sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O acordo ortográfico e nós




No dia quatro de Dezembro, por iniciativa da Rede das Bibliotecas Escolares do concelho e o apoio da Biblioteca Pública de Vila Verde, realizou-se uma sessão acerca do acordo ortográfico. O enquadramento histórico foi feito por Custódio Braga, coordenador do departamento de línguas da Escola Secundária de Vila Verde (ESVV). Os princípios que lhe subjazem foram apresentados por Ana Paula Faria Matos (professora de Português da ESVV) e a parte prática foi demonstrada por Odete Duarte (professora de Português na Escola EB 2,3 Amaro Arantes, e também ex-professora desta escola).

A sessão correu optimamente, com palestrantes muito diferentes mas igualmente eficazes. Igualmente diferentes eram os participantes, porque vi lá, para além de professores de Português e bibliotecários da rede de bibliotecas, professores de Matemática, de Geografia e de Físico-Química da nossa escola (podia haver mais "infiltrados", mas não os conhecia). Pareceu-me um excelente sinal, esse interesse que ultrapassou as barreiras de um Sábado de manhã frio e enevoado. Coisas que se fazem ou a que se assistem, não pelo creditozinho, mas pelo seu interesse intrínseco, e pelo interesse pedagógico estrito (no caso dos professores de Português) ou alargado (outros professores).


terça-feira, 14 de dezembro de 2010

As campanhas da EDP


Eu não vi, mas contaram-me: no fim-de-semana a EDP fez uma grande campanha em Braga, na Avenida Central. Davam mochilas e T-shirts (a troco de um euro). O povo acorria, esquecendo-se de que pagou aquilo tudo (um euro+parte da factura da electricidade). Depois, a EDP patrocinou uma caminhada contra o cancro. E o povo marchou por uma boa causa. Mas que causa?! O cancro, uma causa de entre todas consensual? Que efeito concreto terá a caminhada tido no combate ao cancro, no desenvolvimento dos tratamentos e cuidados paliativos a doentes com cancro?
Cheias de boa fé, ostentando os "gadgets" e a publicidade da EDP, as pessoas caminharam tanto pelo cancro como pela EDP... quiçá as mesmas que subscrevem abaixo-assinados contra a factura mensal. As que protestam contra ela. As que mal a podem pagar.

O "shopping" do sótão, a cave do sótão

Como voltei a ouvir a TSF, ultimamente dou comigo a ranger os dentes com uma campanha publicitária da EDP (no 11º ano de francês estamos numa unidade que se chama, justamente, "sedução/manipulação").
A EDP, a quem quase todos pagamos a electricidade (acho que se assemelha ao que estudávamos em História sob o nome de "trust") foi recentemente posta em causa pela Deco. O protesto alastrou na Internet e, agora, a EDP está a fazer uma campanha de charme. Na TSF massacram-nos com a caridadezinha do "shopping do sótão". Em traços gerais, a ideia é a seguinte: nós livramo-nos do que não precisamos. Somos bonzinhos e arrumadinhos. A EDP fornece o armazenamento (locais não lhe devem faltar, digo eu, "bá"). Uma vez que têm o apoio de uma associação de voluntariado, ponho-me a imaginar que a campanha será a custo zer... baixo. Mas a publicidade, oh, essa, é de monta. Nós damos, os outros recolhem, a EDP armazena e dá aos pobrezinhos. Suspeito até que os custos da campanha radiofónica serão mais elevados do que os custos da campanha propriamente dita... Como se diz na minha terra, "dou um presunto a quem me der um porco". Mas eu sou só uma professoreca.


E lembrem-se: como não há má publicidade, sou inimputável.

Antena 2

Durante anos, fui uma fiel ouvinte da TSF. Abandonei-a há alguns anos em prol da Antena 2. A qualidade musical tinha decaído, os noticiários repetiam as mesmas coisas até à exaustão, o fórum TSF permitia comentários populistas e demagógicos. Entretanto, a Antena 2 começou a emitir bons noticiários (claros, concisos, não entremeados de publicidade) a certas horas, a música era muitíssimo melhor, à noite passavam dois programas de jazz, havia entrevistadores muito bons (não apenas o já mencionado Luís Caetano, mas também, por exemplo, João Almeida). Paulo Alves Guerra entremeia informação com boa música, bons poemas, referências culturais inspiradoras, Pedro Malaquias é um cronista de espírito alerta e língua afiada. Aos Domingos há um programa sobre língua e cultura portuguesa... enfim: muito boas razões para me mudar de armas e bagagens para a Antena 2.
Claro que eu acho que há um senhor que, padecendo de teorite da conspiraçãozite intermitente, tem demasiado tempo de antena, sendo o seu programa reemitido em horários diferentes (ao contrário do que sucedeu com o meu querido "Um certo olhar", que passava à sexta e ao Domingo e, a certa altura, foi relegado para apenas uma emissão ao domingo a uma hora assaz matinal). Claro que havia uns concertos comentados por uns jovens com ar (tanto quanto uma voz pode ter "um ar") imberbe e comentários imaturos. Claro que a TSF continuava a ter o Carlos Vaz Marques e outros cujo nome não recordo. Mas a Antena 2 fazia-me crescer mais.
Agora, porém, dei por mim a cometer adultério: de manhã, das 8h às 8h20m ouço a Antena 2, mas das 13h40m às 14h ouço a TSF. Menos às sextas...

Coisas de futebol

É feio apontar, mas quem pode criticar um treinador por fazê-lo?
O mesmo não diria acerca do hábito de cuspir para o chão, quase completamente erradicado do Portugal dos anos oitenta e noventa (à excepção de algumas pessoas de idade que, obviamente, não tinham aprendido as mais elementares regras de higiene). E, de repente, dizem que por causa do futebol, começou a ver-se gente com ar normal (cuspir NÃO é normal) a fazê-lo.


Mas tudo isto vem a propósito de eu ter "ouvido claramente ouvido", o treinador Jorge Jesus dizer o seguinte a um repórter: «Não quero entrar em especulações, porque isso era estar a especular."

O senhor tem razão, não serei eu a contrariá-lo...

domingo, 5 de dezembro de 2010

Perspectivar

Não há como uma causa maior para nos ajudar a perspectivar as embirrações menores. Ando eu para aqui a embirrar com cartões vestidos de "lingerie" e com passeios perigosos e eis que deparo com um atentado à liberdade de opinião e ao espírito crítico.




Não sei se já o disse, mas ao Domingo, invariavelmente, ligo o despertador para as dez para ouvir o programa "Um certo olhar", emitido na Antena 2. O entrevistador é Luís Caetano e os participantes são Maria João Seixas, Luísa Schmidt e Miguel Real. Esta é a última formação, pois, à excepção de Luís Caetano e Maria João Seixas, os restantes intervenientes foram mudando. Gostei particularmente da fase em que entrava Vicente Jorge Silva, independentemente de concordar ou não com as suas opiniões. A sua verrina e as disputas memoráveis com Maria João Seixas deixaram-me saudades.

De Luís Caetano apenas posso dizer que é irrepreensível. Quanto a Maria João Seixas, nem sei por onde começar. Nem sempre concordo com a senhora (também, era o que mais faltava...). Uma vez, inclusivamente, discordei tanto de uma posição que tomou acerca dos professores que escrevi um "mail" a dizê-lo. Liberdade de opinião é isto. O pior é quando não há nada do que discordar, como acontecerá se o programa for eliminado da grelha da Antena 2.

Poder-lhes-ia dizer que Maria João Seixas me ajudou a formar, enquanto ser pensante e questionante, enquanto telespectadora e cidadã, enquanto (proto) cinéfila e leitora. Não perdia um único dos programas que fazia na televisão e uma vez, com algum sacrifício (material e pessoal) desloquei-me a Serralves para frequentar uma Comunidade de leitores que dirigiu. De alguma forma, à distância, considero-a uma mentora.
Durante anos, li os artigos que Luísa Schmidt foi publicando, com maior ou menor regularidade, no Expresso, bem como uma interessante série de documentários que fez para a RTP. Embora, por formação familiar, fosse uma temática importante para mim, o que com ela aprendi foi consolidando o que já sabia e pensava.

Não quero crer que seja a liberdade de opinião que estas pessoas (e as que as antecederam) demonstram frente aos microfones que ditou o fim do programa. Mas que a Antena 2 perderá ouvintes e que o país ficará mais pobre de muitos pontos de vista, nisso creio firmemente. E continuarão os mesmos fazedores (e manipuladores) de opinião do costume a escrever e a discursar de cada vez mais tribunas, até à opinião única final. A solução final.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Poupar com estilo (ou: conversa estragada)

Num dos textos que escrevi hoje (o facto de estar doente põe-me, decididamente, verrinosa) aludi à propaganda (processo que, aliás, foi utilizado de forma maciça na I e II Guerras Mundiais).
Agora, a propósito do famigerado (atenção, que famigerado só quer dizer famoso) cartão caixa Woman, apetece-me falar de publicidade. Aproveito para esclarecer que não há má publicidade, o que significa que, se alguém me lesse (ninguém me lê), o cartão caixa Woman teria mais publicidade (não terá).
Acontece que o cartão inclui uns maravilhosos "mails" que são dignos de análise detalhada. Além de demonstrarem à saciedade que os criativos que conceberam a campanha nos consideram umas tontinhas, vá lá, capazes de ganhar algum dinheirito - mas ainda mais capazes de o gastar sem se questionar.
Por exemplo: eu, pessoalmente, não sou a "cara amiga" de ninguém na Caixa Geral de Depósitos. Antes pelo contrário. Ou terei um amigo secreto? duvido...
De forma no mínimo paternalista, uma das missivas dirige-se-nos da sequinte forma: «Já reparou naquela bela écharpe na loja em frente ao escritório? E nas "escapadelas" de Outono que a agência de viagens do lado lhe propõe? Uma tentação, não é?».
Com o cartão (de crédito, supõe-se), podemos comprar casacos novos, frequentar spas, ir ao cinema, oferecer à nossa "cara metade" uma escapadela romântica... e poupar. Não é tão giiiiro? Os criativos chamam a isso "poupar com estilo". Mesmo, mesmo, mesmo giro. Se não desse vontade de chorar.

"Lingerie" para porta-moedas




Tenho uma vergonha imensa do meu cartão CaixaWoman.

E não, não é só porque o de débito é, do ponto de vista estético, de gosto muitíssimo duvidoso (aqui entre nós, que ninguém nos lê, imita "lingerie" feminina. Cor de champagne, perdão, champanha, perdão, método champanhês.

O de crédito (por favor não comentem) imita "lingerie" preta. Não sei se estão a ver. Alguém (eu diria um homem, mas estou a ser preconceituosa) achou giríssima a ideia de vestir (ou despir?) um cartão com rendas "tipo lingerie". Brrrrrrrrrrrr....

Não, o pior será talvez chamar-se "Woman". Para mim, duplamente irritante: porque é só para mulheres (mulherzinhas, fraquinhas, tontinhas, burrinhas - e, sem dúvida, futilzinhas), assim uma sub-espécie da humanidade. E porque é em inglês. O mais giro é que, se usarmos o de crédito como eles sugerem, ou sejam, separando a parte inferior, no estrangeiro a coisa fica... preta.
Perguntar-me-ão: mas então porque é que aceitaste ter um cartão Caixa Woman? Primeiro, porque as condições que ofereciam me pareciam aliciantes (mas resisti, resisti oito ou nove meses). E depois, porque uma gentil funcionária da Caixa, algo perplexa com as minhas objecções, me disse que também havia cartões para sócios do Benfica, FCP, etc. «Bem» disse eu aos meus hesitantes botões «ainda há quem faça mais fraca figura do que eu...»


A Sic mulher e eu

Há uns anos, decidi mudar de operador de televisão por cabo porque tinham tirado da grelha o canal franco-alemão Arte (http://www.arte.tv/fr/70.html). Telefonei para a companhia a inquirir por que motivo o tinham retirado da grelha e não fui lá muito bem tratada por um gestor intermédio.
Adiante. Pedi então para desligarem o sinal e o jovem que me atendeu achou muuuuuito estranho eu mudar para um operador que não tinha a Sic mulher. Disse-lhe que, ao contrário do Arte, a Sic mulher não me fazia falta nenhuma. Não pareceu entender-me: «Mas olhe que eles não têm a Sic mulher...» E advertia, com ar de quem duvidava que eu tivesse abarcado a amplitude da tragédia: «Depois não vai poder ver a Sic mulher...» Eu, que posso ser burra mas não sou surda, disse-lhe que mesmo assim, queria desvincular-me do contrato que tinha subscrito - justamente - para captar o Arte.
Porque será que as pessoas (algumas pessoas) acham que todas as mulheres gostam de moda, maquilhagem, decoração, uns pozinhos (poucos, para não fazer mal) de cultura e que todos os homens gostam de futebol, carros, vinhos e computadores? Não há nada no meio?

Ler jornais é saber mais



Este vídeo do jornal brasileiro Folha de S. Paulo mostra-nos o reverso da retórica política: a propaganda.
Como fugir à proganda e à sua irmã gémea, a manipulação da opinião? lendo; confrontando pontos de vista diferentes; não aceitando acefalamente o que nos dizem, lemos, visionamos. Tendo espírito crítico. Escolhendo o nosso campo e preparando-nos para - também nós - nos enganarmos.

Visto no chão

Sou tão distraída como atenta. Ou talvez apenas seja distraída porque sou atenta a demasiadas coisas, até às mais chãs...
Por exemplo: tanto olho para o céu como para o chão. E o chão também nos diz muitas coisas. Os pavimentos para peões de Vila do Conde, por exemplo: chão de microcubo, guias de granito. Simples, cómodo, durável. Os passeios de Vila Verde: o mesmo microcubo, as mesmas guias.

Passemos então à rica cidade de Braga, a qual, possivelmente, figura no Top 10 de licenciamentos municipais. Olhamos para o chão, não porque sim, mas porque a isso somos obrigados: os passeios, mesmo os que foram feitos na tradicional calçada portuguesa, ondulam. Ora, se ondulam, são perigosos. Mas não é apenas por isso que são perigosos: há buracos a esmo, uns protegidos, outros não. Em ruas ditas nobres (em todo o caso centrais), como a rua do Raio, os passeios são de... cimento. Boa parte da rua 25 de Abril tem um pavimento sintético, sujo, estragado, irregular.
Isto, quando há passeios, porque é frequente haver longos troços para peões sem qualquer espécie de passeio.
Vivem em Vila Verde (cidade)? Dêem-se por felizes. Os vossos pés são mais bem tratados do que os dos bracarenses. A vossa vila não é uma automovelpolis.

Simple comme dire bonjour

Gosto muito da expressão "simple comme dire bonjour", não apenas porque é, em si, límpida e cristalina, mas também por aquilo que diz sem dizer. Com efeito, servindo para caracterizar coisas muito simples, mostra, às avessas, quão fácil é dizer bom dia. E, no entanto... no entanto, nem todos os portugueses interiorizaram - como os franceses - que, quando se entra num local, a primeira coisa a fazer é dizer bom dia. E nem todos os portugueses assimilaram essa evidência que consiste em dizer bom dia a quem quer que se conheça. Os ingleses têm uma regra que também sigo: cumprimentam-se todas as pessoas a quem fomos apresentados.
Ora, numa escola, todos os alunos conhecem os funcionários dos serviços gerais (Secretaria, Repografia, Biblioteca, Portaria, etc.), os auxiliares de acção educativa dos blocos onde têm aulas, os elementos da Direcção, os seus professores e os seus colegas.
Por isso, deixem que vos grite : DIGAM BOM DIA!