segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Quem sabe, sabe

Na Sexta-feira fiquei roída de inveja. Li o Público e, na rubrica diária do Miguel Esteves Cardoso (MEC), lá vinha a designação, o nome justo, o nome certo, para a Agustina Bessa-Luís: génia. É isso que a senhora é, uma génia.
Em latim existe uma expressão, genius loci, que, levianamente traduzida, seria algo como o génio (o espírito, a alma) do lugar. No romance Howards End, E. M. Forster atribui a uma propriedade rural inglesa uma alma, confiada a uma guardiã e transmitida de geração em geração - embora não na mesma família. Assim, o genius loci do campo português (com as suas inúmeras extensões na cidade) teria esta guardiã que é, simultaneamente, uma escritora de génio.
A escrita de Agustina flui de forma misteriosa, iluminando o que não sabemos, dizendo-nos o que não queremos saber mas que não podemos evitar. Os génios incomodam, e Agustina incomoda.
Pressentimos, pois, outra acepção no nome justo que MEC lhe atribui: algo a que por vezes se chama mau génio, não dissimulado por diplomacias, punhos de renda, delicadezas, subtilezas.
A civilização é uma coisa boa? Será, mas algo se perde quando esquecemos o chão que pisamos, quando cortamos as árvores, quando ignoramos a água que corre sob o asfalto. Quando esquecemos que, mais tarde ou mais cedo, ela encontrará um caminho alternativo e inundará tudo outra vez.

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