segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Nós e os outros

http://www.mosteirojeronimos.pt/web_mosteiro_jeronimos/img_historia/renascimento_japao_bg.jpg

Os biombos Nambam

Os biombos Nambam contam
A história alegre das navegações
Pasmo de povos de repente
Frente a frente

Alvoroço de quem vê
O tão longe tão ao pé

Laca e leque
Kimono camélia
Perfeição esmero
E o sabor do tempero

Cerimónias mesuras
Nipónicas finuras
Malícia perante
Narigudas figuras
Inchados calções

Enquanto no alto
Das mastreações
Fazem pinos dão saltos
Os ágeis acrobatas
Das navegações
Dançam de alegria
Porque o mundo encontrado
É muito mais belo
Do que o imaginado

in ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner - Obra poética III. Caminho, 1996, p. 334

Dias com árvores

Na altura em que as árvores da minha rua estão mais bonitas, mais outonais, vêm os jardineiros (?) e mutilam-nas. Ao contrário da minha rua, a alameda dos liquidambares, em Serralves, é particularmente bela e cativante no Verão, quando, sob um sol abrasador, lá entramos e respiramos um fresco vegetal. Intactas, as árvores formam uma cúpula imponente e majestosa, que nos puxa para o alto, em vez de nos pregar os olhos no chão.

Procurando uma fotografia da alameda, deparei com um sítio onde há muito não ia, http://dias-com-arvores.blogspot.com. Exemplo de intervenção cívica, os autores deste blogue interventivo pronunciam-se acerca das árvores do Porto (e não só). Pouco a pouco, vão mudando mentalidades rasteirinhas. E nós por cá?



terça-feira, 24 de novembro de 2009

Galicismos

O facto de se gostar do francês, língua e cultura, não significa que se goste de galicismos evitáveis. Os exemplos que atrás respigamos provam que o francês (ou os seus resíduos) ainda é uma língua chique (chic). Uma palavra interessante, que vem à mente quando lemos/vemos certas coisas, é a palavra nouveau riche. Mas, como desaprovamos galicismos, propomos a sua substituição pela expressão novo-rico. Ou possidónio. Possidónio é engraçado. Mas a que propósito é que me lembrei disto? Já nem sei...

Teoria da conspiração

Na semana passada fui ao café e, como de costume, abri os jornais. Fiquei espantada pelo facto de o restaurante do mosteiro recém-recuperado se chamar "Eau vive de Tibães". Eau vive, não sei porquê, faz-me lembrar nome de perfume. E por que não um nome português, no portuguesíssimo mosteiro de Tibães?


Depois, peguei numa revista luxuosa, profusamente ilustrada, intitulada Cidade 24. Rapidamente confirmei que o francês está na moda: um dos artigos referia-se a um "savoir vivre". E de que falava a dita publicação? Na verdade, de nada. Publicitava estabelecimentos comerciais, exibia vários "notáveis", promovia marcas de carros de luxo. "E andam a devastar florestas para imprimir coisas destas", pensei eu, tomando nota mental da "eau vive" e do "savoir vivre".


O pior foi no dia seguinte, quando descobri que andam - outra vez - a dizimar as árvores da minha rua. Uma rua tão bonita, que sofre ataques anuais de jardineiros que enlouquecem à hora do almoço e rapam, literalmente rapam as árvores até ao sabugo, carregam as ramagens em camiões e as levam para destino incerto. Está frio, as lareiras e salamandras precisam de alimento...




Não sei que ligação têm estas duas coisas. Talvez seja a falta das ramagens outonais que me leva a pensar que está tudo ligado, que não é por acaso que há revistas grátis a falar de festas e de lojas e de carros aonde nunca iremos e onde nunca andaremos enquanto as nossas (nossas, de todos) árvores são dizimadas. Devaneios.

Coffee and newspapers


www.gettyimages.com

O meu café habitual tem uma característica muito simpática: pilhas de jornais e revistas muito arrumadinhas, compradas pelos proprietários ou pelos clientes que, depois de os lerem, os deixam lá. Não pensem que se assemelham aos destroços deixados na praia pela maré. Estão sempre classificados e arrumados nas paredes que circundam as mesas.

O café é bonito, os donos são simpáticos e os clientes - os que eu conheço - também. Tem uma esplanada com árvores, um quiosque e um jardim infantil em frente. Ao sábado de manhã, o ritmo do trabalho abranda, as pessoas vão comprar os jornais ao quiosque, sentam-se para tomar café, conversam entre si, com quem os serve e com os clientes das mesas vizinhas (que nem sempre conhecem, mas isso não interessa nada). É um agradável café de bairro, com a mistura certa de cidade e de província.


Pessoas, árvores, jornais. Que mais se pode querer, ao sábado de manhã?

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Nem tanto ao mar, nem tanto à Net


Na sexta-feira, falando com os meus alunos acerca do sítio lepointdufle, ouvi uma aluna queixar-se de que o mais provável seria o pai não a deixar consultá-lo, visto que achava que ela passava demasiado tempo na Internet.

Ora, se acho louvável que o senhor exerça "controlo parental", gostaria de deixar aqui registado o meu apreço por algumas das vantagens que a Internet proporciona, e uma delas é, justamente, a pedagógica. Por isso, além de "publicitar" o endereço do pointdufle (fle=français langue étrangère), recomendo-lhes o Ciberdúvidas da língua portuguesa.
Bom, bom, seria pais e filhos consultarem este site sempre que surgisse alguma dúvida. Porque família que navega unida, é família unida...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Plágio

E se "retractação" for apenas dúvida metódica? E se ter dúvidas, enganar-se, reconhecê-lo, fosse a forma mais certa - ou menos errada - para se saber alguma coisa? Não sei, mas, na dúvida, deixo-vos o excerto de uma canção, vergonhosamente copiada de um blogue amigo: "Les gens qui doutent", interpretada por Vincent Delerm, Jeanne Cherhal e Albin de la Simone.


Retractação

A pedido de várias famílias, venho retractar-me. Não, não sou de modas. Sou, até, uma pessoa muito constante (mas hão-de convir que tinha mais graça dizer o contrário).

Guardo a roupa anos e anos a fio, remodelo-a, uso coisas que eram das minhas avós e da minha mãe, gosto desde sempre dos mesmos livros (alguns exemplos, que podem encontrar aqui mesmo na Biblioteca: Alice através do Espelho, Alice no país das Maravilhas de Lewis Carroll, as séries Astérix e Tintin; Mrs. Dalloway, da Virginia Woolf, Memórias de Adriano e A Obra ao negro e da Marguerite Yourcenar), só mudo de carro em última instância, tenho os mesmos amigos (com "novas contratações", é claro) há anos e anos, guardo tudo e mais alguma coisa e arranjo-lhe sempre utilidade (um dos meus lemas é "guarda o que não presta e terás o que é preciso"). As músicas e os filmes que me encantavam aos dezoito continuam, com raras excepções, a encantar-me. A ordem dos factores é arbitrária.

No entanto, parece-me que todos somos de modas, no sentido em que somos sensíveis ao ar dos tempos ("l'esprit du temps", dizia o Edgar Morin, "zeitgeist", dizem os alemães), e que, com maior ou menor consciência disso, usamos cada vez menos as calças estreitas, as camisas de gola larga ou as meias brancas quando estas passam de moda. É inelutável.


Já no que diz respeito à escola, tenho a certeza absoluta de que as modas se sucedem com relativa rapidez (embora os sistemas, naturalmente, ofereçam resistência à mudança). Mas, lá está, inelutavelmente, de repente começamos todos a ensinar a aprender a aprender, ou a abandonar os objectivos para adoptar as - abissalmente diferentes - competências. E mal de quem se enganar e usar a terminologia anterior. Será proscrito para todo o sempre. O mesmo para a (in)disciplina. Convenhamos que há quem muito lucre (literal e metaforicamente) com estas nossas inconstâncias, acusando-nos - com alguma razão mas nem sempre de forma fundamentada - de falarmos ou escrevermos "eduquês".


Em verdade vos digo, em jeito de conclusão, que já passei por demasiadas modas (vestimentares, pedagógicas, decorativas, gastronómicas, corporais, capilares) para não as olhar com distanciamento. Com o tempo, tudo aquilo que achávamos horrível volta a estar na moda. As fotografias ridículas passam a "ter graça", os móveis horrendos passam de velharia a antiguidade, os carros obsoletos passam a ser "de colecção", as roupas velhas são "vintage" - e assim sucessivamente. Transformamo-nos nas nossas mães e nos nossos pais (e não estou a referir-me apenas ao aspecto físico...). Por isso, meus amigos, o melhor é não criticarmos muito. Não cuspirmos para o ar. Porque, cedo ou tarde, estaremos a dar o dito por não dito.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Modas

Eu cá sou de modas. É escusado negar: sou de modas. Sou de modas nas modas, nas leituras, no tipo de saídas, nas músicas, nos passatempos, nas receitas, nos percursos, em tudo. Claro que também tenho um lado conservador e, de repente, regresso ao passado e volto a cozinhar um prato que há muito não fazia, releio um livro, repesco um disco, visto uma roupa com vinte anos.

Também sou de modas no que diz respeito à escola. Aliás, tenho a íntima convicção de que a escola é particularmente permeável às modas. Agora vamos todos fazer assim, depois assado é que está bom, grelhado é inconcebível, ao vapor é que fica saboroso, cru é inovador, nas brasas mais saudável, no cozido não se perdem as vitaminas. Mas, depois, as gorduras libertadas no assado são nocivas, os grelhados, desde que não carbonizados, são óptimos, os tachos para cozinhar ao vapor ocupam demasiado espaço, o cru fica démodé, as brasas são pouco práticas e exalam um odor desagradável, o cozido é insápido, ao sal é que se conserva o sabor dos alimentos. E andamos nisto.
Também assim, passamos da gramática tradicional para a generativa, depois voltamos à gramática tradicional mas com adendas e restrições, agora passamos, mas sem passarmos todos, para a Nova Terminologia Linguística.

Embora não pareça, porque o estou a remeter para o fim, é de um mea culpa que este texto trata. De facto, durante anos recomendava explicitamente aos meus alunos a consulta de livros sobre métodos de trabalho e estudo. Agora tendo mais a fazer prédicas, umas ditadas pela necessidade, outras "agendadas" em momentos cruciais. No entanto, a pedido de uma Encarregada de Educação, fiz uma lista de alguns destes livros, assaz úteis por sinal, que podem ser requisitados aqui na Biblioteca:

livroaprenderestudar.jpg

- Aprender a dominar a escrita (Fernanda Afonso e Esmeralda Lopes) - 2 exemplares
- Aprender a estudar (António Estanqueiro) - 3 exemplares
- Como estudar (Susana Gonzalo)
- Iniciação à comunicação oral e escrita (Maria Alda Loya Soares Silva)
- Métodos para aprender (Marc Romainville e Concetta Gentile)


Mais anjos

O Anjo

O Anjo que em meu redor passa e me espia
E cruel me combate, nesse dia
Veio sentar-se ao lado do meu leito
E embalou-me, cantando, no seu peito.

Ele que indiferente olha e me escuta
Sofrer, ou que feroz comigo luta,
Ele que me entregara à solidão,
Poisava a sua mão na minha mão.

E foi como se tudo se extinguisse,
Como se o mundo inteiro se calasse,
E o meu ser liberto enfim florisse,
E um perfeito silêncio me embalasse.

in ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner - Dia do mar. Caminho, 2005, p. 31

Leitores ou ledores?


























Fragonard - A leitora

Num livro/folheto/panfleto de uma pretérita Feira do Livro do Porto a que não terei ido - mas que me ofereceram, o que lhe confere agora ainda mais sabor - encontrei, entre muitos outros textos dignos de nota, um, escrito por Carlos Poças Falcão, intitulado "O livro transparente".

Desse texto, que gostaria de transcrever na íntegra, selecciono apenas uma pequena parte:

"Baixando, pouco a pouco, as suas guardas, por puro assentimento, o leitor prepara-se para ser surpreendido vivo e um dia há-de encontrar o livro que o modifica. Então, poderá dizer: «a minha vida lê.» Falo de um leitor com qualidades, daquele que, efectivamente, está em condições de vir a ser tocado e transformado,

dotado dessa paciência que faz com que a vida finja estar à espera, espere sem esperar, expondo-se e acreditando. Não trato de ledor que apenas busca instruções e informação, ou que vive uma relação profissional (professoral?) com os livros, capitalizando fichas e obtendo mais-valias de um saber corrente. Refiro-me ao leitor sentado e de cabeça serenamente inclinada, como em reverência humilde, cuja vida aprende a ser lida".

Filme imperdível no Bragashopping

Esta semana, até sexta-feira, inclusivé, pode ver-se em Braga um filme francês que me impressionou muitíssimo e de que vos falei há tempos: "Home". Às 19h15m.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Encontro de Escritores de Expressão Ibérica



E o que é isso, perguntarão vocês, do Correntes d'Escritas? É um espectáculo. É um espectáculo, no sentido em que se diz que algo "É um espectáculo!". E é um espectáculo, porque tem estrelas (os escritores) que falam para uma audiência de adeptos fervorosos.
Para mim, é o equivalente a assistir a um "derby". A emoção, a adrenalina, o "Já viste o Agualusa? Ali, ali..." O sentido de humor desarmante de alguns participantes habituais. A mistura, simpática, democrática, não invasiva, de escritores e leitores. Os recitais, já muito desalinhados, já totalmente descontraídos, no hotel Vermar. Os encontros: "Olá, há anos que não te via..." Até hoje, ainda não ouvi ninguém, leitor, escritor ou livreiro, dizer que não gostava do Correntes d'Escritas. A decorrer entre 24 e 27 de Fevereiro, era um dos pontos altos do ano lectivo - quando ainda contava como formação... chuif, chuif...







O Correntes d'Escritas dá prémios!


A professora Isabel Costa chamou-nos a atenção para um prémio literário, patrocinado em conjunto pelo Correntes d'Escritas e pela livraria Locus, cujo regulamento seguirá em anexo. Destinado a jovens entre os 15 e os 18 anos, tendo como prémio pecuniário mil euros e como prémio honorífico a publicação, para concorrer basta escrever um conto. Um bom conto, claro. Ora, nós achamos que aqui na ESVV há muito escritores em potência. Por isso, meus senhores, às esferográficas - ou aos teclados - e comecem, desde já, a escrever. É que o prazo termina no dia trinta...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Público na escola

Ontem os alunos dos cursos EFA tiveram direito a uma palestra, intitulada "Internet e média", proferida pelo Director do Público na Escola, Eduardo Jorge Madureira Lopes. Ao que consta, a sessão só não se prolongou pela madrugada dentro porque palestrante e organizadores ainda não tinham jantado. Já estão a ver o sucesso que não foi...
Para todos aqueles que não puderam assistir, sugerimos a leitura (entre outros) dos boletins números 175, 178, 186 e 190, acessíveis para consulta na Biblioteca. Recomendamos ainda a consulta do sítio Público na Escola-PUBLICO.pt., que dá acesso a conteúdos não tratados nos boletins.

Leituras


Perguntei ao meu colega de bancada, o professor Custódio Braga, que livro andava a ler. Ele costuma ler umas coisas pouco óbvias - o que alimenta a conversa de alguns almoços mais animados -, mas fala delas com desprendimento.

Hoje disse-me que, "num dia em que se achou mais pachorrento", tinha requisitado na Biblioteca A grande aventura dos Templários, o que não se enquadra em nada nas suas leituras habituais. Talvez por isso (pensei eu), estava a gostar muito. Até me pareceu que estava entusiasmado (pois se até citou Bocage). Por isso, já sabem, daqui a uma semana o livro já deve estar disponível. É só vir cá requisitá-lo.

Os Marretas não são jarretas



A professora Alexandra Amador disse-me que hoje se comemoram quarenta anos da criação da "Rua Sésamo". Quarenta anos, como a Mafalda... As referências culturais de várias gerações estão a envelhecer, mas não a perder o viço. Este programa foi concebido por Jim Henson, o criador de "Os Marretas", e tinha por objectivo (estamos a falar de 1969) promover a literacia nos meios mais desfavorecidos dos Estados Unidos.
Nem por acaso, esta semana:
1) mandaram-me por correio electrónico um excerto dos Marretas
e
2) disseram-me, aqui mesmo na Biblioteca, que eu parecia o Fozzie.
Para quem há anos não pensava nisto, não deixa de ser uma feliz coincidência. Mas voltando ao excerto dos Marretas que me mandaram, devo dizer que fiquei impressionada com a sua qualidade, designadamente musical. Não que o não soubesse de antemão, mas não me lembrava, e, além disso, agora tenho uma perspectiva de adulta acerca da questão.
Embora não esteja a par da oferta de programas infantis, a série que, do ponto de vista educativo, mais se assemelha a estes objectivos, chama-se "Little Einsteins". Mas parecem-me tão pífios, em comparação com a rua Sésamo - e sobretudo, com os Marretas... Ou serei eu que estou a ficar jarreta?


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Gente boa

Transcrevo de um blogue amigo, que muito invejo (talvez devesse aproveitar para clarificar que a minha inveja é, quase sempre, admiração, respeito, consideração e até veneração) um texto ao qual, sozinha, nunca acederia. Devo dizer que o trunquei miseravelmente, mas cá tenho as minhas razões. E este excerto está completo...

"A gentileza está em toda a parte na vida do dia-a-dia, um sinal de que a fé comanda através das coisas ordinárias: através do cozinhar e da conversa banal, escrever contos, fazer amor, pescar, tratar dos animais e das flores; através do desporto, música e livros; criar os miúdos — todas as actividades em que o molho se embebe e através das quais a graça brilha. Mesmo em tempo de vaidade e ganância elefantinas, não é preciso olhar para muito longe para ver as fogueiras de gente boa. Mesmo que não tivéssemos outro propósito na vida, seria bom simplesmente tomar conta dessa gente e dar-lhe um empurrão de vez em quando."

Ainda estamos casados (Garrison Keillor)

Quedas e derrocadas

Hoje comemora-se a queda do muro de Berlim. Ao longo do dia, ouvirão falar dela e vê-la-ão, por isso me escuso a tecer comentários. Mas aproveito a ocasião para defender a minha dama (mais concretamente: o meu cavalheiro) e falar-vos de cinema europeu. Com efeito, os meus alunos estão convencidos de que este não existe ou "é uma seca”. Só para os contrariar, deixo-vos os títulos de três filmes alemães que, ultimamente, fizeram as minhas delícias. O primeiro, “Adeus, Lenine”, está disponível aqui na Biblioteca. Também gostei muito, muitíssimo, de “Os Edukadores” e de “A vida dos outros”. Este último tem muito a ver com a queda do muro, e “mostra” como a arte pode redimir. Três filmes, três, de boa colheita europeia.

Esta queda é uma coisa boa. Agora falemos de coisas más.

Quando um prédio da rua dos Chãos, em Braga, ruiu, a comunicação social convergiu para lá, buscando todos os ângulos do problema. Excepto um, que um meu amigo muito pertinentemente lembrou: como se chamavam os operários que morreram? (e não faleceram, palavra destinada a “higienizar” a morte).
Desconheço o nome dos cinco trabalhadores que morreram, sábado, na derrocada de um viaduto em Espanha, e parece-me desprezo pela vida humana a falta de condições de segurança nas obras, em Espanha como em Portugal. Eu sei, eu sei que às vezes são os próprios operários que não cumprem as normas. Não me parece, porém, que seja esse o caso nos dois acidentes de que falo. É que a segurança custa caro…

domingo, 8 de novembro de 2009

Antídoto

O poeta francês Arthur Rimbaud, que viveu entre 1854 e 1891, escreveu em 1872 um poema, intitulado "Chanson de la plus haute tour", que se inicia assim:

Oisive jeunesse
À toute asservie
Par délicatesse
J'ai perdu ma vie
Ah! Que le temps vienne
Où les coeurs s'éprennent.

Convém talvez dizer que Rimbaud é considerado um poeta maldito, e que a sua poesia continua a fascinar muitas gerações de músicos. Léo Férré, por exemplo, canta este poema, e eu tenho um disco, muito alternativo mas também muito recomendável, em que Hector Zazou, baseando-se na sua obra, dirige vários músicos e declamadores ("Sahara Blue"). As fotografias, belíssimas, do poeta - assim como a brevidade e estranheza da sua vida - contribuem para a sua aura mítica.


A poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen recriou-o (felizmente, sem qualquer "angústia das influências") desta forma:


Bailarina fui
Mas nunca dancei
Em frente das grades
Só três passos dei

Tão breve o começo
Tão cedo negado
Dancei no avesso
Do tempo bailado

Dançarina fui
Mas nunca bailei
Deixei-me ficar
Na prisão do rei.

Onde o mar aberto
E o tempo lavado?
Perdi-me tão perto
Do jardim buscado.


Bailarina fui
Mas nunca bailei.
Minha vida toda
Como cega errei.


Minha vida atada
Nunca desatei
Como Rimbaud disse
Também eu direi


«Juventude ociosa
Por tudo iludida
Por delicadeza
Perdi minha vida»

Ainda mais sexo

Clarificadas, espero, as questões anteriores, deixo aqui algumas sugestões de leitura, audição e visionamento.

Livros
- O sexo dos anjos, Estes difíceis amores e Olhos nos olhos (Júlio Machado Vaz)
- Paixão, amor e sexo (Francisco Allen Gomes)

Sítios
- APF (Associação para o planeamento da família)
- murcon.blogspot.com/
- "Homepage" da Antena 1 - seleccionar "podcast" - procurar os programas "O amor é... (2ª a 6ª)" e "O amor é... (fim-de-semana)".
Filmes
Acho que também vou deixar esta opção em aberto. Para já, para já, retenham os nomes de dois filmes de Richard Linklater, Antes do Amanhecer e Antes do Anoitecer (uma história sequencial, protagonizada por Julie Delpy e Ethan Hawke). Algo me diz que ainda vão ouvir falar muito deles, cá na escola...
N.B. Em resposta a uma pergunta que me foi colocada: o primeiro filme tem uma duração de 105 minutos e o segundo de 80.

Mais sexo

Não tinha - mas agora tenho - consciência de que escrever palavras destas num blogue implica que os motores de busca direccionem para lá pessoas que procuram outras coisas que não "o sexo" de que se fala na escola. Pouco importa. É do sexo de que se pode falar na escola que falarei (passe a redundância).

Em primeiro lugar, para sossegar os Encarregados de Educação: os professores não interferirão nas orientações que as famílias pretendem incutir nos seus educandos.

A escola não substitui a família, e apenas se abordará a "fisiologia geral da reprodução humana", "o ciclo menstrual e ovulatório", "a prevalência, uso e acessibilidade dos métodos contraceptivos", as "principais IST (Infecções sexualmente transmissíveis)". Dar-se-ão a conhecer "as taxas e tendências de maternidade na adolescência" e as "taxas e tendências das interrupções voluntárias de gravidez". Daremos, enfim, o nosso contributo para a compreensão "da sexualidade como uma das componentes mais sensíveis da pessoa, no contexto de um projecto de vida que integre valores (...) e uma dimensão ética" e da "noção de parentalidade no quadro de uma saúde sexual e reprodutiva saudável e responsável".
N.B. Os excertos de texto entre aspas constituem os conteúdos mínimos enviados pela Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Currcular para o 3º ciclo, e podem ser retomados no Ensino Secundário.

A escola não se substitui à família, mas esta não deverá ignorar que - exactamente como acontece com a leitura - as crianças, os adolescentes, os jovens (e até os adultos) agem por mimetismo, ou seja, reproduzem os comportamentos que observam. Na esfera social que os rodeia e naquelas instâncias que os influenciam: revistas, telenovelas, séries, filmes, conteúdos na Internet. Assim sendo, de nada adiantará "ensiná-los" (ensinaremos nós alguma coisa?) se a nossa prática contrariar o que dizemos. Ou se não acompanharmos minimamente as leituras e visionamentos dos nossos filhos. Ou se ignorarmos a questão, deixando que as conversas entre jovens, tantas vezes eivadas de falsas crenças, germinem, gerando graves equívocos. Por muito que nos/vos custe, falar é preciso.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Sexo, afectos & escola

«Eu não sou nada puritano», clamava um colega nosso, especado a meio das escadas do Bloco A. «Eu não sou nada puritano», repetiu, «mas aqueles meninos não deviam estar ali assim.» O assim era um casalinho, na bissectriz do pavilhão, muito coladinho e aos beijinhos. Já leram a banda desenhada da série Zits? "Richandamys", if you know what I mean...

Descemos as escadas a rir. O colega, o tal que não é puritano, é muito simpático e tem graça. E tinha também muita razão. Comentámos que, de facto, não deviam estar ali. O Carlos Drummond de Andrade dizia (noutras circunstâncias, por certo; e pudicamente resguardado por parêntesis) que "(O que se passa na cama / é segredo de quem ama)".

Curiosamente, como eu e a minha amiga somos Directoras de turma, já tínhamos abordado essa temática a propósito de uma circular relativa à implementação da Educação Sexual no Ensino Secundário. Defendia a minha colega que, a seu ver, os jovens não tomam precauções (leia-se: não usam sistematicamente preservativos) porque não assumem o desejo.

As raparigas, em particular, receariam ser consideradas levianas por abordarem essa questão ou tomarem iniciativas a ela conducentes. O resultado é do estilo bem "pior a emenda do que o soneto", ou seja, gravidezes indesejadas, doenças sexualmente transmitidas, uso e abuso da pílula do dia seguinte e ansiedades várias. Resolvemos ir consultar (informalmente) a professora Beatriz Santos, uma das três professoras da equipa PES (Equipa de Promoção e Educação para a Saúde), e esta aludiu a uma questão (muitas outras haverá, certamente) que não nos tinha ocorrido: o preço dos métodos contraceptivos.

Numa altura em que professores e alunos preparam as reuniões de conselho de turma, talvez seja boa ideia abordar essas questões numa perspectiva informada, consciente, assumida e, sobretudo, serena.

O romantismo é bom e nós gostamos, mas, se estiver na hora de tomar decisões, sejam pragmáticos. Quanto aos beijinhos, o exibicionismo é sempre de desconfiar...

Braga mexe


Às vezes sonho acordada, pensando nos dons que gostaria que me tivessem sido concedidos. Não quero ser ingrata: afinal de contas, aprendi a ler, a escrever e a fazer contas, conduzo sem grandes percalços e cozinho medianamente. Podia ser pior. No entanto, gostaria muito de cantar e de dançar... bem.

Outro dom que me faz muita falta, e que não possuo, é o da ubiquidade. Diz-nos "o Houaiss" que se trata da «faculdade divina de estar concomitantemente presente em toda a parte». Eu, simples mortal, contentar-me-ia em poder estar em dois sítios ao mesmo tempo. Hoje, por exemplo, gostaria de ir à sessão da Comunidade de Leitores, onde Alexandra Lucas Coelho apresentará, às 21h45m, no estaleiro cultural da Velha-a-Branca, o seu Caderno afegão; e de assistir ao concerto dos "Kings of convenience". "Em não podendo", recomendo-vos vivamente a leitura do livro e deixo-vos um excerto de uma das músicas dos "Kings of Convenience" de que mais gosto, "Failure" - que é também uma das minhas frases favoritas:

«Failure is always the best way to learn»

"La vie en rose"

O 10º E e o 10ºG visionaram um filme de Olivier Dahan, protagonizado por Marion Cotillard, que ficciona a vida da famosa cantora francesa Edith Piaf. O filme é mediano, mas a música, essa, é extraordinária. Por isso vos deixo duas canções dignas de serem enviadas para o espaço sideral e, por conseguinte, para o ciberespaço:



"La vie en rose"

e


"Je ne regrette rien"

O banquete














Como já devem ter reparado, a Biblioteca está a promover vários eventos relacionados com o cinquentenário (!) da criação da série Astérix. Na quinta-feira a Biblioteca organizou um banquete "gaulês" em honra dos 75 professores que vieram este ano para a escola pela primeira vez. Não compareceram muitos, o que foi uma pena - por um lado; pelo outro, houve iguarias "francófonas" com fartura para os que vieram, e as probabilidades de ganharem em sorteio o álbum especialmente editado para a comemoração aumentaram exponencialmente.

Em todo o caso, com ou sem banquete, saibam que são bem-vindos: à escola e à Biblioteca.

Perdidos & Achados

Na quinta-feira perdi os meus óculos escuros, que tanto me esforcei por não perder. Fazem parte de um longo rol de óculos (e guarda-chuvas) perdidos. Se alguém os encontrar, é favor entregá-los à sra. D. Lúcia. O ambiente, os meus olhos e o meu porta-moedas agradecem. Só o meu oculista é que não...
Em contrapartida, encontrei um monte de lixo nas escadas que dão acesso à Biblioteca. Nos últimos tempos, este troço de escadas tem sido utilizado como local de convívio. Não acho mal: os alunos (as pessoas) têm o direito de se apropriarem dos espaços e de fazê-los seus. Acho também que esta escola está a precisar urgentemente de remodelação, mas ela já vem a caminho e é fantástica. Já me parece muito - mas muito - mal, que os alunos deixem detritos nas escadas. É uma falta de respeito pelos seus colegas, que frequentam os mesmos sítios; pelos funcionários, que têm de limpar um lixo que não foi colocado nos recipientes apropriados; e pelos professores que sobem as escadas. Ou ainda pelos visitantes que, não raro, acodem à Biblioteca. Será um lugar-comum dizer que a escola é de todos e que é preciso respeitá-la, pero que lo es, lo es...