segunda-feira, 27 de julho de 2009

Cinema e boas práticas

"Ouvi dizer" (perdoem-me esta introdução tão nacional-bisbilhoteira, mas ela deve-se ao facto de, durante o ano lectivo, apenas ter tempo - e nem sempre - para ler os jornais de Sábado) que o equipamento de projecção de filmes tinha chegado ao Theatro Circo. Fiquei logo entusiasmada, a pensar nas possibilidades que uma sala de cinema não comercial abria. É que, não sei se repararam, mas, se exceptuarmos os filmes de culto do Bragashopping (e um ou outro Woody Allen exibido pelo Bragaparque), a programação dos dois complexos é praticamente idêntica, o que me parece um absurdo.



Fiquei logo a sonhar com duas coisas: "os clássicos", que há muito não tenho oportunidade de ver em sala; e as "reposições". Não sei se se lembram, mas antigamente - na Póvoa do Varzim, por exemplo - durante o Verão repunham-se os filmes que tinham passado nas salas durante o Inverno, podendo assim as pessoas "recuperar os filmes perdidos".


Num entendimento arejado deste conceito antigo, o Cine Estúdio do Teatro Campo Alegre programou, para o período de 9 a 31 de Julho e de 1 a 30 de Setembro, "Um ano de cinema(s)", com os melhores filmes estreados entre Junho de 2008 e Junho de 2009. Ora aí está um bom exemplo, a ser ponderado, reflectido e seguido por quem quer que assegure a programação de cinema do Theatro Circo.


Já agora, aqui fica a programação dos filmes de culto (Bragashopping, todos os dias às 19h30m. Bilhetes a 3,5 euros) para este Verão:


25 /31 de Julho - "Tempos de Verão"
1 / 7 de Agosto - "O Canto dos Pássaros"
8 /14 de Agosto - "Julia - Uma Vida de Sombras"
15 / 21 de Agosto - "A Mulher sem Cabeça"
22 / 28 de Agosto - "Appaloosa"
29 de Agosto / 5 de Setembro - "Histórias de Cabaret"
5 / 11 de Setembro - "Isto é Inglaterra"
12 / 18 de Setembro - "Linha de Passe"
19 / 25 de Setembro - "Almoço de 15 de Agosto"
26 de Setembro a 3 de Outubro - "Quatro mulheres e um Morto"

sábado, 25 de julho de 2009

Poesia em férias


Na segunda-feira, dia 27, poderemos assistir à última sessão antes de férias do Sindicato da Poesia. Na Velha-a-Branca, às 21h45m. Poesia de - ou para - Federico García Lorca.
Férias, para que vos quero, férias?

H1N1

Quando eu era criança, havia umas campanhas na televisão - o nome família Pituxa vem-me à cabeça, mas desconheço se o inventei ou se realmente era assim que se chamava - que ensinavam aos portugueses regras básicas de higiene. Lembro-me da lavagem de mãos e de frutos e legumes e tenho uma vaga ideia de cuidados a ter na aplicação de adubos (?). Algo assim.
De então para cá, Portugal mudou muito.
Nesse aspecto (como em muitos outros), os excelentes documentários de António Barreto e Joana Pontes, "Portugal, um retrato social", são exemplares. Mostram um país que mudou muito, mas que nem sempre mudou bem. Eu costumo dizer que Portugal é um país a duas (ou três) velocidades. Costumava também dizer, antes desta crise que veio revelar os podres de uma evolução mal sustentada, mais de aparências do que de essências, que andávamos mais bem vestidos e bem calçados. Tínhamos um belo parque automóvel e casas, muitas casas. Mais do que as de que necessitávamos - dizia eu antes da crise. Mas, na verdade, continuava a haver muitos portugueses que desconheciam as regras básicas de higiene, dizia eu, rangendo os dentes quando via gente nos supermercados a remexer no pão e nos legumes. Quando voltei a ver gente a cuspir no chão. E outros hábitos que não me apetece descrever (almocei há pouco).
Sou daquelas pessoas que, quando deparam com quartos de banho sem sabão e/ou sem papel vai "avisar" - que é como quem diz "queixar-se de algo que considera inaceitável". Na verdade, suspeitava que há muita gente que vai ao quarto de banho ou à cozinha e não lava as mãos, que não lava bem os legumes, etc. E, no meu foto íntimo, atribuía a essa falta de higiene a taxa de incidência de helicobacter pylori em Portugal. Mas eu cá sou de letras...
Na semana passada, Luís Pedro Nunes revelava na sua crónica no Expresso a quantidade assustadora de homens (atenção, que a crónica é humorística - o que não significa que ele não tenha razão) que vai ao quarto de banho e não lava as mãos antes de sair. E que depois aperta a mão de outros confrades. Ou toca em maçanetas, prime interruptores, usa teclados, etc., etc. Haverá mulheres que também, acrescento eu.




Abreviando razões: proponho que encaremos o H1N1 como uma oportunidade. Que erradiquemos de vez esse hábito, absolutamente execrável, que define qualquer um que o adopte como alguém a evitar ou, até, a proscrever: cuspir.
Cuspir é mau, cuspir é feio. Só cospe quem é porco por dentro e por fora. Quem cospe é feio, porco e mau.
Posto isto, passemos ao resto, que não deixará de ser válido quando a crise passar: devemos lavar as mãos com água e sabão com frequência. Nomeadamente - a mim parece-me evidente, e a vocês? - depois de utilizar o quarto de banho, antes de comer ou de preparar alimentos. Quando se espirra e tosse deve tapar-se a boca (como dantes) mas, agora, também o nariz. Com um lenço ou com o braço. Os lenços devem ser de papel e deitados ao lixo.
Quanto aos cuidados de limpeza, devem ser redobrados no que às superfícies diz respeito: maçanetas, interruptores, corrimãos, telefones, computadores, etc.
Nas escolas coexistem muitas pessoas, com hábitos muito diferentes. Adoptar estas regras - não para evitar uma eventual pandemia, mas também, de algum modo, graças a ela - de forma definitiva, representará um avanço considerável.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O Homem na Lua

Falta-nos cá a nossa mentora que, como se sabe, é quem percebe de efemérides. Eu sou só uma aluada. Como tal, só lhes vou falar dos livros e filmes que o dia 21 de Julho de 1969 me recorda. Ah, sim, e da famosa tirada (que me deixa sempre sonhadora: terá sido um improviso de génio? Preparou-a? Ter-lhe-á sido sugerida por um criativo?) do Neil Armonstrong: «Um pequeno passo para o homem, um grande salto para a humanidade».

Hoje todos (re)veremos esse momento histórico do século XX, mas convém não esquecer que ele foi antecipado por dois franceses de génio (Viagem à Lua, de Cyrano de Bergerac e Da Terra à Lua, de Jules Verne). O belga Hergé desenhou-a a posteriori em Rumo à Lua e Explorando a Lua.

Um dos meus realizadores favoritos, Stanley Kubrick, realizou "2001, Odisseia no espaço". Não sendo o filme que prefiro, considero-o muito interessante. Música, também, a inspirar "Man on the moon", um filme de Milos Forman que não me deixou grandes recordações. Também vi um filme intitulado "Apollo 13", enfim... Mas o primeiro filme foi, realmente, "Voyage dans la lune", de Georges Méliès.

Mas eu hoje estou na lua. Ajudem-me a recordar tudo o que esqueci - ou que nunca soube - sobre a lua, e escrevam AQUI as vossas reflexões.

"Home - lar doce lar"


Por uma vez sem exemplo, venho falar-lhes de um filme que ainda não estreou em Braga, "HOME - lar doce lar", um filme de Ursula Meier protagonizado por Isabelle Huppert e Olivier Gourmet. Seria injusto não referir os outros três jovens actores, que são igualmente maravilhosos. Não sei bem porquê, este filme faz-me lembrar um livro do Cormac McCarthy, A Estrada. Digo não sei bem porquê, porque A Estrada passa-se num tempo e num espaço indeterminados, em que todas as referências a um planeta organizado tal como o conhecemos desapareceram. Em "HOME", pelo contrário, é-nos contada a história de uma família que tem de conviver com as mesmas regras sociais que nós. São, talvez, inadaptados. Mas talvez eu também seja, e tu, e tu, e tu, e tu...
A inadaptação desta família radica talvez, apenas, no local que escolheu para viver: um troço de auto-estrada não concluído. A mãe não trabalha, a filha do meio tem problemas de auto-imagem. O pai e a filha mais velha passam o dia de cigarro pendurado no canto da boca... Mas tudo tem uma certa ordem, a casa é acolhedora, os banhos são um momento de descontracção, a televisão vê-se em conjunto, riem-se e divertem-se juntos.
O momento em que a auto-estrada é inaugurada - como vocês, eu e todos os que vêem o filme esperavam - marca a passagem de um filme familiar para um filme de terror. De repente, tudo o que era harmonioso e tranquilo passa a ser inquietante. As personagens debatem-se, tentam lutar para manter a normalidade. São notáveis os momentos em que o pai compra a arca-congeladora e enceta uma dança triunfal (já o vi noutros filmes, considero-o um excelente actor, mas nunca o tinha visto num registo tão físico, tão descontraído); quando a filha que ouve música satânica no meio de nenhures se transforma, involuntariamente, numa Lolita; em que a mãe e os dois filhos mais novos saem no meio de um engarrafamento para fazer um pique-nique.
A mãe, Isabelle Huppert, parece um canário no fundo de uma mina. Sabiam que os mineiros usavam canários para dar o alarme se o ar rareasse nas minas? Ela é assim. É a primeira a alarmar-se, a primeira a dar sinais de desnorte (o filme é realmente inquietante. E não tão distante de uma realidade como a minha, por exemplo, que vivo numa rua extremamente movimentada), a primeira a perder a saúde mental. Mas é também ela a primeira a dar-se conta de que estão à beira do suicídio colectivo, quem destrói as barreiras de protecção do casulo que o pai construiu e abre, de novo, o horizonte que a família perdeu.
Este texto fica muito, muito aquém do que o filme é. Vejam-no. Vão rir-se, vão achá-lo divertido e - como diria o Júlio Machado Vaz - "ternurento". Vão inquietar-se, mexer-se na cadeira. Ter medo, ter esperança. Rir outra vez, sentir alívio. Preocupar-se. Suspirar. Sentir uma súbita falta de ar. Calor. No fim, respirarão outra vez, mas olharão para a vossa realidade, seja ela qual for, com outros olhos.

quarta-feira, 15 de julho de 2009