terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Ler jornais é saber mais

Andava eu encantada com uma aluna minha que leu O monte dos vendavais, da escritora britânica Emily Brontë, quando leio no Expresso de sábado que esta leitura se deve ao culto de Stephanie Meyer.

Após a decepção inicial, pensei: «E depois?! Que mal tem?» Nenhum, na verdade. Leu algo que, de outro modo (se fosse eu a sugerir, por exemplo) talvez não lesse. Leu, é o que interessa.

Mas aproveito o lanço para recomendar o livro (tarefa de Dezembro do Duas culturas, livro do secundário para o Concurso Nacional de leitura) Nunca me deixes. Se lêem, leiam.

O Natal, afinal

Mandaram-me um "postal" de Natal, realizado por uma turma de Projecto II do curso de Design Universidade de Aveiro, que não resisto a partilhar convosco:

http://www.youtube.com/watch?v=nhxf2Xg4xGc

Além da crítica ao consumismo desenfreado, este vídeo vem provar que, com boas ideias e uma certa economia de meios, é possível fazer trabalhos muito significativos. A ter em conta para a tarefa do mês de Novembro do concurso lançado no blogue Duas Culturas.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O verdadeiro Natal

O lápis azul da censura proibiu-me de escrever/transcrever mais textos sobre anjos e sobre árvores. Segundo ele, não haveria mais imagens disponíveis para ilustração. Este fragmento de poema de Natália Correia, porém, talvez escape:

UMA HISTÓRIA VERDADEIRA DE NATAL

Orquestra de anjos o Natal
tem um som de cristal e prata
mas é uma valsa de cacos que toca
nos bidões do bairro de lata.

Versáteis músicos os anjos
com caracóis de fios de ovos
também um tango de metralha
tocam É a música dos novos

magos que bombardeiam cidades
num cinzeiro de bombardeamentos
mas é Natal porque no mundo
estar presente é dar presentes."

(in CORREIA, Natália - Poesia completa. Dom Quixote, 2007, p. 338)


Cacos? Caracóis de fios de ovos? Tango de metralha? Estar presente é dar presentes?! Que lhes parece?

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

"Quanto mais quente pior"

A propósito da Cimeira de Copenhaga, e "whith a little help from my friends":





O amor (não) é lindo III

Uma pessoa que conheço costuma pontuar com ironia momentos lamechas com o comentário "o amor é lindo...", daí o título destas três entradas.
Termino este devaneio com um fragmento de uma canção dos Tribalistas que sempre me intrigou e que talvez, lido à luz de Adélia, passe a fazer sentido:

"O amor é feio / Tem cara de vício"

Desmistificar é bom, e eu gosto...
Mas atenção, que a música continua:

"Ele mete medo / Vou lhe tirar isso / O amor é lindo..."


O amor (não) é lindo II

Fragmento de "Amor feinho":



"Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho"

in PRADO, Adélia - Poesia reunida. ARX, 1991, p. 97

O amor (não) é lindo I


Como fui na sexta-feira à sessão do Sindicato da Poesia consagrada à poeta brasileira Adélia Prado, que comemorará, no dia treze, setenta e quatro anos, não resisto a transcrever dois poemas seus que me chamaram a atenção:

"Os moços bonitos me doem,
impertinentes como limões novos.
Eu pareço uma actriz em decadência,
mas, como sei disso, o que sou
é uma mulher com um radar poderoso.
Por isso, quando eles não me vêem
como se me dissessem: acomoda-te no teu galho,
eu penso: bonitos como potros. Não me servem.
Vou esperar que ganhem indecisão. E espero.
Quando cuidam que não,
estão todos no meu bolso."

in PRADO, Adélia - Poesia reunida. ARX, 1991, p. 96

Promiscuidade

O poema que aqui colocámos na semana passada vinha a propósito de um texto escrito no Duasculturasblogspot.com acerca da Matemática japonesa antiga. A associação a este poema fabuloso da Sophia de Mello Breyner Andresen, que mostra a forma como fomos vistos quando chegámos ao Japão, era irresistível.

"Narigudas figuras, inchados calções": cada povo vê-se, e ao tipo que representa, no centro do mundo. Lemos com facilidade as diferenças que nos distinguem e ignoramos as que diferenciam os outros, o que explica que achemos "os chineses todos iguais" e que consideremos, inconscientemente, ameaçadores os rostos com características diferentes das "nossas". O "outro", o que não é como nós.
O poema de Sophia desvenda-nos essa outra faceta dos biombos Namban, a étnica. Para os japoneses, éramos (somos?) todos iguais. Feiinhos.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Nós e os outros

http://www.mosteirojeronimos.pt/web_mosteiro_jeronimos/img_historia/renascimento_japao_bg.jpg

Os biombos Nambam

Os biombos Nambam contam
A história alegre das navegações
Pasmo de povos de repente
Frente a frente

Alvoroço de quem vê
O tão longe tão ao pé

Laca e leque
Kimono camélia
Perfeição esmero
E o sabor do tempero

Cerimónias mesuras
Nipónicas finuras
Malícia perante
Narigudas figuras
Inchados calções

Enquanto no alto
Das mastreações
Fazem pinos dão saltos
Os ágeis acrobatas
Das navegações
Dançam de alegria
Porque o mundo encontrado
É muito mais belo
Do que o imaginado

in ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner - Obra poética III. Caminho, 1996, p. 334

Dias com árvores

Na altura em que as árvores da minha rua estão mais bonitas, mais outonais, vêm os jardineiros (?) e mutilam-nas. Ao contrário da minha rua, a alameda dos liquidambares, em Serralves, é particularmente bela e cativante no Verão, quando, sob um sol abrasador, lá entramos e respiramos um fresco vegetal. Intactas, as árvores formam uma cúpula imponente e majestosa, que nos puxa para o alto, em vez de nos pregar os olhos no chão.

Procurando uma fotografia da alameda, deparei com um sítio onde há muito não ia, http://dias-com-arvores.blogspot.com. Exemplo de intervenção cívica, os autores deste blogue interventivo pronunciam-se acerca das árvores do Porto (e não só). Pouco a pouco, vão mudando mentalidades rasteirinhas. E nós por cá?



terça-feira, 24 de novembro de 2009

Galicismos

O facto de se gostar do francês, língua e cultura, não significa que se goste de galicismos evitáveis. Os exemplos que atrás respigamos provam que o francês (ou os seus resíduos) ainda é uma língua chique (chic). Uma palavra interessante, que vem à mente quando lemos/vemos certas coisas, é a palavra nouveau riche. Mas, como desaprovamos galicismos, propomos a sua substituição pela expressão novo-rico. Ou possidónio. Possidónio é engraçado. Mas a que propósito é que me lembrei disto? Já nem sei...

Teoria da conspiração

Na semana passada fui ao café e, como de costume, abri os jornais. Fiquei espantada pelo facto de o restaurante do mosteiro recém-recuperado se chamar "Eau vive de Tibães". Eau vive, não sei porquê, faz-me lembrar nome de perfume. E por que não um nome português, no portuguesíssimo mosteiro de Tibães?


Depois, peguei numa revista luxuosa, profusamente ilustrada, intitulada Cidade 24. Rapidamente confirmei que o francês está na moda: um dos artigos referia-se a um "savoir vivre". E de que falava a dita publicação? Na verdade, de nada. Publicitava estabelecimentos comerciais, exibia vários "notáveis", promovia marcas de carros de luxo. "E andam a devastar florestas para imprimir coisas destas", pensei eu, tomando nota mental da "eau vive" e do "savoir vivre".


O pior foi no dia seguinte, quando descobri que andam - outra vez - a dizimar as árvores da minha rua. Uma rua tão bonita, que sofre ataques anuais de jardineiros que enlouquecem à hora do almoço e rapam, literalmente rapam as árvores até ao sabugo, carregam as ramagens em camiões e as levam para destino incerto. Está frio, as lareiras e salamandras precisam de alimento...




Não sei que ligação têm estas duas coisas. Talvez seja a falta das ramagens outonais que me leva a pensar que está tudo ligado, que não é por acaso que há revistas grátis a falar de festas e de lojas e de carros aonde nunca iremos e onde nunca andaremos enquanto as nossas (nossas, de todos) árvores são dizimadas. Devaneios.

Coffee and newspapers


www.gettyimages.com

O meu café habitual tem uma característica muito simpática: pilhas de jornais e revistas muito arrumadinhas, compradas pelos proprietários ou pelos clientes que, depois de os lerem, os deixam lá. Não pensem que se assemelham aos destroços deixados na praia pela maré. Estão sempre classificados e arrumados nas paredes que circundam as mesas.

O café é bonito, os donos são simpáticos e os clientes - os que eu conheço - também. Tem uma esplanada com árvores, um quiosque e um jardim infantil em frente. Ao sábado de manhã, o ritmo do trabalho abranda, as pessoas vão comprar os jornais ao quiosque, sentam-se para tomar café, conversam entre si, com quem os serve e com os clientes das mesas vizinhas (que nem sempre conhecem, mas isso não interessa nada). É um agradável café de bairro, com a mistura certa de cidade e de província.


Pessoas, árvores, jornais. Que mais se pode querer, ao sábado de manhã?

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Nem tanto ao mar, nem tanto à Net


Na sexta-feira, falando com os meus alunos acerca do sítio lepointdufle, ouvi uma aluna queixar-se de que o mais provável seria o pai não a deixar consultá-lo, visto que achava que ela passava demasiado tempo na Internet.

Ora, se acho louvável que o senhor exerça "controlo parental", gostaria de deixar aqui registado o meu apreço por algumas das vantagens que a Internet proporciona, e uma delas é, justamente, a pedagógica. Por isso, além de "publicitar" o endereço do pointdufle (fle=français langue étrangère), recomendo-lhes o Ciberdúvidas da língua portuguesa.
Bom, bom, seria pais e filhos consultarem este site sempre que surgisse alguma dúvida. Porque família que navega unida, é família unida...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Plágio

E se "retractação" for apenas dúvida metódica? E se ter dúvidas, enganar-se, reconhecê-lo, fosse a forma mais certa - ou menos errada - para se saber alguma coisa? Não sei, mas, na dúvida, deixo-vos o excerto de uma canção, vergonhosamente copiada de um blogue amigo: "Les gens qui doutent", interpretada por Vincent Delerm, Jeanne Cherhal e Albin de la Simone.


Retractação

A pedido de várias famílias, venho retractar-me. Não, não sou de modas. Sou, até, uma pessoa muito constante (mas hão-de convir que tinha mais graça dizer o contrário).

Guardo a roupa anos e anos a fio, remodelo-a, uso coisas que eram das minhas avós e da minha mãe, gosto desde sempre dos mesmos livros (alguns exemplos, que podem encontrar aqui mesmo na Biblioteca: Alice através do Espelho, Alice no país das Maravilhas de Lewis Carroll, as séries Astérix e Tintin; Mrs. Dalloway, da Virginia Woolf, Memórias de Adriano e A Obra ao negro e da Marguerite Yourcenar), só mudo de carro em última instância, tenho os mesmos amigos (com "novas contratações", é claro) há anos e anos, guardo tudo e mais alguma coisa e arranjo-lhe sempre utilidade (um dos meus lemas é "guarda o que não presta e terás o que é preciso"). As músicas e os filmes que me encantavam aos dezoito continuam, com raras excepções, a encantar-me. A ordem dos factores é arbitrária.

No entanto, parece-me que todos somos de modas, no sentido em que somos sensíveis ao ar dos tempos ("l'esprit du temps", dizia o Edgar Morin, "zeitgeist", dizem os alemães), e que, com maior ou menor consciência disso, usamos cada vez menos as calças estreitas, as camisas de gola larga ou as meias brancas quando estas passam de moda. É inelutável.


Já no que diz respeito à escola, tenho a certeza absoluta de que as modas se sucedem com relativa rapidez (embora os sistemas, naturalmente, ofereçam resistência à mudança). Mas, lá está, inelutavelmente, de repente começamos todos a ensinar a aprender a aprender, ou a abandonar os objectivos para adoptar as - abissalmente diferentes - competências. E mal de quem se enganar e usar a terminologia anterior. Será proscrito para todo o sempre. O mesmo para a (in)disciplina. Convenhamos que há quem muito lucre (literal e metaforicamente) com estas nossas inconstâncias, acusando-nos - com alguma razão mas nem sempre de forma fundamentada - de falarmos ou escrevermos "eduquês".


Em verdade vos digo, em jeito de conclusão, que já passei por demasiadas modas (vestimentares, pedagógicas, decorativas, gastronómicas, corporais, capilares) para não as olhar com distanciamento. Com o tempo, tudo aquilo que achávamos horrível volta a estar na moda. As fotografias ridículas passam a "ter graça", os móveis horrendos passam de velharia a antiguidade, os carros obsoletos passam a ser "de colecção", as roupas velhas são "vintage" - e assim sucessivamente. Transformamo-nos nas nossas mães e nos nossos pais (e não estou a referir-me apenas ao aspecto físico...). Por isso, meus amigos, o melhor é não criticarmos muito. Não cuspirmos para o ar. Porque, cedo ou tarde, estaremos a dar o dito por não dito.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Modas

Eu cá sou de modas. É escusado negar: sou de modas. Sou de modas nas modas, nas leituras, no tipo de saídas, nas músicas, nos passatempos, nas receitas, nos percursos, em tudo. Claro que também tenho um lado conservador e, de repente, regresso ao passado e volto a cozinhar um prato que há muito não fazia, releio um livro, repesco um disco, visto uma roupa com vinte anos.

Também sou de modas no que diz respeito à escola. Aliás, tenho a íntima convicção de que a escola é particularmente permeável às modas. Agora vamos todos fazer assim, depois assado é que está bom, grelhado é inconcebível, ao vapor é que fica saboroso, cru é inovador, nas brasas mais saudável, no cozido não se perdem as vitaminas. Mas, depois, as gorduras libertadas no assado são nocivas, os grelhados, desde que não carbonizados, são óptimos, os tachos para cozinhar ao vapor ocupam demasiado espaço, o cru fica démodé, as brasas são pouco práticas e exalam um odor desagradável, o cozido é insápido, ao sal é que se conserva o sabor dos alimentos. E andamos nisto.
Também assim, passamos da gramática tradicional para a generativa, depois voltamos à gramática tradicional mas com adendas e restrições, agora passamos, mas sem passarmos todos, para a Nova Terminologia Linguística.

Embora não pareça, porque o estou a remeter para o fim, é de um mea culpa que este texto trata. De facto, durante anos recomendava explicitamente aos meus alunos a consulta de livros sobre métodos de trabalho e estudo. Agora tendo mais a fazer prédicas, umas ditadas pela necessidade, outras "agendadas" em momentos cruciais. No entanto, a pedido de uma Encarregada de Educação, fiz uma lista de alguns destes livros, assaz úteis por sinal, que podem ser requisitados aqui na Biblioteca:

livroaprenderestudar.jpg

- Aprender a dominar a escrita (Fernanda Afonso e Esmeralda Lopes) - 2 exemplares
- Aprender a estudar (António Estanqueiro) - 3 exemplares
- Como estudar (Susana Gonzalo)
- Iniciação à comunicação oral e escrita (Maria Alda Loya Soares Silva)
- Métodos para aprender (Marc Romainville e Concetta Gentile)


Mais anjos

O Anjo

O Anjo que em meu redor passa e me espia
E cruel me combate, nesse dia
Veio sentar-se ao lado do meu leito
E embalou-me, cantando, no seu peito.

Ele que indiferente olha e me escuta
Sofrer, ou que feroz comigo luta,
Ele que me entregara à solidão,
Poisava a sua mão na minha mão.

E foi como se tudo se extinguisse,
Como se o mundo inteiro se calasse,
E o meu ser liberto enfim florisse,
E um perfeito silêncio me embalasse.

in ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner - Dia do mar. Caminho, 2005, p. 31

Leitores ou ledores?


























Fragonard - A leitora

Num livro/folheto/panfleto de uma pretérita Feira do Livro do Porto a que não terei ido - mas que me ofereceram, o que lhe confere agora ainda mais sabor - encontrei, entre muitos outros textos dignos de nota, um, escrito por Carlos Poças Falcão, intitulado "O livro transparente".

Desse texto, que gostaria de transcrever na íntegra, selecciono apenas uma pequena parte:

"Baixando, pouco a pouco, as suas guardas, por puro assentimento, o leitor prepara-se para ser surpreendido vivo e um dia há-de encontrar o livro que o modifica. Então, poderá dizer: «a minha vida lê.» Falo de um leitor com qualidades, daquele que, efectivamente, está em condições de vir a ser tocado e transformado,

dotado dessa paciência que faz com que a vida finja estar à espera, espere sem esperar, expondo-se e acreditando. Não trato de ledor que apenas busca instruções e informação, ou que vive uma relação profissional (professoral?) com os livros, capitalizando fichas e obtendo mais-valias de um saber corrente. Refiro-me ao leitor sentado e de cabeça serenamente inclinada, como em reverência humilde, cuja vida aprende a ser lida".

Filme imperdível no Bragashopping

Esta semana, até sexta-feira, inclusivé, pode ver-se em Braga um filme francês que me impressionou muitíssimo e de que vos falei há tempos: "Home". Às 19h15m.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Encontro de Escritores de Expressão Ibérica



E o que é isso, perguntarão vocês, do Correntes d'Escritas? É um espectáculo. É um espectáculo, no sentido em que se diz que algo "É um espectáculo!". E é um espectáculo, porque tem estrelas (os escritores) que falam para uma audiência de adeptos fervorosos.
Para mim, é o equivalente a assistir a um "derby". A emoção, a adrenalina, o "Já viste o Agualusa? Ali, ali..." O sentido de humor desarmante de alguns participantes habituais. A mistura, simpática, democrática, não invasiva, de escritores e leitores. Os recitais, já muito desalinhados, já totalmente descontraídos, no hotel Vermar. Os encontros: "Olá, há anos que não te via..." Até hoje, ainda não ouvi ninguém, leitor, escritor ou livreiro, dizer que não gostava do Correntes d'Escritas. A decorrer entre 24 e 27 de Fevereiro, era um dos pontos altos do ano lectivo - quando ainda contava como formação... chuif, chuif...







O Correntes d'Escritas dá prémios!


A professora Isabel Costa chamou-nos a atenção para um prémio literário, patrocinado em conjunto pelo Correntes d'Escritas e pela livraria Locus, cujo regulamento seguirá em anexo. Destinado a jovens entre os 15 e os 18 anos, tendo como prémio pecuniário mil euros e como prémio honorífico a publicação, para concorrer basta escrever um conto. Um bom conto, claro. Ora, nós achamos que aqui na ESVV há muito escritores em potência. Por isso, meus senhores, às esferográficas - ou aos teclados - e comecem, desde já, a escrever. É que o prazo termina no dia trinta...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Público na escola

Ontem os alunos dos cursos EFA tiveram direito a uma palestra, intitulada "Internet e média", proferida pelo Director do Público na Escola, Eduardo Jorge Madureira Lopes. Ao que consta, a sessão só não se prolongou pela madrugada dentro porque palestrante e organizadores ainda não tinham jantado. Já estão a ver o sucesso que não foi...
Para todos aqueles que não puderam assistir, sugerimos a leitura (entre outros) dos boletins números 175, 178, 186 e 190, acessíveis para consulta na Biblioteca. Recomendamos ainda a consulta do sítio Público na Escola-PUBLICO.pt., que dá acesso a conteúdos não tratados nos boletins.

Leituras


Perguntei ao meu colega de bancada, o professor Custódio Braga, que livro andava a ler. Ele costuma ler umas coisas pouco óbvias - o que alimenta a conversa de alguns almoços mais animados -, mas fala delas com desprendimento.

Hoje disse-me que, "num dia em que se achou mais pachorrento", tinha requisitado na Biblioteca A grande aventura dos Templários, o que não se enquadra em nada nas suas leituras habituais. Talvez por isso (pensei eu), estava a gostar muito. Até me pareceu que estava entusiasmado (pois se até citou Bocage). Por isso, já sabem, daqui a uma semana o livro já deve estar disponível. É só vir cá requisitá-lo.

Os Marretas não são jarretas



A professora Alexandra Amador disse-me que hoje se comemoram quarenta anos da criação da "Rua Sésamo". Quarenta anos, como a Mafalda... As referências culturais de várias gerações estão a envelhecer, mas não a perder o viço. Este programa foi concebido por Jim Henson, o criador de "Os Marretas", e tinha por objectivo (estamos a falar de 1969) promover a literacia nos meios mais desfavorecidos dos Estados Unidos.
Nem por acaso, esta semana:
1) mandaram-me por correio electrónico um excerto dos Marretas
e
2) disseram-me, aqui mesmo na Biblioteca, que eu parecia o Fozzie.
Para quem há anos não pensava nisto, não deixa de ser uma feliz coincidência. Mas voltando ao excerto dos Marretas que me mandaram, devo dizer que fiquei impressionada com a sua qualidade, designadamente musical. Não que o não soubesse de antemão, mas não me lembrava, e, além disso, agora tenho uma perspectiva de adulta acerca da questão.
Embora não esteja a par da oferta de programas infantis, a série que, do ponto de vista educativo, mais se assemelha a estes objectivos, chama-se "Little Einsteins". Mas parecem-me tão pífios, em comparação com a rua Sésamo - e sobretudo, com os Marretas... Ou serei eu que estou a ficar jarreta?


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Gente boa

Transcrevo de um blogue amigo, que muito invejo (talvez devesse aproveitar para clarificar que a minha inveja é, quase sempre, admiração, respeito, consideração e até veneração) um texto ao qual, sozinha, nunca acederia. Devo dizer que o trunquei miseravelmente, mas cá tenho as minhas razões. E este excerto está completo...

"A gentileza está em toda a parte na vida do dia-a-dia, um sinal de que a fé comanda através das coisas ordinárias: através do cozinhar e da conversa banal, escrever contos, fazer amor, pescar, tratar dos animais e das flores; através do desporto, música e livros; criar os miúdos — todas as actividades em que o molho se embebe e através das quais a graça brilha. Mesmo em tempo de vaidade e ganância elefantinas, não é preciso olhar para muito longe para ver as fogueiras de gente boa. Mesmo que não tivéssemos outro propósito na vida, seria bom simplesmente tomar conta dessa gente e dar-lhe um empurrão de vez em quando."

Ainda estamos casados (Garrison Keillor)

Quedas e derrocadas

Hoje comemora-se a queda do muro de Berlim. Ao longo do dia, ouvirão falar dela e vê-la-ão, por isso me escuso a tecer comentários. Mas aproveito a ocasião para defender a minha dama (mais concretamente: o meu cavalheiro) e falar-vos de cinema europeu. Com efeito, os meus alunos estão convencidos de que este não existe ou "é uma seca”. Só para os contrariar, deixo-vos os títulos de três filmes alemães que, ultimamente, fizeram as minhas delícias. O primeiro, “Adeus, Lenine”, está disponível aqui na Biblioteca. Também gostei muito, muitíssimo, de “Os Edukadores” e de “A vida dos outros”. Este último tem muito a ver com a queda do muro, e “mostra” como a arte pode redimir. Três filmes, três, de boa colheita europeia.

Esta queda é uma coisa boa. Agora falemos de coisas más.

Quando um prédio da rua dos Chãos, em Braga, ruiu, a comunicação social convergiu para lá, buscando todos os ângulos do problema. Excepto um, que um meu amigo muito pertinentemente lembrou: como se chamavam os operários que morreram? (e não faleceram, palavra destinada a “higienizar” a morte).
Desconheço o nome dos cinco trabalhadores que morreram, sábado, na derrocada de um viaduto em Espanha, e parece-me desprezo pela vida humana a falta de condições de segurança nas obras, em Espanha como em Portugal. Eu sei, eu sei que às vezes são os próprios operários que não cumprem as normas. Não me parece, porém, que seja esse o caso nos dois acidentes de que falo. É que a segurança custa caro…

domingo, 8 de novembro de 2009

Antídoto

O poeta francês Arthur Rimbaud, que viveu entre 1854 e 1891, escreveu em 1872 um poema, intitulado "Chanson de la plus haute tour", que se inicia assim:

Oisive jeunesse
À toute asservie
Par délicatesse
J'ai perdu ma vie
Ah! Que le temps vienne
Où les coeurs s'éprennent.

Convém talvez dizer que Rimbaud é considerado um poeta maldito, e que a sua poesia continua a fascinar muitas gerações de músicos. Léo Férré, por exemplo, canta este poema, e eu tenho um disco, muito alternativo mas também muito recomendável, em que Hector Zazou, baseando-se na sua obra, dirige vários músicos e declamadores ("Sahara Blue"). As fotografias, belíssimas, do poeta - assim como a brevidade e estranheza da sua vida - contribuem para a sua aura mítica.


A poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen recriou-o (felizmente, sem qualquer "angústia das influências") desta forma:


Bailarina fui
Mas nunca dancei
Em frente das grades
Só três passos dei

Tão breve o começo
Tão cedo negado
Dancei no avesso
Do tempo bailado

Dançarina fui
Mas nunca bailei
Deixei-me ficar
Na prisão do rei.

Onde o mar aberto
E o tempo lavado?
Perdi-me tão perto
Do jardim buscado.


Bailarina fui
Mas nunca bailei.
Minha vida toda
Como cega errei.


Minha vida atada
Nunca desatei
Como Rimbaud disse
Também eu direi


«Juventude ociosa
Por tudo iludida
Por delicadeza
Perdi minha vida»

Ainda mais sexo

Clarificadas, espero, as questões anteriores, deixo aqui algumas sugestões de leitura, audição e visionamento.

Livros
- O sexo dos anjos, Estes difíceis amores e Olhos nos olhos (Júlio Machado Vaz)
- Paixão, amor e sexo (Francisco Allen Gomes)

Sítios
- APF (Associação para o planeamento da família)
- murcon.blogspot.com/
- "Homepage" da Antena 1 - seleccionar "podcast" - procurar os programas "O amor é... (2ª a 6ª)" e "O amor é... (fim-de-semana)".
Filmes
Acho que também vou deixar esta opção em aberto. Para já, para já, retenham os nomes de dois filmes de Richard Linklater, Antes do Amanhecer e Antes do Anoitecer (uma história sequencial, protagonizada por Julie Delpy e Ethan Hawke). Algo me diz que ainda vão ouvir falar muito deles, cá na escola...
N.B. Em resposta a uma pergunta que me foi colocada: o primeiro filme tem uma duração de 105 minutos e o segundo de 80.

Mais sexo

Não tinha - mas agora tenho - consciência de que escrever palavras destas num blogue implica que os motores de busca direccionem para lá pessoas que procuram outras coisas que não "o sexo" de que se fala na escola. Pouco importa. É do sexo de que se pode falar na escola que falarei (passe a redundância).

Em primeiro lugar, para sossegar os Encarregados de Educação: os professores não interferirão nas orientações que as famílias pretendem incutir nos seus educandos.

A escola não substitui a família, e apenas se abordará a "fisiologia geral da reprodução humana", "o ciclo menstrual e ovulatório", "a prevalência, uso e acessibilidade dos métodos contraceptivos", as "principais IST (Infecções sexualmente transmissíveis)". Dar-se-ão a conhecer "as taxas e tendências de maternidade na adolescência" e as "taxas e tendências das interrupções voluntárias de gravidez". Daremos, enfim, o nosso contributo para a compreensão "da sexualidade como uma das componentes mais sensíveis da pessoa, no contexto de um projecto de vida que integre valores (...) e uma dimensão ética" e da "noção de parentalidade no quadro de uma saúde sexual e reprodutiva saudável e responsável".
N.B. Os excertos de texto entre aspas constituem os conteúdos mínimos enviados pela Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Currcular para o 3º ciclo, e podem ser retomados no Ensino Secundário.

A escola não se substitui à família, mas esta não deverá ignorar que - exactamente como acontece com a leitura - as crianças, os adolescentes, os jovens (e até os adultos) agem por mimetismo, ou seja, reproduzem os comportamentos que observam. Na esfera social que os rodeia e naquelas instâncias que os influenciam: revistas, telenovelas, séries, filmes, conteúdos na Internet. Assim sendo, de nada adiantará "ensiná-los" (ensinaremos nós alguma coisa?) se a nossa prática contrariar o que dizemos. Ou se não acompanharmos minimamente as leituras e visionamentos dos nossos filhos. Ou se ignorarmos a questão, deixando que as conversas entre jovens, tantas vezes eivadas de falsas crenças, germinem, gerando graves equívocos. Por muito que nos/vos custe, falar é preciso.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Sexo, afectos & escola

«Eu não sou nada puritano», clamava um colega nosso, especado a meio das escadas do Bloco A. «Eu não sou nada puritano», repetiu, «mas aqueles meninos não deviam estar ali assim.» O assim era um casalinho, na bissectriz do pavilhão, muito coladinho e aos beijinhos. Já leram a banda desenhada da série Zits? "Richandamys", if you know what I mean...

Descemos as escadas a rir. O colega, o tal que não é puritano, é muito simpático e tem graça. E tinha também muita razão. Comentámos que, de facto, não deviam estar ali. O Carlos Drummond de Andrade dizia (noutras circunstâncias, por certo; e pudicamente resguardado por parêntesis) que "(O que se passa na cama / é segredo de quem ama)".

Curiosamente, como eu e a minha amiga somos Directoras de turma, já tínhamos abordado essa temática a propósito de uma circular relativa à implementação da Educação Sexual no Ensino Secundário. Defendia a minha colega que, a seu ver, os jovens não tomam precauções (leia-se: não usam sistematicamente preservativos) porque não assumem o desejo.

As raparigas, em particular, receariam ser consideradas levianas por abordarem essa questão ou tomarem iniciativas a ela conducentes. O resultado é do estilo bem "pior a emenda do que o soneto", ou seja, gravidezes indesejadas, doenças sexualmente transmitidas, uso e abuso da pílula do dia seguinte e ansiedades várias. Resolvemos ir consultar (informalmente) a professora Beatriz Santos, uma das três professoras da equipa PES (Equipa de Promoção e Educação para a Saúde), e esta aludiu a uma questão (muitas outras haverá, certamente) que não nos tinha ocorrido: o preço dos métodos contraceptivos.

Numa altura em que professores e alunos preparam as reuniões de conselho de turma, talvez seja boa ideia abordar essas questões numa perspectiva informada, consciente, assumida e, sobretudo, serena.

O romantismo é bom e nós gostamos, mas, se estiver na hora de tomar decisões, sejam pragmáticos. Quanto aos beijinhos, o exibicionismo é sempre de desconfiar...

Braga mexe


Às vezes sonho acordada, pensando nos dons que gostaria que me tivessem sido concedidos. Não quero ser ingrata: afinal de contas, aprendi a ler, a escrever e a fazer contas, conduzo sem grandes percalços e cozinho medianamente. Podia ser pior. No entanto, gostaria muito de cantar e de dançar... bem.

Outro dom que me faz muita falta, e que não possuo, é o da ubiquidade. Diz-nos "o Houaiss" que se trata da «faculdade divina de estar concomitantemente presente em toda a parte». Eu, simples mortal, contentar-me-ia em poder estar em dois sítios ao mesmo tempo. Hoje, por exemplo, gostaria de ir à sessão da Comunidade de Leitores, onde Alexandra Lucas Coelho apresentará, às 21h45m, no estaleiro cultural da Velha-a-Branca, o seu Caderno afegão; e de assistir ao concerto dos "Kings of convenience". "Em não podendo", recomendo-vos vivamente a leitura do livro e deixo-vos um excerto de uma das músicas dos "Kings of Convenience" de que mais gosto, "Failure" - que é também uma das minhas frases favoritas:

«Failure is always the best way to learn»

"La vie en rose"

O 10º E e o 10ºG visionaram um filme de Olivier Dahan, protagonizado por Marion Cotillard, que ficciona a vida da famosa cantora francesa Edith Piaf. O filme é mediano, mas a música, essa, é extraordinária. Por isso vos deixo duas canções dignas de serem enviadas para o espaço sideral e, por conseguinte, para o ciberespaço:



"La vie en rose"

e


"Je ne regrette rien"

O banquete














Como já devem ter reparado, a Biblioteca está a promover vários eventos relacionados com o cinquentenário (!) da criação da série Astérix. Na quinta-feira a Biblioteca organizou um banquete "gaulês" em honra dos 75 professores que vieram este ano para a escola pela primeira vez. Não compareceram muitos, o que foi uma pena - por um lado; pelo outro, houve iguarias "francófonas" com fartura para os que vieram, e as probabilidades de ganharem em sorteio o álbum especialmente editado para a comemoração aumentaram exponencialmente.

Em todo o caso, com ou sem banquete, saibam que são bem-vindos: à escola e à Biblioteca.

Perdidos & Achados

Na quinta-feira perdi os meus óculos escuros, que tanto me esforcei por não perder. Fazem parte de um longo rol de óculos (e guarda-chuvas) perdidos. Se alguém os encontrar, é favor entregá-los à sra. D. Lúcia. O ambiente, os meus olhos e o meu porta-moedas agradecem. Só o meu oculista é que não...
Em contrapartida, encontrei um monte de lixo nas escadas que dão acesso à Biblioteca. Nos últimos tempos, este troço de escadas tem sido utilizado como local de convívio. Não acho mal: os alunos (as pessoas) têm o direito de se apropriarem dos espaços e de fazê-los seus. Acho também que esta escola está a precisar urgentemente de remodelação, mas ela já vem a caminho e é fantástica. Já me parece muito - mas muito - mal, que os alunos deixem detritos nas escadas. É uma falta de respeito pelos seus colegas, que frequentam os mesmos sítios; pelos funcionários, que têm de limpar um lixo que não foi colocado nos recipientes apropriados; e pelos professores que sobem as escadas. Ou ainda pelos visitantes que, não raro, acodem à Biblioteca. Será um lugar-comum dizer que a escola é de todos e que é preciso respeitá-la, pero que lo es, lo es...

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Da inveja

Embora não me considere uma mulher invejosa, tenho de admitir que invejo certas coisas e até certas pessoas. Como são muitas, vou deixar este texto em aberto, para lhe ir acrescentando as minhas inúmeras dores de cotovelo.

1. Inveja tecnológica:
  • do blogue "Gaveta de nuvens". Quem me falou dele foi a professora Isabel Costa e eu ia ficando doente quando o li. Que sorte têm aqueles alunos, por terem um professor de Português tão dotado para as TIC!
  • das alunas Sara Pereira e Cátia Ferreira do 12º N. Orientadas pela professora Ana Margarida Dias (outra pessoa que me provoca graves "cotovalgias" nessa área), vi uns trabalhos espectaculares, do ponto de vista gráfico, com as personagens do Astérix.

2. Inveja temporal:

  • da família Portas. Toda. Ao que dizem, todos, pai (Nuno Portas) e filhos (Miguel, Paulo e Catarina) dormem pouquíssimo. Imaginem-me com a minha idade, tendo tido mais quatro horas por dia para ler e trabalhar...
  • das pessoas que têm tempo para fazer uma sesta todos os dias e podem fazer férias fora das pausas escolares.

3. Inveja de pessoas que podem ir trabalhar a pé.

4. Inveja de pessoas que podem ver os filmes da Cinemateca. Mais filmes, em suma.

5. Inveja das pessoas que vivem no campo, no meio do silêncio. Que têm fruta e legumes com bicho e, se precisam de salsa, vão colhê-la ao jardim. Basicamente, tenho inveja da nossa amiga Zé.

N.B. As invejas podem ser incompatíveis entre si, do estilo "ter o bolo e comê-lo". Afinal, isto é só um devaneio ante-aula)

6. Inveja das pessoas que têm uma postura corporal perfeita, como a nossa amiga Ana Cristina. Por isso é que eu passo a vida a corrigir os meus alunos: para que, quando forem adultos, não tenham inveja.

7. Inveja dos livros e filmes a que os nossos alunos têm acesso. "No meu tempo" havia muito menos acesso à cultura. E notem que não estou a falar de Internet.

8. (...) E vocês? Têm inveja de quê?

Mulheres perfeitas

Um dos Contos Exemplares mais exemplar de Sophia de Mello Breyner Andresen, para mim, é (por razões muito subjectivas) "Retrato de Mónica". O livro está aqui na Biblioteca, os contos são tão breves quanto fantásticos, leiam-no. Um conto por intervalo, por exemplo. É perfeitamente possível.
Mas volto ao conto, e a Mónica:

"Mónica é uma pessoa tão extraordinária que consegue simultaneamente: ser boa mãe de família, ser chiquíssima, ser dirigente da «Liga Internacional das Mulheres Inúteis», ajudar o marido nos negócios, fazer ginástica todas as manhãs, ser pontual, ter imensos amigos, dar muitos jantares, ir a muitos jantares, não fumar, não envelhecer, gostar de toda a gente, gostar dela, dizer bem de toda a gente, toda a gente dizer bem dela, coleccionar colheres do século XVII, jogar golfe, deitar-se tarde, levantar-se cedo, comer iogurte, fazer ioga, gostar de pintura abstracta, ser sócia de todas as sociedades musicais, estar sempre divertida, ser um belo exemplo de virtudes, ter muito sucesso e ser muito séria."

Mónica poderia ser, ou talvez seja, nas versões importadas de Hollywood ou produzidas localmente (Lux, Caras, Nova Gente, etc.) o modelo de muita gente. Assim uma Barbie intelectual-caridosa. No texto adverte-se para algo que essas revistas tendem a esquecer: "Por trás de tudo isto há um trabalho severo e sem tréguas e uma disciplina rigorosa e constante. Pode-se dizer que Mónica trabalha de sol a sol."

Mas o que mais me importa reter neste texto notável é o excerto seguinte:

"De facto, para conquistar todo o sucesso e todos os gloriosos bens que possui, Mónica teve que renunciar a três coisas: à poesia, ao amor e à santidade.
A poesia é oferecida a cada pessoa só uma vez e o efeito de negação é irreversível. O amor é oferecido raramente e aquele que o nega algumas vezes depois não o encontra mais. Mas a santidade é oferecida a cada pessoa de novo em cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias."

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra



Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra

(Carlos Drummond de Andrade)

A vingança do poeta

Ontem, folheando a Antologia Poética do brasileiro Carlos Drummond de Andrade, recentemente adquirida pela Biblioteca, deparei com uma nota final do Autor, que escapa aos discursos do costume. Ora leiam:

"Fui muito criticado e ridicularizado quando jovem. O meu poema «No meio do caminho», composto de dez versos, repete de propósito sete vezes as palavras «tinha» e «pedra», e seis vezes as palavras «meio» e «caminho». Isto foi julgado escandaloso; hoje o poema está traduzido em 17 línguas, e me diverti publicando um livro de 194 páginas contendo as descomposturas mais indignadas contra ele, e também os elogios mais entusiásticos. Achavam-me idiota ou palhaço (...)"

E termina: «Acho que a literatura, tal como as artes plásticas e a música, é uma das grandes consolações da vida, e um dos modos de elevação do ser humano sobre a precariedade da sua condição.»

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Não me façam falar! (II)

Por isso, decidi que não vou falar:
- da Maitê Proença (mas lá que o Salazar foi eleito - num concurso televisivo, bah - o grande português do século XX, foi; e que há muitos portugueses que cospem, há);
- das declarações polémicas do José Saramago;
- de coisas, porventura importantes, mas que não tenham directamente a ver com as minhas aulas. Pelo menos enquanto não me esquecer do que ouvi, na sexta-feira passada, à entrada do bloco A.

Não me façam falar! (I)

Na sexta-feira ia a entrar no bloco A e ouvi um aluno não identificado a dizer o seguinte: «O não-sei-quantos é o meu herói. Conseguiu que a professora de Filosofia ficasse uma hora a falar!» Eu desconfio que a escola está cheia de "heróis" destes. Acho até que conheço alguns. E fico a pensar que algumas das coisas mais importantes que aprendi na escola, nomeadamente com a minha querida professora de Francês, Maria Laura Macedo, não tinham directamente a ver com a disciplina. Eram aqueles espaços em que aprendíamos a ser, a pensar, a estar no mundo. Mas NÃO resultavam de uma armadilha estendida por alunos com intenções dúbias a docentes bem intencionados.


Pois não deverá um professor de Filosofia responder a uma pergunta de um aluno?! Mesmo quando essa pergunta não se enquadra directamente no ponto do programa que está a leccionar? Não poderá ou não deverá comentar uma tema da actualidade acerca do qual é questionado? A resposta é, sem dúvida, afirmativa. Porém, se esta resulta de uma manipulação, temos alunos que estão a boicotar conscientemente o trabalho do seu professor. São uns heróis, são. Da mediocridade.

Tristeza

Este blogue tem estado parado e triste. Não é por acaso.



POEMA DE FINADOS

Amanhã que é dia dos mortos
Vai ao cemitério. Vai
E procura entre as sepulturas
A sepultura de meu pai.

Leva três rosas bem bonitas.
Ajoelha e reza uma oração.
Não pelo pai, mas pelo filho:
O filho tem mais precisão
(...)

(Manuel Bandeira)

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Campanha eleitoral na ESVV (IV)

Para concluir, espero:
As campanhas políticas, seja qual for a sua esfera (internacional, nacional ou local) devem ser conduzidas com elevação. Os programas devem ser pensados de forma realista, prevendo soluções concretas. Os eleitores devem saber o que está em causa e o que, verdadeiramente, distingue os candidatos. Após as eleições, devem exigir o cumprimento das promessas. E os eleitos ficam obrigados a promover e-f-e-c-t-i-v-a-m-e-n-t-e as condições de trabalho e estudo dos votantes envolvidos. E ponto final.

Campanha eleitoral na ESVV (III)

Volto ao livro A política explicada às crianças... e aos outros para transcrever uma parte que me parece particularmente pertinente nesta temporada eleitoral:



«A política não é mais do que a tua vida e a dos outros. É a forma como as pessoas se organizam para viverem em grupo. Afirmar "Eu cá não faço política" é o mesmo que dizer "Eu cá não respiro."
Ter uma opinião política é uma coisa fundamental. Não se escolhe uma opinião como quem escolhe a cor de uma gravata ou a marca de uns sapatos desportivos. Aliás, não se escolhe uma opinião.
É algo que existe no mais íntimo de nós próprios. É a forma como reagimos perante aquilo que se passa perante os nossos olhos, uma discussão, uma injustiça, uma manifestação de rua. Uma opinião é uma parte de nós mesmos. Se há algo que nos distingue dos animais, é justamente o facto de termos opiniões.
Por isso, deves bater-te decididamente pelas tuas opiniões. Não deixes ninguém sobrepor-se a ti, mesmo que isso te possa trazer alguns aborrecimentos. Não tentes imitar os outros. Pensa bem, sempre que tiveres de te pronunciar. Pesa bem os prós e os contras. Não vás atrás do que diz um amigo teu, só porque ele fala bem, porque é bom camarada ou porque outros fazem o mesmo. Não deixes que te "façam a cabeça", como é costume dizer. Não sejas como um catavento.» (pp. 25-26)
E o autor prossegue, enumerando num tom simples, sereno e didáctico, outros conselhos a seguir:
«Tu tens uma opinião, os outros são livres de ter a sua. Deixa-os falar. Ouve-os. Faz-lhes algumas perguntas. Se pensas que estão errados, tenta convencê-los. Mas se achas que têm razão, reconhece-o. Só os imbecis não mudam nunca de opinião. Se te provarem que estás enganado, seria estúpido teimares no teu erro.
Mas, sobretudo, não adoptes nunca uma opinião sem teres reflectido bastante. (...) Se, depois de teres reflectido, não tiveres opinião sobre um assunto, se, numa discussão, não souberes quem é que tem razão, di-lo também. Não é vergonha nenhuma fazer isso. Não adiras forçosamente à opinião da maioria. Nada prova que, só por serem muitos, estejam certos.» (p. 27)

Campanha eleitoral na ESVV (II)

Duas mãos amigas, duas, emprestaram-me o livro A política explicada às crianças... e aos outros, de Denis Langlois. O livro lê-se de uma assentada e tem umas ilustrações óptimas do desenhador francês, especializado em assuntos políticos, Plantu - cujo sítio oficial merece a visita.
Transcrevo uma parte do prefácio, que resume o que penso acerca da "coisa" política:
«A política não são só os discursos na rádio ou na televisão, os compadrios, as negociações, as promessas eleitorais: "Votem em mim e darei a todos um emprego. Elejam-me e conduzir-vos-ei ao paraíso.» É também a maneira como os seres humanos organizam a vida, os esforços que fazem para tentar criar um mundo no qual possam ser mais livres e mais iguais, no qual já não se olhem como inimigos mas como irmãos.
A política não é forçosamente uma coisa suja, que deve ser rejeitada. Para aqueles que são vítimas da miséria e da injustiça é também a esperança de uma mudança.
De qualquer forma, mesmo que não te metas com a política, a política mete-se contigo. Não se trata de um jogo (...) Haverá sempre gente a decidir por ti, a organizar a tua vida e a dos outros. É claro que podes deixá-los agir e limitar-te a ver o mundo a girar à tua volta, não intervir quando se comete uma injustiça, dizendo para contigo. "As desgraças dos outros não me dizem respeito." Mas será isso viver? Não será apenas existir como um vegetal?» (pp. 5-6)



Campanha eleitoral na ESVV (I)

Hoje a chegada à escola pareceu-me uma descida aos infernos. A campanha eleitoral começou e, com ela, o cortejo habitual: muita gente, muita excitação, papéis, décibeis, autocarros, tendas, balões, rebuçados, flores.
Tive mais dificuldade em ler os programas das listas, embora seja uma leitura digna de se fazer. Fiquei perplexa com certas promessas. A meu ver, são totalmente irrealizáveis. Numa breve sondagem, perguntei a algumas pessoas o que é que as Associações de Estudantes têm feito pela escola. Só me falaram em bailes e viagens de finalistas.
Eu própria tenho uma experiência díspare, a de um representante dos delegados de turma no Conselho Pedagógico que desmobilizou à primeira e de uma delegada que participava activa e construtivamente, defendendo os alunos que representava de forma assaz pertinente.
Por isso, antes de votar, leiam os programas e questionem-se acerca das reais intenções dos elementos das campanhas. E, depois, "monitorizem" as promessas que vos foram feitas.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Dia Mundial da Alimentação





Com tanta moralina, já me esquecia das nossas "boas práticas".
Na sexta-feira cheguei ao Bloco A e deparei com duas mesas cheias de bolos apetitosos (todos eles confeccionados com frutos frescos ou secos), chás de ervas e maçãs. Abasteci-me logo, e fiquei a admirar o à-vontade das alunas que participaram neste projecto. Além da Alzira Dias (que já conheço porque é uma assídua frequentadora da Biblioteca), também as outras meninas demonstraram uma atitude... deixem-me dizer isto... assertiva. Ainda gostei mais do que dos bolos.


Antídotos contra a TDACHSR

Parafraseando o Júlio Machado Vaz, "ora vamos lá ver se nos entendemos":
1. De acordo com José Pacheco Pereira, ainda estarão imunizados contra este vírus os que foram expostos a «(...) algum silêncio, algum tempo lento, alguma prevalência da leitura sobre a televisão, ou apenas a televisão e os jornais, mas tudo ainda muito devagar e pouco "interactivo".»
2. Inocular-se-ão deliberadamente contra este vírus os detentores do verdadeiro poder. Ora leiam: «O vírus da TDACHSR produz uma rede muito complexa porque emaranhada, mas é incapaz de gerar uma seta, uma direcção, um sentido, um significado. E produz uma memória curtíssima, uma presentificação absoluta, uma incapacidade de lembrar tempos, e de os comparar. Pode-se "ler" nesta "nuvem"? Poder pode, mas fora dela. É o que fazem os poderosos que se colocam noutro lugar. Atentos. Sem deficit de atenção. Com memória. Focados. No "ponto".»
Pacheco Pereira é por vezes acusado de ser demasiado pessimista. E embora eu concorde que - como diria o Mário de Carvalho - nunca se deve confundir o Manuel Germano com o género humano, julgo que estas palavras nos deviam interpelar.

Educação cívica

Correndo o risco de este blogue ser uma espécie de satélite do Público, desta feita é o artigo de Sábado de Pacheco Pereira (JPP) que nos chama a atenção. Em primeiro lugar, pelo título longuíssimo : "Transtorno do déficit de atenção cívica com hiperactividade social em rede (TDACHSR)".
Transcrevo um dos passos deste artigo, que me parece muito pertinente numa altura em que receio que os soundbytes da campanha para a Associação de Estudantes não sejam acompanhados por programas devidamente pensados e, depois, por uma atitude participativa por parte dos alunos que vierem a ser eleitos:
«Chegada às escolas, a doença começa de baixo para cima, nos mais novos, e está em plena força nas "novas gerações" e nas ex-"novas-gerações". Ou seja, está a fazer-se cada vez mais forte quando essas gerações hoje infantes chegarem à vida cívica, ou seja, a partir do momento em que começam a escrever umas banalidades arrogantes em qualquer sítio da Rede, quando passarem do SMS no telemóvel para o Facebook e o Twitter. Comunica-se também um pouco para os "mais velhos", mas não é ainda dominante. Estes ainda mantêm um certo arcaísmo social, alguma "atenção", porque ainda conheceram na sua juventude algum silêncio, algum tempo lento, alguma prevalência da leitura sobre a televisão, ou apenas a televisão e os jornais, mas tudo ainda muito devagar e pouco "interactivo". Ainda prezam a sua privacidade, outro dos bens que se estão a tornar escassos por uma geração que acha normal ter localizadores nos telemóveis e começar qualquer conversa por "Onde estás?". E não lhes passaria pela cabeça colocar fotografias em poses obscenas no hi5, ou dizer "onde estão" de meia em meia hora no Twitter.
O que é que caracteriza esta TDACHSR? Uma completa falta de atenção ao que é relevante, cultural, social, económica, politicamente, uma enorme dificuldade de identificar o "ponto" e de ir ao "ponto". Pelo contrário, manifesta-se por uma imersão numa multidão de "pontos", todos igualmente dispersos, todos igualmente irrelevantes. Uma enorme dificuldade em aprender, porque nunca se está no mesmo sítio, nunca se está calado, nunca se pára de mexer, nunca se desliga o telemóvel, nunca se sai de frente de écrãs, televisão e computador, nunca se deixa de falar, de "twitar", de enviar SMS, nunca se deixa de receber "tweets" e SMS, fotografias, sons, vídeos, alguns, poucos, textos.»
Moralina, sim - mas desta vez não é minha...

Quem sabe, sabe

Na Sexta-feira fiquei roída de inveja. Li o Público e, na rubrica diária do Miguel Esteves Cardoso (MEC), lá vinha a designação, o nome justo, o nome certo, para a Agustina Bessa-Luís: génia. É isso que a senhora é, uma génia.
Em latim existe uma expressão, genius loci, que, levianamente traduzida, seria algo como o génio (o espírito, a alma) do lugar. No romance Howards End, E. M. Forster atribui a uma propriedade rural inglesa uma alma, confiada a uma guardiã e transmitida de geração em geração - embora não na mesma família. Assim, o genius loci do campo português (com as suas inúmeras extensões na cidade) teria esta guardiã que é, simultaneamente, uma escritora de génio.
A escrita de Agustina flui de forma misteriosa, iluminando o que não sabemos, dizendo-nos o que não queremos saber mas que não podemos evitar. Os génios incomodam, e Agustina incomoda.
Pressentimos, pois, outra acepção no nome justo que MEC lhe atribui: algo a que por vezes se chama mau génio, não dissimulado por diplomacias, punhos de renda, delicadezas, subtilezas.
A civilização é uma coisa boa? Será, mas algo se perde quando esquecemos o chão que pisamos, quando cortamos as árvores, quando ignoramos a água que corre sob o asfalto. Quando esquecemos que, mais tarde ou mais cedo, ela encontrará um caminho alternativo e inundará tudo outra vez.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Uma feiticeira portuguesa faz anos

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Hoje este blogue deveria ter festejado, em tempo útil, os anos da escritora Agustina Bessa-Luís. Ainda por cima, esta vossa escriba sentada é uma grande apreciadora da obra da escritora amarantina. Mas isso era noutros tempos. Agora falta-me o tempo e o fôlego, e tenho-me dedicado a obras mais breves. Tenho saudades dos tempos em que lia grossos volumes, como A Muralha, e me sabiam a pouco. Enfim.
Talvez a melhor homenagem a um escritor seja, como reiterou Maria João Seixas no programa "A força das coisas" (aos Domingos das 10h às 11h na Antena 2), lê-lo.
E, assim, vou à estante procurar o meu exemplar desconjuntado - porque muito lido e relido da, para mim fascinante, Sibila. A essência de uma certa portugalidade, de que muitos se envergonham e que outros ignoram por completo, encontra-se lá - e chama-se Quina.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

"Un amoureux trop curieux"

Em resposta ao texto anterior, encontrei num livro de um autor francês que muito aprecio, Bernard Friot (e desconfio que há "autores" portugueses que também o apreciam muito, não me perguntem porquê...), uma história que mostra as coisas terríveis que podem acontecer a quem maltrata plantas (animais, pessoas...)

Un jeune amoureux cueillit au jardin une reine-marguerite. Il commença - c'était un amoureux bien peu original - à arracher un à un les pétales.
- Elle m'aime un peu, beaucoup...
- Mais arrêtez, ça fait mal! hurla la marguerite.
- ... à la folie, passionnément, pas du tout. Elle m'aime un peu..., continua le jeune homme.
- Bourreau, assassin, monstre sanguinaire, jardinier catastrophique! gémissait la marguerite atrocement torturée.
On en dirait autant à sa place, je suppose.
Mais l'insensible amoureux récitait imperturbablement:
- Beaucoup, à la folie, passionnément...
Jusqu'au dernier pétale:
- ... pas du tout!
- Bien fait! dit la fleur.
Et elle mourut dans un très long soupir.

Ai as árvores ai as árvores ai as árvores ai as árvores


Há muitos, muitos anos, ainda vocês não eram nascidos, li um artigo interessantíssimo acerca da sensibilidade das plantas. Segundo o seu autor, numa esquadra de polícia americana alguém tinha pendurado numa planta da borracha um detector de mentiras ligado. Quando lhe voltaram a pegar, constataram que o detector de mentiras tinha registado movimentos. E que movimentos eram esses? De cada vez que um cigarro era apagado no vaso, a planta estremecia.
Agora sigam o meu raciocício: se uma planta estremece por causa de um cigarro apagado, o que "sentirá" ela - no seu modo vegetal - quando é podada?!!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Planeta banda desenhada

O meu aluno Vohel surpreendeu-me com os seus conhecimentos sobre manga, banda desenhada de origem nipónica acerca da qual eu praticamente só sei o que li em O Japão é um lugar estranho (Peter Carey), livro que será hoje apresentado à Comunidade de leitores da Velha-a-Branca pelo seu tradutor, Carlos Vaz Marques.



O Vohel trouxe-me dois livros: Naruto, de Masashi Kishimoto, e Hunter, de Yoshihiro Togashi. Muito avisadamente, explicou-me como devia abrir e ler o livro. Para lhe retribuir a gentileza, pedi à professora Ana Margarida Dias para colocar aqui os sites de dois autores de BD belga de referência, Benoît Peeters e François Schuiten:
La fièvre d'Urbicande, cuja versão francesa pode ser requisitada na Biblioteca.
Vejam também

e

Oh as árvores as árvores as árvores as árvores

Numa das série de banda desenhada que mais aprecio, Astérix (que existe aqui na Biblioteca), uma personagem canina, o Idéafix (que é de ideias fixas), sofre como um cão (o trocadilho é fácil, demasiado fácil, mas irresistível), sempre que uma árvore é arrancada.


No ano passado fiz uma promessa, que ainda não cumpri, à escritora Maria do Céu Nogueira. Ao passarmos no Alívio, ambas nos insurgimos contra a forma como as árvores tinham sido podadas. O panorama era tanto mais confrangedor, quanto de um lado tinham sido podadas e do outro não.


Desde que as brigadas municipais estão equipadas com motoserras, as árvores não são podadas, são mutiladas. Metem dó, as pobres. Depois crescem, é verdade, mas tortas, cheias de nós. Menos altivas. Que se cortem os ramos podres, acho bem. Agora que se dispam as árvores de ramos e de dignidade, acho mal. Dá-me vontade de uivar, como o Idéafix.



O meu sonho era que, tal como no álbum O Domínio dos Deuses, um druida inventasse bolotas mágicas capazes de gerar instantaneamente uma árvore altaneira. Andaria com os bolsos cheios de bolotas e atirá-las-ia sorrateiramente para as valas. Mas, como isso só existe nos meus sonhos mais selvagens, resta-me apelar às Câmaras Municipais para que deixem as árvores crescer em paz...

Escola e política

No rescaldo da campanha eleitoral, já me posso permitir fazer aqui uma crítica que silenciei ao longo destes dias. Tem ela a ver com os carros equipados com altifalantes que debitam palavras de ordem ao passar pelas(s) escola(s). A meu ver, devia haver um perímetro (e um horário) protegido.
As campanhas eleitorais (e incluo nesta crítica as internas à escola, designadamente aquelas que dizem respeito à Associação de Estudantes) deviam ser mais ecológicas, evitando desperdícios de papel e de lixo, assim como o ruído excessivo.
Mas o que mais impressiona é o contraste absoluto que existe entre a mobilização de meios e recursos postos ao serviço das campanhas e o eclipse (quase) total das iniciativas associativas ao longo de todo o ano.
Nunca me cansarei de dizer que a política é, ou deveria ser, uma actividade nobre. Por que não começar logo aqui, na escola?