Hoje sonhei que a Sandra tinha tirado zero no exame. De manhã comentei com a Fá como a atitude dos meus alunos que este ano foram a exame me preocupa: com honrosas excepções, a despreocupação reinou até ao momento de a prova começar. Dois anos de trabalho, nem sempre correspondido. Aulas de preparação para o exame a que apenas um aluno comparecia.
A Fá comenta: "No nosso tempo..." No nosso tempo, nós - éramos poucos. Tínhamos objectivos. Mas também havia outros, para quem tudo era uma galhofa pegada. Que talvez troçassem de quem se preocupava. Onde estão eles agora? Certamente que não sonham que alunos seus tiram zero no exame. Continuarão felizes? E eu, não sou feliz? Ao contrário das personagens de Robert Yates, não me vejo (a maneira como nos vemos é o mais importante, embora possa não corresponder à forma como OS OUTROS nos vêem) como alguém que ficou aquém, que esteve quase lá, que não chegou, não foi capaz, não enveredou pelo caminho certo, não ousou. Sonhei-me professora, eis-me professora. Não me quis tíbia, não creio que o seja. E, no entanto, fico frustrada quando corrijo vezes a fio os mesmos erros. Quando escrevo conselhos que são ignorados uma e outra vez, dezenas, centenas de vezes. Distracções, asneiras, imprecisões que, estou certa, repetiram no exame.
Acarreto há anos a mesma pedra, e nem sempre a consigo levar até ao topo. No ano seguinte, ela volta a deslizar para a base. Carrego-a penosamente. Como será a pedra da Clementina que vende na feira, a pedra do Joaquim que trabalha numa loja de ferragens, a pedra do Bernardino que é lavrador, a pedra da Inês que trabalha nos serviços municipalizados? A pedra do Carlos, que herdou uma agência funerária? A pedra do Augusto, tão "cool", agora a trabalhar numa empresa? Não sonham que os alunos tiveram zero no exame... com que sonharão eles?
A Sandra não teve zero no exame. Aliás, nenhum dos alunos internos teve zero no exame. Ufff...
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