segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Um beijinho, dois beijinhos, zero beijinhos

Há uns anos, pessoas que se cumprimentavam com dois beijinhos (num movimento que ia da esquerda para a direita) passaram, subitamente, a dar apenas um beijo.
Pensando no assunto, achei que tinha lógica (um é o suficiente e evitam-se hálitos menos frequentáveis).
No entanto, dado que:
1) sou um tanto conservadora;
2) o "um beijinho só" vinha envolto num halo de elegância (para não dizer "vontade de se distinguir dos demais", vulgo "arrogância");
3) gosto de ser fiel a mim mesma
- decidi manter os dois beijinhos da (minha) praxe.
Claro que isso me valeu alguns movimentos em falso, de cara ao dependuro. Até ter decorado quem dava só um. Era fácil: um tio meu que SEMPRE o fez e uma escassa meia dúzia de amigos. E ainda, em pessoas "do sul", o comentário pseudo-explicativo: "Ah, pois, é um hábito cá do Norte".
"Mais um episódio da longa e caricata lista da «snobeira» à portuguesa", pensava eu, desmontando com maior ou menor mestria o argumento.
Mas agora sou eu própria que venho defender, tal como os reitores das Universidades portuguesas, o "zero beijinhos", a vénia ou o sorriso. Inicialmente, pensei: "Como os japoneses". Depois, lembrei-me que pratico a vénia e o sorriso, sem qualquer constrangimento, com os meus vizinhos (mudei-me recentemente para esta zona) ou com conhecimentos superficiais.
Vai custar-nos muito, a nós, tão mediterrânicos, tão exuberantes, tão beijoqueiros, a habituar-nos a este cenário de crise. Mas, como dizia o outro senhor, "é a vida".

sábado, 1 de agosto de 2009

Mentiras que parecem verdades

Nas minhas incursões musicais e televisivas, "deu-me" para pensar em dois títulos, correspondentes a duas canções e a dois filmes, que aludem a diamantes. São eles "Diamonds are a girl's best friend" e "Diamonds are forever". De certa forma, embora só um dos títulos aluda a raparigas, ele surge subliminarmente no segundo, sendo o título de uma canção e de um filme do James Bond. Acho eu. Corrijam-me, se estiver enganada.
Ora eu tenho algumas prevenções prévias contra diamantes (tenho o pressentimento, para não dizer outra coisa, de que eles estão na origem de muitos banhos de sangue, exploração do homem pelo homem e horrores que tais) e contra raparigas cujos melhores amigos são... diamantes.
O que acontece é que certas coisas (como também as peles ou as madeiras exóticas) nos surgem envoltas de tal brilho (eu ia escrever "glamour", mas hoje tenho abusado dos anglicismos...) que nos esquecemos do que está por detrás delas. E que é, frequentemente, um rasto de sangue ou de floresta destruída. Valerá a pena? Só para quem tem a alma pequena.

Férias, que vos quero, férias

Aproveitei este tempo de descompressão para ver televisão, ouvir música, ir ao cinema, ler e, "the last but not the least", estar com os amigos.
Gostaria de lhes falar de uma curta-metragem francesa premiada no Festival de Vila do Conde, "Logorama", que até assusta por pôr em cena, apenas, personagens extraídas da publicidade. Um filme de terror em vários sentidos: por encenar uma violência "à americana", mas também porque demonstra até que ponto o nosso imaginário é parasitariamente povoado por marcas, logotipos, spots, caricaturas.



Também lá vi (antes de chegar a Braga, vitória!) o novo filme de Jim Jarmusch, "Os limites do controlo". Li no Expresso uma crítica engraçada mas desfavorável, com a qual discordo em absoluto. Apesar de cansada (o filme começou tarde e eu sou uma respeitável cidadã, habituada a levantar-se, o mais tardar, às sete da matina), li nele uma eficaz acusação à crise que atravessamos e que o realizador atribui (diria eu) aos economistas e financeiros que nos enganaram a todos e depois se refugiam em "bunkers" altamente vigiados. E como é que o kamikaze, admiravelmente representado por Isaach de Bankolé, consegue iludir a vigilância? A resposta é lapidar: "I used my imagination."
Como quem diz: podem tirar-nos tudo mas não estão a salvo. Nunca estarão a salvo, quando aniquilam tudo e todos em seu redor. Estou moralista? Pois estou.