sexta-feira, 27 de março de 2009

A notícia da devassidão de Pedro Mexia é claramente exagerada


Os meus alunos de décimo ano sabem que aprecio muito a escrita de Pedro Mexia. Aliás, no primeiro período fizeram recriações, algumas delas brilhantes, da sua crónica "As bodas".

A Ler, que não compro para não ficar angustiada com a imensidão de livros que gostaria de ler mas para os quais não tenho tempo (daí os meus devaneios de prisão...) traz a seguinte chamada de capa: "Pedro Mexia escreve sobre sexo, amor & astrologia (e é devasso)".

Isto é que é saber! Fiquei logo cheia de inveja... se eu pudesse escrever coisas assim neste nosso blog, a taxa de audiência, que deve andar algures entre um leitor por semana e os três leitores por mês, subia logo a pique.

Mas não posso, porque os nossos alunos, que às vezes dizem palavrões de fazer corar o Mário Cesariny, são muito púdicos em relação a certas coisas. Por exemplo: passa-se-lhes um filme para maiores de doze anos e logo arregalam os olhos se aparecer um casal bem tapadinho, mas na cama ("O Gosto dos Outros"); uma rapariga com uma bola de matraquilhos na boca ("O carteiro de Pablo Neruda" a imitar prosaicamente o morango de "Tess"); alguém a fazer um gesto que eu já vi vários alunos a esboçarem nos intervalos ("Paris je t'aime"); ou um rapaz a assumir (verbalmente) a sua homossexualidade ("Persépolis"). E deviam ver como os "merde" da avó de Marjane Satrapi os escandalizam...

Ora acontece que eu ontem fui jantar a casa de uns amigos. A televisão tinha ficado ligada e, quando voltámos à sala de estar, estava a passar, numa telenovela, uma cena de strip-tease. Ainda não eram 22h.

Ficámos a comentar a quantidade de cenas deste teor que passam a qualquer hora do dia e da noite na televisão, sem que, aparentemente, alguém se insurja de modo tão público como aconteceu há dias em Braga. Falou-se também do destaque que alguns telejornais dão aos Salões Eróticos, mas que não dão, por exemplo, ao Salão do móvel (estávamos a conjecturar, claro. Mas vocês percebem a ideia). Se isto não é hipocrisia, então não sei o que será...

Quanto à crónica de Pedro Mexia, leiam-na. Mas em verdade vos digo que a notícia da sua devassidão foi claramente exagerada...

O estranho caso do assassino da leitura

Pedi emprestada a revista Ler porque queria ver uma entrevista do Carlos Vaz Marques ao António Barreto, um dos meus "gurus".
Infelizmente, parece-me que há lá algumas afirmações menos ponderadas. Claro que eu só me posso pronunciar sobre a parte da realidade que conheço. Porém, sendo professora de Português e trabalhando em equipa com vários colegas meus desta e de outras escolas, discordo que se diga "(...) a escola hoje destrói a leitura (...)", designadamente "(...) com a análise estruturalista e linguística dos textos (...)".
Claro que me aflijo, e muito, pelo facto de ter de trabalhar programas tão extensos, tantas competências - e, às vezes, tantas lacunas - em apenas duas vezes noventa minutos por semana. É óbvio que, tendo cento e oitenta alunos, não poderei desempenhar o papel que António Barreto preconiza, que consiste em "adequar o tipo de livro à pessoa em causa" - que é o papel do pedagogo grego, do perceptor privado, do mentor... ou dos pais.
Mas, mesmo sendo uma professora da vilipendiada "escola de massas", tento sugerir livros que, a meu ver, agradarão a este ou àquele aluno. E é frequente aceitar, sem sombra de remorso, que apresentem obras que de forma alguma fazem parte das minhas preferências pessoais.
É verdade que nas escolas coexistem as práticas mais diversas. Mas não podemos ignorar que, a par da entronização do Magalhães, há também um Plano Nacional de Leitura. E bem sabemos que, embora hoje haja muitos livros à disposição dos alunos, eles têm de competir com os muitos outros interesses dos jovens.
Ainda assim, considero que há alunos que lêem muito. Muitíssimo. E não me baseio apenas nos dados deste nosso observatório, mas ainda no que conheço de outros contextos.
Daí que considere, parafraseando Mark Twain, que a notícia da morte da leitura na escola é claramente exagerada.

Apagão

A professora Cidália Paínço lembrou-nos que amanhã, Sábado, vai haver um apagão entre as 20h30m e as 21h30m. Por isso, queridos alunos, vocês que estão umbilicalmente ligados aos vossos telemóves, programem-nos para vos avisar. A essa hora, desliguem as luzes e contemplem, por exemplo, o firmamento. Sintam que fazem parte de uma corrente platenária. Olhem com desprezo os que não aderirem à iniciativa (pobres ignorantes!).


Façam como a maioria dos europeus, que olham de lado, e com razão, pessoas que não vão às compras com o seu próprio saco reciclável. A boa educação ambiental vê-se nestes pequenos gestos.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Ouvido no quarto-de-banho

Estará este blog a ficar bisbilhoteiro? Não sei, digam-me vocês.
Às vezes apetecia-me andar de bloco de notas na mão, a recolher, simplesmente, o que as pessoas dizem. A cada passo fico surpreendida com o que ouço. Pergunto-me como é que o Lobo Antunes, fechado naquela cave/garagem/tugúrio, consegue escrever crónicas tão tal-qual-a-vida. Eu tenho o privilégio de estar rodeada de gente por todos os lados (sou o oposto de uma ilha. Ou ainda: se todo o homem é uma ilha, um professor não passa de uma península. Ou algo assim...).
Ora, estava eu no quarto-de-banho e ouvi a seguinte resposta a uma pergunta que já não consigo reproduzir: «- Um filho? Mas como é que eu posso ter um filho, com tantos filhos que tenho aqui?»
Esta resposta vem exactamente ao encontro daquilo de que ameacei falar na quarta-feira. É que as crianças passam tanto tempo na escola que os professores passaram a assumir, cada vez mais, os papéis que os pais, os avós (a família alargada, uma aldeia inteira) dantes exerciam. De facto, numa certa medida, eles são nossos filhos. Mas ao mesmo tempo não são. Se fossem, "os meus" (eu sei que estou a copiar descaradamente uma expressão que foi patenteada pela professora Graciosa Ferreira) não diriam nem fariam certas coisas.
Assim mesmo, fiquei a pensar naquela minha colega, cujo rosto desconheço e cuja voz não reconheci, e no seu lamento.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Casa de pais, escola de filhos

E depois, há os pais que deixam os filhos a apodrecer nos infantários porque ficam com mais tempo livre. O mundo é um lugar estranho.

Casa de pais, escola de filhos

Este texto, prometo - ou ameaço? -, vai aumentar, aumentar, aumentar. Isto porque o tema é actual, difícil e polémico. Ele surge a propósito de vários textos que li recentemente na imprensa acerca do tempo de permanência das crianças e jovens na escola. Julgo que este interesse tem a ver com a reivindicação de dilatação dos horários de abertura de creches, infantários e escolas por parte das Associações de pais e encarregados de educação.
Já estão a ver por que motivo este tema é tão polémico: logo à partida, ficamos um pouco arrepiados por haver pais que precisam de deixar crianças 24 horas por dia num local que não a sua própria residência. Por haver pais que os deixam de madrugada, que os vão buscar noite fechada. Mas as pessoas que vivem nos mesmos locais vivem, frequentemente, em universos diferentes. Um caso paradigmático - e estou a pôr a fasquia muito alta - é o de pilotos e pessoal de bordo. Mas há muitos outros casos, bem menos "glamourosos":
Uma das curtas metragens do filme "Paris je t'aime", intitulada "Loin du 16e" e assinada por Walter Salles et Daniela Thomas, mostra uma jovem de tipo latino a deixar, noite escura, um bebé numa creche. O bebé chora e ela volta para trás. Canta e faz um gesto calmo, quase hipnótico, com as mãos. Sai e apanha vários transportes até chegar a uma bela casa. Está atrasada, e a patroa fica um pouco aborrecida. Pergunta-lhe se pode ficar até mais tarde nesse dia. Ela hesita, mas aquiesce. Veste uma bata e vai trabalhar. A casa parece vazia. De repente, ouve-se um ruído: um bebé a chorar. A jovem parece interdita. Nós ficamos inquietos (talvez alguns se lembrem de "A mão que embala o berço"). Ela olha. Poder-se-ia ler, no seu olhar, alguma repugnância?
Mas a jovem limita-se a erguer a mão. E canta:
«Qué linda manito que tengo yo, qué linda y blanquita que Dios me dio
Qué lindos ojitos que tengo yo, qué lindos y negritos que Dios me dio
Qué linda boquita que tengo yo, qué linda y rojita que Dios me dio»
O nosso arrepio mudou. Já não é o arrepio dos filmes de terror, é o arrepio da compaixão.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Não podemos ignorar


No Verão passado a professora Isabel Leite emprestou-me um livro da Agota Kristof, intitulado O caderno grande. Um livro duro de se ler, mas de que gostei muito. Li depois os restantes livros da trilogia: A prova e A terceira mentira (passíveis de serem requisitados aqui na Biblioteca). A temática das convulsões que a II Guerra Mundial provocou na Europa (e não só) - e, acima de tudo, na vida dos indivíduos - é fascinante.

O primeiro livro que quase todos lemos foi O Diário de Anne Frank (se porventura o não leram, ele existe na Biblioteca) Na Comunidade de leitores da Velha-a-Branca tive conhecimento - e li, com muito proveito - de O Diário de Etty Hillesum e O Diário de Hélène Berr. As duas primeiras viveram na Holanda e a terceira na França ocupada pelos nazis. Todas morreram em campos de concentração. Os seus testemunhos em primeira mão são documentos impressionantes, arrepiantes, mas também imprescindíveis.

Há várias obras de arte, para além do Caderno vermelho, que aludem a esta temática. Aqui na Biblioteca temos um dos meus preferidos, a novela gráfica Maus, de Art Spiegelman. Acreditem, é uma das coisas mais marcantes que já li. Também podem levar o clássico Se Isto é um Homem, de Primo Lévi e Rue des boutiques obscures, de Patrick Modiano.

Se preferirem filmes (embora eu cá seja pelas misturas...), podem ver O grande ditador, de Charles Chaplin, A lista de Schindler, de Steven Spielberg, A vida é bela, de Roberto Benigni ou O Pianista de Roman Polanski. Temos também o documentário vídeo "Aristides de Sousa Mendes: o cônsul injustiçado". Requisitem-nos aqui, mas munam-se de lenços de papel, que nós não vendemos nada a ninguém...

Toda esta conversa vem a propósito de dois filmes que devem estar quase a chegar a Braga: O leitor (livro de Bernhard Schlink, filme de Stephen Daldry, o mesmo dos excelentes Billy Elliot e As Horas) e O rapaz do pijamas às riscas (livro de John Boyne, filme de Mark Herman). Não temos o primeiro livro, embora o consideremos bastante recomendável (eu tenho uma, mas apenas uma - e pequena - reserva). Mas temos o segundo. Querem ver como começa?
«Certa tarde, quando Bruno chegou a casa depois da escola, ficou surpreendido ao ver Maria, a criada da família - que andava sempre de cabeça baixa e nunca levantava os olhos do chão - no seu quarto, a esvaziar-lhe o roupeiro e a arrumar tudo em quatro grandes caixotes de madeira, até mesmo aquelas coisas que ele tinha escondido no fundo do roupeiro e que eram dele e só dele e não diziam respeito a mais ninguém."


sexta-feira, 20 de março de 2009

Resmas de "Zits"

A sugestão de fim-de-semana do Hugo Fernandes do 10ºH é a série de Banda desenhada Zits, de Jerry Scott e Jim Borgman, de que a Biblioteca adquiriu recentemente vários exemplares.

Imperdível para professores (curso acelerado de compreensão da adolescência/juventude/idade do armário), pais (Não estão sós!... infelizmente) e alunos (leiam, e depois me dirão). Os livros estão num estado deplorável, o que, querida Ana Francisca, é bom sinal.

Agora que a Primavera chegou e a escola está polvilhada de "Richandamys" (if you know what I mean...), a Biblioteca mantém os seus atractivos...

Primavera

Ontem tive de fazer um telefonema "institucional" e sentei-me no PBX à espera que a Sra. D. Graça fizesse a ligação. Olhei para o calendário e lá estava: a Primavera começa hoje às 11h44m.

É tão estranho, não é...?, que a Primavera comece assim, com hora marcada. Tinha acabado de ler uma crónica de Luis Fernando Veríssimo (um autor transversal, no sentido em que tanto o recomendamos a professores como a alunos. As crónicas, que saem semanalmente no Expresso, são engraçadíssimas - e também estão compiladas em livros. Gostei particularmente do romance O Clube dos Anjos) onde ele dizia, no seu modo inimitável, que só gostava do Outono. Eu gosto da Primavera, talvez porque, felizmente, não sou achacada a alergias.

Por isso, mesmo sabendo que o bom tempo não irá durar, lhes deixo aqui votos de boas leituras e de uma boa Primavera. Se alguma vez depararem com o filme "Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera", vejam-no. Não é só o título que é bonito...

Bisbilhotices

Ia eu a sair de uma aula, quando ouvi uma aluna a dizer para outras duas: "Gostei tanto daquele poema!..." Eu já disse (mais concretamente: escrevi) neste blog que muitos dos meus princípios se esbatem quando se trata de livros ou de leitura.
Por isso, desci as escadas a correr e fui falar com elas (ora, falar com desconhecido(a)s também não faz parte dos meus hábitos). Perguntei à aluna que poema a maravilhara e como se chamava. A Eduarda Gomes do 10º B "adorou" (como eu, aliás) o poema "Porque" de Sophia de Mello Breyner Andresen:
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

quarta-feira, 18 de março de 2009

A lógica é uma batata


Os alunos do oitavo ano da escola fizeram cartazes acerca da história da batata e afixaram-nos na Biblioteca. Há pouco fui vê-los e, para meu espanto, um deles estava pendurado de pernas para o ar (agora já não está, que a Sra. D. Lúcia, sempre atilada, foi pô-lo direito).

Eu ri-me - mas fui muito, muito injusta. E foi o professor Amadeu Sousa que me pôs no meu lugar, explicando-me que é um método utilizado pelos publicitários para chamar a atenção. E que resulta, porque ficamos curiosos e vamos logo ler. As coisas que estes nossos alunos do oitavo sabem...

Frida Kahlo

Hoje é dia de reuniões. Por isso vos deixamos sugestões que nós próprias não poderemos seguir. Ah, as reuniões...
A dado momento, olharemos pela janela e lembrar-nos-emos de
um filme, um livro, dois poemas

O filme chama-se Frida e está disponível aqui na Biblioteca. É protagonizado por Salma Hayek, foi nomeado para cinco Oscares e obteve dois.
O livro chama-se Diego e Frida e foi escrito por Jean-Marie Le Clézio, o prémio Nobel da Literatura.

Os poemas foram pintados por Jorge de Sousa Braga e constituem um bom "aperitivo" para a vida e obra - ambas fascinantes - desta mulher.

AUTO-RETRATO

Aqui me pintei eu, Frida Kahlo, com a imagem do espelho suspenso sobre o meu dossel. Tenho trinta e sete anos e é o mês de Julho de mil novecentos e quarenta e sete. Em Coyacan, México, lugar onde nasci.
Talvez um espelho côncavo reflectisse melhor a minha imagem.


UM QUADRO DE FRIDA KAHLO

Coluna vertebral está quebrada em três locais na região lombar; o colo do fémur apresenta duas fracturas, assim como as costelas. Na perna esquerda há doze fracturas. O pé direito está esmagado. Apresenta também fracturas no osso ilíaco. Um corrimão trespassa-lhe o ventre, penetrando pelo flanco esquerdo e saindo pela vagina.

Obs. Eu já tinha tido dito que Jorge de Sousa Braga, poeta de Cervães, é médico? Não disse; mas direi agora; e ainda que esta descrição corresponde com exactidão aos ferimentos sofridos por Frida Kahlo na sequência de um acidente.

Leiam também, se puderem, se quiserem, "A paleta de Frida" e "O pesadelo de Frida". Eu tive medo que o lápis azul da censura se abatesse sobre os seus vermelhos - que não os da hemoptise.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Saturno em Cervães

O poeta Jorge de Sousa Braga é de Cervães. Ando cheia de vontade de partilhar convosco alguns dos seus poemas - embora muitos não possam ser transcritos aqui, porque corro o sério risco de ser destituída deste meu cargo de escriba sentada.
Só para verem o estilo, o primeiro livro que tive chamava-se De manhã vamos todos acordar com uma pérola no (piiiiiii). Lembro-me perfeitamente de ter corado como uma papoila quando o fui pagar ao balcão.
De outra vez, numa sessão do Sindicato da Poesia em que os assistentes também tinham de ler poemas, calhou-me um com uma palavra que eu nunca tinha dito (pelo menos em voz alta. Em voz baixa, a conduzir, no segredo do meu carro, já não garanto). Chamava-se... Não me lembro como se chamava.
Hoje vou deixar-vos um poema muito inofensivo e muito belo, um poema curto, um...
POEMA DE AMOR
Esta noite sonhei oferecer-te o anel de Saturno
e quase ia morrendo com o receio de que não
te coubesse no dedo.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Lista de preferências

Cara anónima do 12º:

Nem imagina a quantidade de livros requisitados nesta Biblioteca no decurso do segundo período!
Olhando por alto e de relance para a lista, dir-lhe-ei que foram lidos livros de Truman Capote, Gabriel Garcia Marquez, Patrick Suskind, George Orwell, Kafka, Primo Levi, Torrente Ballester, José Cardoso Pires, José Jorge Letria, Daniel Pennac, Jules Verne, Teresa Lago, Tolkien, Manuel da Fonseca, Umberto Eco, José Saramago, Camilo Castelo Branco, Almeida Garrett, Saint-Exupéry, Alexandre Honrado, Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner, Luís de Sttau Monteiro, Fernando Pessoa, Bill Bryson, Jostein Gaarder, Luís Sepúlveda, Patrícia Cornwell (que bela sugestão de fim-de-semana!), Patricia Highsmith, Thomas Mann, John Steinbeck, Jacques Prévert e muitos, muitos outros.
O top eight pertence aos seguintes autores: Nicolas Sparks (Ah, o amorrrr...), Isabel Allende, José Rodrigues dos Santos, Ana Maria Magalhães, Agatha Christie, Eça de Queirós, Dan Brown e João Aguiar.

Livros "dando sopa"


Desculpem o "brasileirismo", mas eu não estou em mim. Há bocado passei pela zona de "Bookcrossing" e descobri que os livros que lá foram colocados ainda não foram "libertados". Ai ele é isso?! Ai ele é isso?! Peguei logo num e, ala que se faz tarde! pasta. Vou lê-lo e só o trago quando me apetecer - se trouxer....

Até me dói pensar que, quando eu era adolescente e suspirava por mais e mais livros, não havia coisas assim...

Ainda por cima está lá um Lucky Luke, duas Enid Blyton, um António Mota, um Francisco José Viegas e outros. Um ANDREA CAMILLERI!!! Uma vez levei de viagem A invenção do telefone e ri-me tanto (o livro é hilariante) que várias pessoas me vieram perguntar o que eu estava a ler.


E o outro já ninguém me tira...

A livre circulação de ideias é, de acordo com os livros, uma "boa prática"

Cara Mané:

Agradecemos a mensagem de incentivo. Nós cá somos pela livre circulação de ideias... Bom fim-de-semana!

quarta-feira, 11 de março de 2009

Esta estranha palavra "snob"

A palavra "snob" é muito engraçada, porque o seu verdadeiro significado aponta no sentido oposto da sua acepção corrente. Ou talvez não...
Com efeito, snob significa sine nobilitate, ou seja, "desprovido de nobreza". Talvez seja normal que pessoas destituídas de nobreza, de firmeza, de franqueza (e de outras palavras terminadas em -eza) sintam necessidade de se mostrarem superiores, desdenhosas, arrogantes e/ou altivas - precisamente porque sentem que lhes falta algo.
Enfim, hoje deu-me para a psicanálise de algibeira. Devo ter apanhado sol na moleirinha...

Planeta banda desenhada


E agora (como diziam os Monty Python) para algo completamente diferente: no Sábado fui, pela primeira vez, a uma livraria especializada em banda desenhada em Portugal. Chama-se "Mundo fantasma" e é fascinante, não apenas por SER uma livraria de banda desenhada, mas também porque tem funcionários (?), proprietários (?) verdadeiros entusiastas.

Esse é um dos grandes problemas portugueses (se calhar estou a exagerar um bocadinho, mas já descobriram que eu às vezes sou um bocado hiperbólica): a falta de entusiasmo no que se faz. Nós aqui gostamos do que fazemos (de sermos professores, de sermos funcionários - embora tenhamos "dias não"; de trabalharmos na Biblioteca; de lidarmos com pessoas); e isso nota-se.

Infelizmente, todos passamos por situações em que a falta de entusiasmo é patente e notória. Há vendedores que vendem livros como quem vende iogurtes. Que são incapazes de aconselhar um livro para determinado perfil de cliente. Outros que dizem com ar entediado: "Se não estiver no expositor, é porque não temos". Há ainda os "snobs": o cliente é um parolo. AQUELA peça é chique e, se ele não a compra, não é porque não lhe fica bem, ou porque não lhe convém, ou, simplemente, porque não lhe apetece - e está no seu direito. Não: não a compra porque é parolo, e o/a vendedor(a) fá-lo sentir arvorando um ar de superioridade. Enfim, não me alongarei: já todos passaram por situações destas, e sabem bem ao que me refiro. Um conselho: nunca se deixem intimidar. Vocês é que sabem.

Mas volto ao meu "Mundo fantasma": o Porto é pródigo em bons vendedores. Houve uma senhora célebre, que irradiava simpatia (e ganhava prémios) na loja da Sacavém. Estes rapazes estão, por diversos motivos, a anos-luz de distância dessa senhora. Provavelmente, arrepiar-se-iam todos se soubessem que alguém ousou a comparação. Porém, a atitude é a mesma: gostam do que fazem e contagiam-nos com o seu entusiamo. Reparem que a situação não era lá muito canónica: entram duas "cotas" numa loja completamente alternativa e põem-se a mexer nas prateleiras como se nada fosse. Assim na linha do elefante numa loja de porcelanas. Mais coisa menos coisa.

Quando chegámos à caixa com as nossas compras e fizemos algumas perguntas, tivemos direito, não apenas às respostas, mas também a outras interessantes explicações. Em suma, ficámos clientes (embora, infelizmente para nós, haja pouca BD francófona e demasiada manga para o nosso gosto. Mas os gostos educam-se). E pronto: da próxima vez falar-vos-emos de alguma banda desenhada que temos cá na Biblioteca. Que o planeta BD é f-a-s-c-i-n-a-n-t-e!

Mais barbie

Fazendo jus a um dos melhores - e mais verdadeiros - slogans publicitários dos últimos anos, "Ler jornais é saber mais", a revista Única (que acompanha o semanário Expresso de 7 de Março), trazia informações que ignorávamos.



Assim, as barbies hispânica e negra foram lançadas em 1980. A Barbie índia foi lançada em 1993. Descobri também que, "(...) de acordo com os ginecologistas, uma mulher com tais proporções não teria gordura corporal suficiente para uma primeira menstruação." (o texto, que reproduzimos com a devida vénia, é da autoria de Miguel Szymanski). E, por último, ficámos a saber que muitas meninas e adolescentes passam por uma fase de destruição (catártica?) das suas bonecas.

No mesmo artigo, a psicóloga Joana Amaral Dias afirma que a Barbie "Não é uma boneca apropriada para uma criança de quatro anos"; tal como o investigador João Manuel Oliveira, considera que elas perpetuam modelos e papéis femininos (em oposição a modelos e papéis masculinos) e, por conseguinte, uma visão maniqueísta de género. O especialista do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa põe ainda em evidência o facto de o corpo da Barbie ser "um corpo completamente impossível de atingir, o que reforça a ideia de que uma feminilidade perfeita é claramente inatingível".


P.S. 1. Maniqueísta é, segundo o Dicionário Houaiss (consultável aqui na Biblioteca), "(...) uma visão do mundo que o divide em poderes opostos e incompatíveis", vulgo "ver tudo a preto e branco", "ou/ou": ou bom ou mau; ou lindo ou feio, sem meios termos...


P.S.2. Simplificando, e muito, catártico significa (ainda de acordo com "o" Houaiss"), efeito libertador.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Parabéns, Barbie!

Hoje a Barbie faz cinquenta anos e, por isso, a nossa Biblioteca vai inaugurar uma exposição que demorou meses a preparar (eu não disse que a nossa responsável tem alma de Directora de jornal?)
Eu, como humilde redactora, vejo-me obrigada a escrever sobre o assunto. O problema - porque há um problema - é que não sou grande apreciadora de Barbies. Eu explico: só tive bonecas e chorões. Gordinhos, cheinhos, à imagem dos bebés e crianças que éramos. O ideal de beleza da minha infância era, aliás, o "bebé Nestlé". Rechonchudo, louro e de olhos azuis.

Já a minha irmã, muito mais nova do que eu, teve a primeira Barbie que vi na vida. Nunca brinquei com a boneca e nunca mais pensei no assunto. Ela só voltou a atravessar-se no meu caminho como qualificativo depreciativo ("É uma Barbie", ou seja, "É bonita, mas não tem nada na cabeça"); ou como responsável directa ou indirecta por bulimias e anorexias.

E, com efeito, a professora Ana Margarida Dias, a nossa mentora, confirma que há estudos antropométricos que demonstram que uma mulher com a configuração da Barbie não conseguiria manter-se de pé. Assim, brincar com Barbies plasmaria, na mente influenciável das crianças, um ideal de beleza que a própria natureza jamais lograria criar. Inculcar-lhes-ia a ideia de que só as mulheres longilíneas seriam belas. Sim, porque a Barbie saiu do estereótipo louro e rapidamente foram criados modelos morenos, latinos, africanos, asiáticos.


Não foi foi só do ponto de vista do fotótipo que a Barbie se adaptou. Com efeito, ela deixou de ser apenas o suporte de toilettes de alta costura ou associadas ao lazer - ou de profissões tradicionalmente associadas ao feminino - para ser, por exemplo, astronauta. A Barbie foi, desde cedo, politicamente correcta.

Além disso, do ponto de vista histórico, a Barbie foi acompanhando (embora de longe) os novos tempos. O seu lema, "We girls can do anything", vai no sentido da emancipação (relativa) da mulher. E porquê relativa? Porque ela segue as mudanças sociais a uma distância cautelosa. Quando algo está consolidado e é consensualmente aceite, aí, sim, haverá uma "Barbie-isso". A Barbie divorciada, por exemplo.

Por que motivo essa adaptabilidade da Barbie foi um pouco escamoteada em Portugal? Porque, tratando-se, durante um longo período, de um país periférico, atrasado e renitente às mudanças - e, sobretudo, de um mercado muito restrito, não valia a pena apostar na comercialização de todos os modelos.

Todavia, uma exposição de todas as Barbies e respectivos acessórios (incluindo o Ken, com quem nunca se casou, como o pato Donald e a Margarida ou o Mickey e a Minnie... não sei se estão a ver...), daria um interessante testemunho sociológico da sucessivas idealizações e representações da vida das mulheres a partir da segunda metade do século XX.

Pronto. Uma parte das minhas ideias pré-concebidas caiu por terra. Agora só estou à espera que criem a "Barbie atarracada", a "Barbie nariguda" ou a "Barbie das pernas tortas" para me despojar por completo dos preconceitos. Sim, porque a televisão e o cinema já celebrizaram mulheres com ESSE tipo de beleza, lembrem-se por exemplo das maravilhosas Chandra Wilson (Dra Bailey de "Anatomia de Grey), Barbra Streisand ou Carrie Bradshaw, de "O sexo e a Cidade".

Parabéns, Barbie!... "malgré tout"

sexta-feira, 6 de março de 2009

"O recruta"


Aí vai o início de um livro que está a fazer furor entre o público jovem aqui da Biblioteca (O Recruta, de Robert Muchamore, editado pela Porto Editora):
«James Choke detestava a disciplina de Ciências. Afinal nas aulas deveriam usar tubos de ensaio, jactos de gás com faíscas a voarem por todo o lado, como tinha imaginado quando andava na escola primária. Mas na verdade, o que ele tinha de fazer era empoleirar-se num banco a observar a professora Voolt a escrever no quadro. Por algum motivo, era preciso escrever tudo - apesar de a fotocopiadora ter sido inventada há quarenta anos.
Faltava só esta aula e mais uma, chovia lá fora e começava a escurecer. James sentia-se ensonado porque o laboratório estava quente e tinha ficado acordado até tarde na noite anterior, a jogar Grand Theft Auto.
Samantha Jennings estava sentada ao lado dele. Os professores achavam que Samantha era fantástica: oferecia-se sempre para fazer tudo, trazia o uniforme impecável e tinha as unhas pintadas. Copiava os esquemas com três canetas de cores diferentes e encapava os livros de exercícios em papel de embrulho, para que ficassem mesmo elegantes, mas quando os professores não estavam a olhar, Samantha era uma verdadeira estúpida. James odiava-a, porque estava sempre a gozá-lo por a sua mãe ser gorda.»
Querem saber mais? Requisitem o livro... Bjs, bom fim-de-semana.

Porque hoje é Sexta

Mas, porque hoje é Sexta, a professora Ana Margarida Dias vai deixar-vos aqui o João Galante a declamar o poema "O dia da Criação", de Vinicius de Morais, que começa assim:

Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos, meu Deus, de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.

(Na continuação é que está a graça. E mais não digo...)

O documentário "Vinicius de Moraes" foi adquirido e está disponível aqui na Biblioteca.

Hino contra a discriminação


O título anterior é, claramente, um plágio de "Desafinado", de João Gilberto. A mim, que adoro cantar mas que, "a bem da nação", não o faço em público - e vivo numa casa bem insonorizada - a letra desta canção toca particularmente:
Se você disser que eu desafino, amor
Saiba que isso em mim provoca imensa dor
Só privilegiados têm ouvido igual ao seu
Eu possuo apenas o que Deus me deu
Se você insiste em classificar
Meu comportamento de anti-musical
Eu mesmo mentindo devo argumentar
Que isto é bossa-nova, isto é muito natural
O que você não sabe nem sequer pressente
É que os desafinados também têm um coração
Fotografei você na minha Roleiflex
Revelou-se a sua enorme ingratidão
Só não poderá falar assim do meu amor
Este é o maior que você pode encontrar
Você com sua música esqueceu o principal
Que no peito dos desafinados
No fundo do peito bate calado
Que no peito dos desafinados
Também bate um coração
Agora imaginem que, onde João Gilberto escreveu desafinados estava escrito altos, sogras, feios, desajeitados, louras, gordos, pálidos, baixos, tímidos, magros, velhos, desempregados...

Os desempregados também têm um coração

Nestes tempos de crise, tenho-me lembrado de alguns bons filmes britânicos que retratavam as dificuldades por que muitos ingleses passaram no consulado de Margaret Tatcher. Ontem, num intervalo do trabalho, liguei a televisão, quase sempre sintonizada num canal no qual seria viciada - se tivesse tempo -, o Arte. E estava a dar um desses filmes, de cujo título não me lembrava: "Os virtuosos".

Não o revi todo, porque tinha muito que fazer (perdoem-me, por favor, alguma imprecisão), mas, basicamente, tratava-se da história de uma banda de música formada por mineiros de uma exploração que corre o risco de ser desactivada. Tal como num outro filme que, a meu ver, devia ser obrigatório visionar em todas as escolas superiores de Economia e de Gestão (refiro-me a "Recursos Humanos", de Laurent Cantet), também aqui o conselho de administração escolhe, para fazer o "saneamento" da empresa, a filha (ou neta?) de um mineiro. Este filme tem um "embrulho" musical bem mais agradável do que o francês, embora por vezes deslize para uma certa facilidade. Não me interpretem mal: gosto francamente do filme. Há é um ou outro momento em que se apela à lágrima fácil. Sendo mais contido, "Recursos humanos" parece-me superior.


Seja como for, é interessante rever agora, neste momento histórico preciso, esses filmes. E, já agora, se alguém tiver o filme espanhol "Às segundas ao sol", emprestem-mo, por favor. Porque os desempregados também têm um coração.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Dia Internacional da mulher III

A Biblioteca é um lugar de confluências. Aqui desaguam pessoas, opiniões, livros, ideias. A propósito do texto "Dia Internacional da Mulher", a professora Ana Paula Matos disse-nos que a Rita do 12º I detestava o Ega de Os Maias. Por isso, aqui fica o apelo: Rita, por favor, diz-nos/ "posta" a passagem que tanto te aflige. Ficamos à espera - do excerto e, já agora, do comentário. Por favor...?

Dia Internacional da Mulher II

Cara anónima do 12º:

Não estava a ser irónica, estava a ser... pedagógica. De facto, quando aquilo me "saiu", pensei:
«Alguns não se vão lembrar. Não fixaram. Mas não faz mal, talvez isso lhes espicace a curiosidade e consultem (por exemplo) o manual de Português de 10º ano (página 269); ou talvez prestem mais atenção da próxima vez que ouvirem a palavra.»
Os outros - como tu - sabem o que significa. Obrigada pela tua resposta e por me obrigares a explicar-me (passe o pleonasmo).

segunda-feira, 2 de março de 2009

Dia Internacional da mulher

O Dia Internacional da mulher não devia existir. Vou escrever um grandessíssimo cliché: Todos os dias deviam ser dias do género humano. Assim na linha de «Natal é quando um homem (ou uma mulher, já agora) quiser» e quejandos.
Sou aquele tipo de pessoa que se arrepia com afirmações do estilo «Os homens são todos...», «Os americanos...» Regra geral, atrás de uma frase assim iniciada vem uma barbaridade, uma generalização injusta para muitos dos indivíduos pertencentes àquela classe (um bastaria). Irrita-me a campanha (ancestral, convenhamos) contra as madrastas. Arrepio-me com alusões a louras. Odeio anedotas sobre sogras.
Acho que a Internet, na qual vejo inúmeras vantagens, tem o enorme defeito de inundar as nossas caixas de correio com graçolas de mau gosto e/ou juras de admiração pelas mulheres, cujo destino é um caixote do lixo mental e virtual. Ruído. Isto para não falar nas "cadeias" de sms rematadas com algo do género "Manda a todas as mulheres lindas e maravilhosas que conheces". Juro que visualizo sempre um publicitário espertinho a esfregar as mãos e a contabilizar os milhares de euros que estas cadeias devem dar a ganhar às operadoras...
E, no entanto, reconheço que o Dia Internacional da mulher se justifica.
De uma perspectiva estritamente literária, lembremos a ideia do livro Um quarto que seja seu, de Virginia Woolf, onde esta defende que não conhecemos a "irmã" de Shakespeare porque, enquanto as mulheres não tiveram um espaço onde escrever (o que implicava dinheiro que assegurasse a sua subsistência) não puderam ser "autoras". Com honrosas excepções. Mas excepções.
De um ponto de vista sociológico, sabe-se que as mulheres, que neste momento detêm mais habilitações do que os homens, ocupam menos cargos de chefia. Sabe-se que, por norma, as qualificações das mulheres lhes "garantem" remunerações inferiores às dos homens com iguais habilitações (felizmente, tal não sucede com os professores. Todavia, ver-se-á se as actuais mudanças na carreira não virão provocar alterações a esse nível). Sabe-se que as mulheres, em particular as portuguesas, trabalham em casa um número de horas muito superior ao dos homens - independentemente do número de horas que trabalham no exterior ou do salário que auferem. E eu assevero-vos, de um saber de amargas experiências feito, que passei por situações (oficinas de automóveis, instituições bancárias) onde me senti claramente discriminada.
Infelizmente, há mulheres que perpetuam a discriminação: outro dos meus ódios de estimação é a frase "Prefiro, de longe, trabalhar com homens." Isto, vindo de onde venha, faz-me impressão. Todavia, se vier de uma mulher, causa-me náuseas. Se me dissessem "Não gosto de trabalhar com gente preguiçosa, ou desleal, ou estúpida, ou carreirista...", faria sentido. Há pessoas assim de ambos os sexos, e é, efectivamente, horrível trabalhar com elas.
Não há como os cantores para porem tudo no devido lugar. Lembram-se da letra da canção "O homem fantasma" do Sérgio Godinho? Era assim:
«Eu sou o homem-fantasma
combatente infatigável
mas atenção que até eu
posso ser criticável
se depois do que eu digo
e denuncio e reclamo
eu voltar para casa
e em casa eu for um tirano»
Seria «bonito» terminar este texto com uma frase de uma canção do Léo Ferré, que dizia "La femme est l'avenir de l'homme". Mas bem mais tocante seria o pleonasmo "Les gens sont l'avenir de l'Humanité". "Les gens", gente, género humano, pessoas. Nós e eles, eles e nós, todos.
P.S. Não sabem o que significa pleonasmo? Perguntem a qualquer aluno de 10º, 11º ou 12º desta escola. Eles sabem.

Felizmente existem os livros




Em A Caverna, José Saramago situa-nos num tempo em que muitos saberes desapareceram. À falta de artífices que ainda saibam de certos mesteres...


"Felizmente existem os livros. Podemos esquecê-los numa prateleira ou num baú, deixá-los entregues ao pó e às traças, abandoná-los na escuridão das caves, podemos não lhes pôr os olhos em cima nem tocar-lhes durante anos e anos, mas eles não se importam, esperam tranquilamente, fechados sobre si mesmos para que nada do que têm dentro se perca, o momento que sempre chega, aquele dia em que nos perguntamos, Onde estará aquele livro que ensinava a cozer os barros, e o livro, finalmente convocado, aparece (...)"