz de propósito - mas valeu a pena. Às vezes esqueço-me de um livro que queria muito comprar, e cuja trajectória talvez nunca mais se cruze com a minha. No caso deste Tales From outer suburbia, seria uma grande perda.
Para além das ilustrações, não apenas maravilhosas, mas também - o que é mais raro - variadas, diferentes de conto para conto, fascinou-me a variedade de perspectivas de leitura que cada história encerra. Com efeito, elas podem ser lidas e interpretadas de forma diferente conforme a idade dos seus leitores. Garanto-vos que encontrei leitura "para adultos" num livro concebido para jovens (e esta talvez seja uma característica que atesta a qualidade da literatura para jovens e alunos...). E que me regalei, oh, se me regalei...

terça-feira, 24 de maio de 2011

Cusquices da sala de professores


É engraçado: ando há tempos para falar da Lisbeth Salander... vocês sabem, a protagonista da trilogia Millenium, aquela heroína improvável que, no entanto, figura num livrinho acerca dos heróis da literatura para jovens que o meu centro de recursos teve a gentileza de me oferecer?
Já andava eu a congeminar neste meu "post", quando ouço o Zé Tó a "evangelizar" a Maria José Carvalho. Que tinha dado com os livros Millenium por acaso, porque tem uma tia no Algarve e gosta muito de ir a uma livraria Bertrand onde uma das vendedoras lhe recomenda as últimas novidades. E o Zé Tó continuava: que eram fantásticos, mas que os direitos de autor estavam envolvidos em grande polémica... (fico-me por aqui, se não os meus colegas deixam de abrir a boca à minha frente).
Hoje, na sala de professores, fiquei a saber que a família Cruz, toda, os anda a ler. A febre do Milénio alastra pela escola. Porque não vêm, vocês também, requisitar um dos três livros desta saga pós-moderna?

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Professores à beira de um ataque de nervos





Na sala de professores só se fala de noites mal dormidas, de dores aqui e acolá, de um cansaço invencível. Por isso, ontem rimo-nos da Maria José, que veio para a escola com um pão muito bem embrulhado num guardanapo, primorosamente cortado... mas sem nada lá dentro. Rimo-nos, mas pensamos: «podia ter sido eu.»

Relatório & contas

Na Terça-feira só escrevi no "Duas culturas". Hoje também. Porque não dão lá um salto?
http://duasculturas.blogspot.com/

domingo, 15 de maio de 2011

Eu estou embeiçada, tu estás embeiçado, nós estamos "Embeiçados"



O som não é o melhor, mas foi a primeira vez, e foi em Vila do Conde, e eu não resisti. Se quiserem outra versão, vão à Net ou comprem o disco, que foi o que eu fiz.

A sugestão do costume

A sugestão para o fim-de-semana - que já vem atrasada - era a leitura do blogue http://letrapequenaonline.blogspot.com/...

Relatório & contas

Na sexta-feira os blogues estavam todos bloqueados. O meu computador avariou. Eu bloqueei e desconfio que também avariei. Dependências...

terça-feira, 10 de maio de 2011

Desgostos que a Biblioteca nos dá

A Biblioteca acolhe iniciativas, mas nem sempre fica satisfeita com o resultado. A Ana Margarida anda tristíssima, pois tem feito dezenas de sessões, e mesmo assim os alunos fazem (e expõem) trabalhos sem respeitar as normas bibliográficas. De facto, os alunos do nono ano de escolaridade fizeram trabalhos acerca do 25 de Abril, mas "esqueceram-se" de indicar as fontes consultadas, identificar os autores das imagens, etc. Tenham dó da Ana Margarida e vão lá colocar as indicações em falta...

Pancadas de Molière na Biblioteca da ESVV

Na quinta-feira acompanhei os alunos do 7º A à Biblioteca. Fomos assistir ao ensaio aberto de algumas cenas de Leandro, rei da Ilíria, de Alice Vieira. Gostámos muito de ver a Manuela do 7º B e a Catarina do 7º B desempenhando o papel de princesas. Embora não tenha havido as famosas pancadas que dão o título a este texto e que tradicionalmente anunciavam o início de uma representação teatral (os contentores iam "estremecer" todos), a sessão cativou-nos a todos. O bobo conseguiu que a audiência lhe respondesse e que cantasse em coro parte do seu recitativo. Foi muito interessante, e estamos à espera de novo convite. A companhia Verdemcena está a dar que falar!

A escola é nossa

Uma das vantagens de estarmos em obras, é que quando está bom tempo os alunos se sentam nas plataformas relvadas. Gosto muito de os ver por lá. O espaço é para se usar, e fazia-me confusão (a mim que passava tardes inteiras a ler no Jardim Botânico do Porto) que os alunos não fizessem uso dos nossos belos relvados. Agora sim!

Relatório & contas

Na sexta-feira, mandaram-me fazer uma vigilância. Fui.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Da inveja, de uma imensa e profunda inveja

Na interrupção da Páscoa, fui à Escola Básica 2,3 de Viatodos com uma amiga que estava a preparar uma exposição. Como sempre nestas alturas, o clima era de efervescência e andava tudo em bolandas. Aproveitei para deambular por ali e, quando consegui falar com a minha amiga, perguntei-lhe se a escola tinha sido intervencionada. De facto, embora fosse igual a muitas das escolas onde trabalhei, aquela era diferente: limpíssima. As estantes de pinho como as que temos cá na escola não tinham uma escanadela, estavam enceradas, com o conteúdo dos expositores em perfeita ordem. Havia armários recuperados, outros aparentemente desenhados de propósito: o lavatório da cantina, a bancada do quarto de banho feminino... A biblioteca tinha um aspecto óptimo, embora não padronizado. Os jardins, simultaneamente elegantes e displicentes, pareciam exigir uma manutenção mínima (aparentemente inspirados nos jardins "à inglesa").
A sala de professores, misturando mobiliário igual ao nosso com outro (heteróclito mas cuidado), tapetes, quadros de bom gosto, intrigou-me particularmente. Não conseguia perceber se a Parque Escolar tinha andado por ali ou não. Parecia-me que não, mas nunca tinha visto tanto gosto e aprumo num estabelecimento de ensino público.
A minha amiga riu-se de mim. Que não, que a escola não tinha tido obras. Mas tem um professor encarregado pela manutenção que zela cuidadosamente pot todos os espaços. Contou-me até um episódio em que ele estipulou um prazo para os colegas arrumarem os seus pertences. No dia combinado, tudo o que não tinha sido removido ou arrumado foi para o lixo: livros, papéis importantes, recibos, bilhetes de avião, tudo!
Contei tudo isto a um meu amigo arquitecto. Por coincidência, a tia dele trabalhava em Viatodos e ele também lá tinha ido. Contou-me que muitos dos móveis que me tinham encantado tinham sido comprados em lojas de segunda mão e recuperados.
Conclusão e moral da história: a arte está em fazer omoletas com ovos de codorniz.

Assim saibamos nós, que vamos receber uma escola novinha em folha, de um gosto irrepreensível, mantê-la cuidada, com um aspecto limpo (no sentido de "clean"), sem arrebiques nem ademanes.

Os nossos filmes

À terça-feira costumo trazer um filme de casa para a eventualidade de ter de fazer uma substituição sem plano de aula. Graças a um mal-entendido, descobri que o Cruz já tinha passado na semana passada o filme que eu trazia. Enquanto esperava para o "render" às 9h10m, fui à Biblioteca buscar outro. Fico sempre espantada com a quantidade e a qualidade dos filmes que lá temos. Ai... 9h7m. Ala, que se faz tarde!

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Furto na ESVV

No penúltimo dia de aulas, eu e Cláudia desencaixotámos o material da falecida sala C1, limpámos e arrumámos os armários e, no fim, colocámos nas paredes posters que nos foram oferecidos por "Offices de tourisme" franceses. Ficámos cansadas, mas contentes. Ontem (segundo dia de aulas) tivemos novamente aulas na sala M9. Mas já faltavam dois posters.
Eu sei que eles são lindos. Eu sei que eles "falam" francês. Mas são nossos: fomos nós que redigimos as cartas, que as mandámos para França e que ficámos ansiosamente à espera de resposta - e olhem que nem sempre nos responderam. Fomos nós que pedimos Blutak à sra. D. Maria da Paz, que pensámos onde havíamos de os colocar, que tentámos fazer dos contentores um local mais agradável para trabalhar. Por isso, vimos por este meio pedir que os furtados posters - novos e franceses - os ponham na sala M9. Para que não aconteça como no famoso poema de Nicolau Tolentino:




«O colchão dentro do toucado

Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a mãe ordena,
Que o furtado colchão, fofo e de pena,
A filha o ponha ali, ou a criada.


A filha, moça esbelta e aperaltada,
Lhe diz co'a doce voz que o ar serena:
"Sumiu-lhe o colchão, é forte pena;
Olhe não lhe fique a casa arruinada."


"Tu respondes-me assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos?" E dizendo isto,


Arremete-lhe à cara e ao penteado;
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado.

Relatório & contas



Amanhã não haverá nada para dizer, pois tenho de fazer uma vigilância. Não faz mal: andava com complexos de culpa por não ter dito nada acerca do dia 26 de Abril, data em que se lamenta a morte de Mário de Sá-Carneiro. Assim, faço os meus avisos à navegação, redimo-me e deixo-vos um seu poema, esplendidamente musicado e interpretado por Adriana Calcanhoto. Quanto a mim, uma boa versão: gosto da forma como as sílabas se prolongam até ao limite do sustentável.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Uma história de amor e de trevas

Mas, antes de A máquina de fazer espanhóis (menor e menos pesado, por isso mais apropriado ao tempo de aulas), li Uma história de amor e de trevas. Eu, que sempre me queixei de não perceber o conflito israelo-árabe (senão nos traços gerais), fiquei com uma visão muito mais nítida desta eterna pedra  do sapato da paz mundial. Fiquei também a conhecer o escritor Amos Oz, a sua história e a da sua família. Já percebi que não descanso enquanto não pedir emprestados mais livros dele. Para tão longas leituras tão curta a vida...

O prazer de (re)ler

Apesar de estar muito estremunhada (comecei a ler A máquina de fazer espanhóis e tive dificuldade em parar), ao chegar à escola lembrei-me imediatamente que não tinha falado das nossas iniciativas (mais concretamente: das iniciativas da Ana Margarida Dias) da última semana de aulas. Foi graças a elas que tive o prazer de reler O meu pé de laranja lima, de ouvir professores e alunos a ler passagens de livros da colecção «Braga, cidade bimilenar» e de ler quase todo o Principezinho aos meus alunos de sétimo ano de escolaridade. Achei muito engraçada a forma como os livros andavam de mão em mão, como as pombinhas da Cat(a)rina.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Um castigo na biblioteca



Durante as fé... a interrupção, pensei muitas vezes que tinha deixado o blogue suspenso num comentário algo desagradável. A verdade é que o segundo e terceiro parágrafos de «Os alunos gostam da Biblioteca, a Biblioteca é que nem sempre gosta deles» espelham uma situação excepcional, um castigo na Biblioteca. E, embora saiba que a minha opinião não é consensual, discordo de castigos que envolvam livros e Bibliotecas. Com efeito, para além da associação a algo desagradável, o castigo é para quem está na Biblioteca e não para quem o passa ou para quem o sofre.

Como canta José Afonso nesta canção, à Biblioteca «Seja bem-vindo quem vier por bem».

O 25

REVOLUÇÃO

Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta


Como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício


Como voz do mar
Interior de um povo


Como página em branco
Onde o poema emerge


Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação
 
(Sophia de Mello Breyner Andresen)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Os alunos gostam da biblioteca, a biblioteca é que nem sempre gosta deles

Hoje, como sempre na última semana de aulas, a Biblioteca está um inferno: entram alunos às revoadas para requisitar filmes, "fazer" trabalhos, imprimi-los. Tudo muito depressa, muito depressa, que é para entregar ao (à) professor(a). Muito depressa, muito depressa, muito na última, muito na última.
A (sra.) D. Lúcia é "Ó dona" ou nem isso. Os pedidos são ordens: «Dê-me (ou "deia-me") a fita-cola».; «Quero imprimir, venha cá». As vozes são altas e alteradas. Ouvimos histórias que preferíamos não saber. Réplicas ásperas, grosseiras, boçais. Palavrões proferidos com ligeireza.
Tento alhear-me. É o mundo em que vivem e, aparentemente, não conseguimos explicar-lhes que podem fazer o que quiserem com a vida privada, mas que a escola, como mais tarde o trabalho e parte da vida social, tem outras regras. Tenho pena dos jovens - não todos, felizmente - a quem a escola e a família não conseguem, em conjunto, incutir códigos e comportamentos conforme o local em que se encontram e conforme os interlocutores.

Um carro perfeito

Adoro Fiat 500, talvez porque tive em tempos um Fiat 600 lindíssimo. Na quarta-feira, logo à saída da escola, ia um à minha frente. Fiquei encantada: era novinho, branco, brilhava ao sol. Perdi-o no entroncamento e só voltei a vê-lo, já parado, na variante. Ao passar, o vidro abriu-se e uma mão manicurada estendeu-se. Olhei, a ver se alguém estava em dificuldades. Mas não: era só para deitar um lenço de papel no chão.

A escola não serve para nada!

Trancrevo, sem mais comentários, este texto de Nuno Crato, publicado no Expresso de 2/4/2011 com o título «Heroínas dos Tsunamis»


«Não há registo de algo semelhante se ter passado no maremoto que há semanas devastou o Japão; mas quando o tsunami de dezembro de 2004 varreu as costas do Índico, houve uma jovem de 10 anos que salvou centenas de pessoas. Chamava-se Tilly Smith, tinha vindo de Oxshott, nos arredores de Londres e estava numa praia da Tailândia, em férias com os pais. Viu o mar esvaziar-se e os barcos agitarem-se nas águas, que se afundavam. Percebeu, pelo que tinha aprendido na escola, que esse movimento prenunciava o avanço de uma onda gigantesca. Avisou os pais, avisou todos os que estavam próximos e fê-los recuar a zona segura. salvou muitas vidas.
Passados anos, em setembro de 2009, passou-se algo semelhante no Pacífico. Uma jovem neo-zelandesa chamada Abby Wutzler, também com 10 anos, proveniente de Welligton, uma cidade tão acidentada que faz as colinas de Lisboa parecerem uma planície alentejana, defrontou-se com um recuo do mar numa praia de Samoa, onde estava de férias. Avisou os pais, avisou os turistas que se encontravam perto e de novo salvou muitas vidas.
Na altura, achei estas histórias curiosas. Mas o filósofo Fernando Savater, que recentemente esteve entre nós numa conferência organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, fez-me ver as coisas de outra maneira. Estas jovens são heroínas do conhecimento, explicou. Elas viviam em zonas onde a identificação de tsunamis é virtualmente inútil. Mas usaram uma sabedoria que nunca sonharam poder vir a ter utilidade prática. E usaram-na por uma única razão: por que a tinham adquirido.
Fernando Savater falava sobre «O Valor de Educar, o Valor de Instruir» e usou estas histórias para mostrar como as aplicações do que se aprende são, muitas vezes, inesperadas. Se as jovens se tivessem recusado a estudar tudo o que se relaciona com tsunamis, pois são fenómenos que não as afectam nas suas localidades, jamais teriam tido possibilidade de salvarem a sua vida e a de outros.
Esta história deveria ser contada em todas as escolas. Sabemos como, muitas vezes, os alunos protestam contra a pretensa falta de utilidade do que aprendem; (...) Mas há muito conhecimento que não tem utilidade prática imediata e não podemos limitar o ensino por esse espartilho. Quando os alunos protestam dizendo que não vêm utilidade no que aprendem, estão na realidade a protestar por não estarem a perceber as matérias em causa. Quantas vezes nos deleitamos com conhecimentos aparentemente inúteis, mas que nos fascinam?As ideias antiquadas de Spencer e dos seus seguidores continuam a perverter o sentido do ensino. Na escola e na vida, o saber deve valer por si. Mesmo que a sua aplicabilidade seja tão remota como a de jovens de 10 anos salvarem a família de um tsunami.»

terça-feira, 5 de abril de 2011

Uma mulher singular

A verdadeira Séraphine de Senlis:




Do que vi do filme, impressionaram-me duas coisas: a ligação visceral de Séraphine à natureza, encarnada não apenas na árvore (de que não possuo fotografia ilustrativa), mas também na forma como faz as suas próprias tintas; e a entrega com que Yolande Moreau interpreta esta mulher fisicamente alheia a qualquer forma de beleza e requinte. Tudo isto sem histrionismos.

Uma árvore singular

O poema de Giánnis Ritso tem estranhas reverberações, como esse meio-dia que dura o dia inteiro, como esse sol que inunda o texto antes de nos inundar a nós, como esse obrigado que perdura no tempo. Como essa mãos queridas. Como a vontade de plantar milhares de árvores.
Mas gostaria de lhes falar de uma árvore que vi num filme que não vi (refiro-me a "Séraphine", que passou na RTP2 num Sábado muito cansativo).

Séraphine, essa pintora francesa improvável e perturbada, tinha por hábito colocar-se debaixo dessa árvore que, por si só, é um poema.



A árvore do dia

MEIO DIA



O sol aqui não brinca – furioso sol, omnipotente,
com suas sobrancelhas unidas, seu queixo quadrado,
com seu tronco peludo nu até ao mar.



Um mês, dois meses, muitos meses –
contámo-los carregando ao ombro a pedra e o medo,
dando estalos com o nó dos dedos no bojo do cântaro
para escutar o som da água
como escutamos por detrás da porta a voz da mulher
como escuta a mulher a voz até da mais pequenina estrela
como escuta a estrela o balido do entardecer.



O meio dia é sempre muito grande
como um Domingo no campo sem crianças
– de manhã à noite dura o meio dia.



Se tivéssemos menos sede não pensaríamos nisso,
se houvesse uma árvore numa encosta ou no cume da ilha,
se houvesse um punhado de sombra, menos amargor, menos injustiça.



Não recordamos a forma da árvore – será acaso
como uma grande bandeira de água?
será como um obrigado que alguma vez te disseram?
será como uma mão querida que encontra a tua mão?



Depois de amanhã plantaremos milhares de árvores.



Giánnis Ritsos

sexta-feira, 1 de abril de 2011

GPS para o acordo ortográfico

Na quarta-feira assisti, conjuntamente com professores e funcionários da ESVV, a uma sessão acerca do acordo ortográfico. Intervieram os professores de Português Ana Paula Matos, Ivone Cunha e Custódio Braga. Embora de curta duração (apenas uma hora), a sessão foi muito esclarecedora. Não me pareceu que ninguém tivesse ficado dúvidas (talvez nos hífens), mas ficámos todos a saber que, se tivéssemos dificuldades, podíamos consultar os seguintes sítios:

http://www.portaldalinguaportuguesa.org/?action=acordo

http://www.portaldalinguaportuguesa.org/?action=lince

Como combater as profecias auto-realizáveis

Ainda mal tinha chegado a esta escola de alunos mais velhos do que ela, e já a P. C. dava um exemplo de organização: sem que ninguém lhe tivesse dito nada, imprimiu os conteúdos do teste, deixou espaço para exemplos e ainda se ofereceu para dar cópias aos colegas.

Profecias auto-realizáveis

Nas minha aulas de Francês, deparo frequentemente com este fenómeno. A C., por exemplo, entrou na minha primeira aula a dizer que não gostava de Francês. O C., o F. e o D. fazem questão de não estar atentos nas aulas. Depois, se tirarem negativas, está tudo explicado: não tiram positiva porque não querem.
Sem querer cair na psicologia de meia-tigela, a mim parece-me isto tudo um disparate. Pois se estão na escola e podem aprender alguma coisa (seja ela qual for: matemática, cerâmica, geografia, ciências, química) por que motivo não aprendem? Se já agora parecem lidar mal com o fracasso (porque, digam o que disserem, esta é uma forma camuflada de dizerem que não são capazes), o que não sucederá mais tarde, quando confrontados com a sua ignorância (em tempos de escolaridade obrigatória)?

A árvore do dia

A árvore do dia foi-me enviada ontem à noite pelo meu centro de recursos. Acerta sempre: nos presentes, nos poemas, no tom e em tudo o mais. Acontece que eu estou adoentada e, por isso, levei a noite a ler Uma questão de beleza, de Zadie Smith. Estava a achar tudo aquilo muito familiar, quando me lembrei de Howards End, de E.M. Forster. É mesmo isso. E de repente tive uma imensa nostalgia dos tempos em que não precisava de insónias para ler.
E qual é a ligação com o poema que me enviou o meu centro de recusos? Literatura de língua inglesa, em que eu já fui relativamente versada. D.H. Lawrence, que me deu tanto prazer ler...
Ei-lo, o poema:

«DA JANELA DO COLÉGIO

O esplendor das tílias pesadas de sol e adormecidas
Chega até mim, vacilante, e sobe a parede do Colégio.
Em baixo, o relvado, sob a sombra azul e suave, mantém
A espuma silenciosa das margaridas em amena escravidão.


Para lá das suas folhas suspensas sobre a rua,
Na calçada de lajes varridas e de um branco estival,
Há a multidão que com sombras a seus pés
Caminha de um lado para o outro.


Distante, ainda que oiça a tosse do pedinte,
Vejo os dedos cintilantes da mulher a dar-lhe uma esmola.
Estou sentado, sem culpa e certo de ser para mim melhor
Ficar longe de um mundo a que nunca me hei-de juntar.»

 Um poema tão estival, tão apropriado a este tempo... tenho de me pôr boa.