terça-feira, 28 de junho de 2011

A dificuldade de ter dois empregos

Tento fazer das fraquezas forças. Tento tirar proveito de coisas fracas, más, ruins, nocivas. Como o alarme da Escola Secundária D. Maria II, que toca quando muito bem lhe apetece e só estanca quando telefono a avisar. Vigilante à noite, professora de dia: por quanto tempo conseguirei manter dois empregos? Bem, entretanto vou dando de comer ao blogue...

Diga não ao palavrão


Esta nossa campanha não é só nossa, como prova o texto que surripiei do blogue http://projectopne.blogspot.com/:

Um jornal de um estabelecimento de ensino não serve apenas para dar notícias, também pode, muito bem, promover iniciativas úteis para a comunidade escolar. Assim o entendeu o Expressão, da Escola Secundária de Afonso de Albuquerque, Guarda, que, no número de Junho, dinamiza a campanha “Não ao palavrão”. A ideia surgiu porque, “amiúde, nos corredores e nos acessos à escola, os nossos ouvidos gritam por socorro ao ouvir chorrilhos de palavrões”. Esperemos que muitos acudam a um pedido de socorro que não é gritado apenas na Guarda.»
(publicado dia 21/6/2011)

Mais árvores

 
CIDADES QUE NÃO NOS PERTENCEM

Em cidades estranhas
nossos pensamentos vagueiam calmamente
como túmulos de artistas de circo esquecidos,
os cães ladram aos caixotes do lixo e aos flocos de neve
que sobre eles caem.
Em cidades estranhas passamos despercebidos
como um anjo de cristal fechado numa caixa de vidro sem ar,
como um segundo terramoto que meramente
rearranjasse o que já estivesse arruinado.

(Nikola Madzirov)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Bomarzo e o seu sortilégio

Acabei ontem de ler um "tijolo" de 900 gramas: Bomarzo, de Manuel Mujica Lainez. Atravessou-se-me à frente há uns tempos, numa daquelas feiras do livro que vendem exemplares um pouco danificados, possivelmente expostos nas livrarias e depois revendidos a um preço módico. Ultimamente, por causa da crise, tenho comprado vários livros assim - e feito boas aquisições.
Este livro é a prova provada da minha incomensurável ignorância. Com efeito, nunca tinha ouvido falar deste escritor argentino, que não só ganhou vários prémios com esta obra, como escreveu o libretto para uma ópera com o mesmo nome, musicada por Alberto Ginastera.

O livro é notável pela sua mestria estilística (a tradução, excelente- do melhor que tenho lido - é de Pedro Tamen), pela erudição histórica, artística, literária; pelo seu conhecimento da natureza humana; e pela contribuição para a teoria literária.
Bomarzo é, também, um livro inquietante. A mim provocou-me uma sensação de desconforto muito próxima da que experimentei ao ler O perfume de Patrick Suskind. A par dessa sensação, porém, há um fascínio pela personagem de Vecino, ou Pier Francesco Orsini, duque de Bomarzo. Encarnação do mal, homem do seu tempo, figura meio histórica, meio ficcionada, o duque não é, a meu ver, o verdadeiro protagonista da história, o qual seria... o castelo de Bomarzo. É pelo seu domínio que o aristocrata comete parte dos seus crimes, é ele que o explica e sustém, é nele que reproduz a sua própria enfermidade. Os jardins de Bomarzo confundem-se com a sua própria biografia, como comenta Vecino:
«Um mundo de imagens e de incógnitas - a minha biografia fantástica - brotou das vísceras da minha terra. Tive de repetir para o descrever as palavras enorme, imenso, gigantesco, colossal, esgotando os sinónimos à saciedade.» Assim, também, este livro.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

"Posts" politicamente incorrectos

Eu sei, eu sei que tenho escrito uns textos que passam mensagens politicamente incorrectas. Sou contra as cábulas, as fugas de adolescentes assustam-me de morte e, naturalmente, não creio que os professores sejam quase todos uns débeis mentais. Mas é o imaginário deste livro de Murakami, é o imaginário dos adolescentes e a "parte prática" tem muita utilidade, oh se tem. Tem tanta, que eu própria estudei muito pouco até ao décimo segundo ano e tive boas notas. Enfim, fazia os trabalhos de casa. O meu método era exactamente aquele: apurar os sentidos e usar o cérebro como uma esponja, atenta a cada palavra que era dita na sala de aulas e captando tudo, a fim de perceber o significado das coisas e de conservar tudo na memória.

Conseguir quase sempre as notas mais altas nos exames, e sem ter de queimar as pestanas

O rapaz chamado Corvo (ainda não sei quem é, mas vos garanto que hei-de saber) aconselha o fugitivo de Kafka à beira-mar:
«Os factos e a teoria ou lá o que vos ensinam na escola não vai servir de muito no mundo real, isso é limpinho. Podes ter a certeza de que os professores não passam quase todos de um punhado de débeis mentais. Mas uma coisa é certa: estás a preparar-te para fugir de casa. Se calhar nunca mais tens hipótese de ir às aulas, por isso, gostes ou não, o melhor que tens a fazer é aproveitar a oportunidade ao máximo. Faz de conta que és uma folha de papel mata-borrão e trata de absorver tudo o que puderes. Mais tarde logo decides o que é que te interessa reter e o que não serve para nada.»
E o protagonista comenta: «Fiz como ele dizia. Neste ponto convém dizer que, regra geral, sigo os conselhos dele à risca. Apurei os sentidos e usei o meu cérebro como uma esponja, atento a cada palavra que era dita na sala de aula e captando tudo, a fim de perceber o significado das coisas e de conservar tudo na memória. Graças a isso, consegui quase sempre as notas mais altas nos exames, e sem ter de queimar as pestanas.» (pp. 15-16)

A Biblioteca, um lugar para viver

Ando há anos para ler o Murakami, um dos autores preferidos da minha amiga Raquel. Hoje, enquanto os alunos do 7ºC viam "Bienvenue chez les ch'tis" - que já vi duas ou três vezes - folheei Kafka à beira-mar. Fiquei espantada com as menções a bibliotecas que aí encontrei. A páginas onze, o protagonista, um jovem de quinze anos, diz:
«No dia em que fizer quinze anos fujo de casa e sigo viagem até uma cidade distante, e ficarei aí a viver, num canto de uma biblioteca qualquer.»

Cábulas de luxo - ou de lixo



Hoje de manhã fui surpreendida com a notícia de que candidatos a juízes teriam copiado no exame. Lembrei-me do último texto que publiquei no Portazul. Talvez não tenha sido suficientemente severa com os alunos que fazem cábulas. Pessoalmente, tentei uma vez, no décimo ano, para nunca mais.

Não queria ser moralista, mas também não queria ser tratada por médicos ou julgada por juízes que tivessem copiado nos exames. Se, no primeiro caso, pode ser a minha saúde - ou a minha vida - a ser posta em causa, no segundo questiono-me acerca dos princípios éticos destas pessoas. Copiar num exame do Centro de Estudos Judiciários?! Além de falta de ética, parece existir aqui uma sensação de impunidade muito pouco consentânea com o exercício da função. Não, não era dez que mereciam. Era a interdição de exercer tais funções.

terça-feira, 14 de junho de 2011

As cábulas, os cábulas

Não tenho (quase) nada contra cábulas. Na verdade, tenho uma bela colecção de cábulas (apenas duas confiscadas por mim), que tenciono expor quando me reformar. São extremamente engenhosas: o autor de uma delas recorre a um princípio da Física (o sistema de roldanas); há reutilização de materiais e criatividade a rodos. Com efeito, fazer uma cábula envolve duas competências: criatividade no meio e selecção e sistematização dos conteúdos, o que lhes confere um certo valor pedagógico.
Nada disso sucedia com as cábulas que vi "fazer" hoje na reprografia: três alunos de nono ano pediam à funcionária que reduzisse um texto do manual. Intervim, no meu muito activo papel de "chata de serviço", pedindo à funcionária que não tirasse aquelas fotocópias que um dos alunos apelidou "auxiliar de memória". Não tenho dúvidas de que a minha intervenção não adiantou nada; quando muito, contribuirá para baixar (ainda mais) o meu índice de popularidade. Acho graça a cábulas, mas não sou fixe.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Tertúlia na ESVV

Na Terça-feira, dia 31 de Junho, tive oportunidade de assistir cá na escola a uma tertúlia em que participaram os bibliotecários da Rede de Bibliotecas e o Director Pedagógico do Projecto Público na escola, Eduardo Jorge Madureira. O tema eram os jornais escolares.
Para mim, neófita nestas andanças, trata-se de uma boa prática. Eu diria mesmo: uma excelente prática. Pensarão talvez que me refiro ao chá e bolinhos que acompanharam a tertúlia. Ao bom humor dos participantes. À tranquilidade com que, em tempos um pouco conturbados, pudemos trocar ideias. À leitura de um texto da nossa Ver.de em papel por parte da Manuela Artilheiro.
Têm alguma razão, mas não toda. Acima de tudo, realça-se a partilha de ideias. Gostei tanto, que pedi à Margarida para assistir às próximas reuniões e que fiquei com a cabeça a andar à roda com tantas ideias. Para tão longos projectos tão curta a vida...

Manuais escolares e publicidade enganosa

Em tempos de escolha de manuais, é bom recordar que os professores são enganados como os demais cidadãos. Muito se falou acerca das empresas que ofereciam uma percentagem (uma percentagenzinha inha inha inha) por cada manual vendido a instituições de solidariedade. Depois houve as ofertas, mais ou menos encapotadas: agendas, esferográficas, pastas. Talvez tenha ouvido uns zunzuns de aparelhos didácticos, mas nunca os vi concretizados (nada, em todo o caso, que se assemelhe com a agressiva propaganda médica).
Mas a Texto Editora está muito, muito à frente: quando lançou o projecto Mission spéciale oferecia aos alunos três exemplares da revista "Allons-y". Este ano, fiquei perplexa pelo facto de os meus alunos não a terem recebido. Mandei um "mail" para a texto Editora e recebi em troca um de alguém da Leya que ignorava do que eu falava. Voltei a escrever para a Texto Editora, não responderam. Telefonei para a representante da Texto, expliquei o que se passava. Nada. A Ana Paula Fontão já tinha feito as mesmas diligências há uns anos atrás. Debalde.
Verifica-se, então, que a Texto ofereceu aquela revistinha apenas no ano lectivo 2006/2007. Não tendo escolhido o manual, não sei se as condições eram claras. Desconfio bem que não. Tenho a certeza de que as pessoas pensaram que a oferta se manteria durante a vigência do projecto. Felizmente que, no ano seguinte, adoptámos outro manual. E mais não digo, que para o ano já não trabalharei com ele. Conclusão e moral da história: com papas e bolos se enganam os tolos.

O crime da Livraria M****

Se a nossa Biblioteca tem uma política de aquisições que visa distribuir equitativamente as encomendas, nem sempre as livrarias usam da mesma lisura. Ora vejam: há anos, era eu representante do grupo de Francês, e fiz uma criteriosíssima encomenda de livros a uma conhecida livraria bracarense, especializada em livros escolares. Digo "criteriosíssima" porque o assunto foi ponderado e debatido por todos.
Quando a encomenda me chegou às mãos, verifiquei que não tinham mandado NENHUM, repito, nenhum dos livros encomendados. Tinham mandado todos os monos que havia na livraria. A escola, desconhecendo o teor da encomenda, pagou. Reclamei, reclamei, reclamei, mas não havia nada a fazer. Ainda hoje, quando passo pela prateleira onde estão os monos da Livraria M****, me arrepio toda. Roubaram-me como representante do grupo, como professora de Francês e como cidadã que paga os impostos que financiam as escolas deste país. E roubaram os alunos da escola, que nada lucraram com aqueles monos caríssimos.
Porque relembro esta história (este espinho) ocorrida nos anos noventa?
Porque ontem a Margarida estava a receber uma encomenda e lá estava uma bela quantidade de livros, vários dos quais monos, que não tinha pedido - e que a escola ia pagar. Chegámos à conclusão que o crime tem compensado. Ou acham que a Livraria M**** só faz isto na nossa escola?
Tantos cuidados com a política de aquisições e depois só dá vontade de ir comprar em multinacionais que, ao menos, não fazem de nós parvos... 

sexta-feira, 3 de junho de 2011

«Estávamos só a brincar»

Já não tenho tempo para desenvolver um dos temas dos dias que correm: a violência entre jovens. Fico católica: Deus nos livre e guarde dela. Mas sempre vos digo que me aconteceu várias vezes cá na escola ter de intervir para terminar brigas feias. E já me aconteceu apanhar um safanão involuntário. Não tenho memória de um caso, um único caso, em que os intervenientes não me tenham dito que estavam a brincar. Assustam-me tanto estas brincadeiras, como a ligeireza com que são encaradas. Mas, como já tocou, remeto-vos para quem sabe mais do que eu: é só clicar em http://projectopne.blogspot.com/2011/05/duas-contra-uma.html e ler.

Arte urbana, the real thing



Nem de propósito, foi esta semana lançado em Portugal um documentário/comédia inglês, intitulado "Bansky - pinta a parede!" Bansky é o nome de um tão misterioso quão famoso autor de pixagens... enfim, não que eu advogue os seus métodos. Mas as suas intervenções têm um sentido, e não pretendem (antes pelo contrário) deixar apenas uma marca no território.

"Les Bourgeois" dançados por Daniil Simkin