terça-feira, 5 de abril de 2011

A árvore do dia

MEIO DIA



O sol aqui não brinca – furioso sol, omnipotente,
com suas sobrancelhas unidas, seu queixo quadrado,
com seu tronco peludo nu até ao mar.



Um mês, dois meses, muitos meses –
contámo-los carregando ao ombro a pedra e o medo,
dando estalos com o nó dos dedos no bojo do cântaro
para escutar o som da água
como escutamos por detrás da porta a voz da mulher
como escuta a mulher a voz até da mais pequenina estrela
como escuta a estrela o balido do entardecer.



O meio dia é sempre muito grande
como um Domingo no campo sem crianças
– de manhã à noite dura o meio dia.



Se tivéssemos menos sede não pensaríamos nisso,
se houvesse uma árvore numa encosta ou no cume da ilha,
se houvesse um punhado de sombra, menos amargor, menos injustiça.



Não recordamos a forma da árvore – será acaso
como uma grande bandeira de água?
será como um obrigado que alguma vez te disseram?
será como uma mão querida que encontra a tua mão?



Depois de amanhã plantaremos milhares de árvores.



Giánnis Ritsos

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