terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Ler jornais é saber mais

Andava eu encantada com uma aluna minha que leu O monte dos vendavais, da escritora britânica Emily Brontë, quando leio no Expresso de sábado que esta leitura se deve ao culto de Stephanie Meyer.

Após a decepção inicial, pensei: «E depois?! Que mal tem?» Nenhum, na verdade. Leu algo que, de outro modo (se fosse eu a sugerir, por exemplo) talvez não lesse. Leu, é o que interessa.

Mas aproveito o lanço para recomendar o livro (tarefa de Dezembro do Duas culturas, livro do secundário para o Concurso Nacional de leitura) Nunca me deixes. Se lêem, leiam.

O Natal, afinal

Mandaram-me um "postal" de Natal, realizado por uma turma de Projecto II do curso de Design Universidade de Aveiro, que não resisto a partilhar convosco:

http://www.youtube.com/watch?v=nhxf2Xg4xGc

Além da crítica ao consumismo desenfreado, este vídeo vem provar que, com boas ideias e uma certa economia de meios, é possível fazer trabalhos muito significativos. A ter em conta para a tarefa do mês de Novembro do concurso lançado no blogue Duas Culturas.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O verdadeiro Natal

O lápis azul da censura proibiu-me de escrever/transcrever mais textos sobre anjos e sobre árvores. Segundo ele, não haveria mais imagens disponíveis para ilustração. Este fragmento de poema de Natália Correia, porém, talvez escape:

UMA HISTÓRIA VERDADEIRA DE NATAL

Orquestra de anjos o Natal
tem um som de cristal e prata
mas é uma valsa de cacos que toca
nos bidões do bairro de lata.

Versáteis músicos os anjos
com caracóis de fios de ovos
também um tango de metralha
tocam É a música dos novos

magos que bombardeiam cidades
num cinzeiro de bombardeamentos
mas é Natal porque no mundo
estar presente é dar presentes."

(in CORREIA, Natália - Poesia completa. Dom Quixote, 2007, p. 338)


Cacos? Caracóis de fios de ovos? Tango de metralha? Estar presente é dar presentes?! Que lhes parece?

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

"Quanto mais quente pior"

A propósito da Cimeira de Copenhaga, e "whith a little help from my friends":





O amor (não) é lindo III

Uma pessoa que conheço costuma pontuar com ironia momentos lamechas com o comentário "o amor é lindo...", daí o título destas três entradas.
Termino este devaneio com um fragmento de uma canção dos Tribalistas que sempre me intrigou e que talvez, lido à luz de Adélia, passe a fazer sentido:

"O amor é feio / Tem cara de vício"

Desmistificar é bom, e eu gosto...
Mas atenção, que a música continua:

"Ele mete medo / Vou lhe tirar isso / O amor é lindo..."


O amor (não) é lindo II

Fragmento de "Amor feinho":



"Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho"

in PRADO, Adélia - Poesia reunida. ARX, 1991, p. 97

O amor (não) é lindo I


Como fui na sexta-feira à sessão do Sindicato da Poesia consagrada à poeta brasileira Adélia Prado, que comemorará, no dia treze, setenta e quatro anos, não resisto a transcrever dois poemas seus que me chamaram a atenção:

"Os moços bonitos me doem,
impertinentes como limões novos.
Eu pareço uma actriz em decadência,
mas, como sei disso, o que sou
é uma mulher com um radar poderoso.
Por isso, quando eles não me vêem
como se me dissessem: acomoda-te no teu galho,
eu penso: bonitos como potros. Não me servem.
Vou esperar que ganhem indecisão. E espero.
Quando cuidam que não,
estão todos no meu bolso."

in PRADO, Adélia - Poesia reunida. ARX, 1991, p. 96

Promiscuidade

O poema que aqui colocámos na semana passada vinha a propósito de um texto escrito no Duasculturasblogspot.com acerca da Matemática japonesa antiga. A associação a este poema fabuloso da Sophia de Mello Breyner Andresen, que mostra a forma como fomos vistos quando chegámos ao Japão, era irresistível.

"Narigudas figuras, inchados calções": cada povo vê-se, e ao tipo que representa, no centro do mundo. Lemos com facilidade as diferenças que nos distinguem e ignoramos as que diferenciam os outros, o que explica que achemos "os chineses todos iguais" e que consideremos, inconscientemente, ameaçadores os rostos com características diferentes das "nossas". O "outro", o que não é como nós.
O poema de Sophia desvenda-nos essa outra faceta dos biombos Namban, a étnica. Para os japoneses, éramos (somos?) todos iguais. Feiinhos.