domingo, 8 de novembro de 2009

Antídoto

O poeta francês Arthur Rimbaud, que viveu entre 1854 e 1891, escreveu em 1872 um poema, intitulado "Chanson de la plus haute tour", que se inicia assim:

Oisive jeunesse
À toute asservie
Par délicatesse
J'ai perdu ma vie
Ah! Que le temps vienne
Où les coeurs s'éprennent.

Convém talvez dizer que Rimbaud é considerado um poeta maldito, e que a sua poesia continua a fascinar muitas gerações de músicos. Léo Férré, por exemplo, canta este poema, e eu tenho um disco, muito alternativo mas também muito recomendável, em que Hector Zazou, baseando-se na sua obra, dirige vários músicos e declamadores ("Sahara Blue"). As fotografias, belíssimas, do poeta - assim como a brevidade e estranheza da sua vida - contribuem para a sua aura mítica.


A poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen recriou-o (felizmente, sem qualquer "angústia das influências") desta forma:


Bailarina fui
Mas nunca dancei
Em frente das grades
Só três passos dei

Tão breve o começo
Tão cedo negado
Dancei no avesso
Do tempo bailado

Dançarina fui
Mas nunca bailei
Deixei-me ficar
Na prisão do rei.

Onde o mar aberto
E o tempo lavado?
Perdi-me tão perto
Do jardim buscado.


Bailarina fui
Mas nunca bailei.
Minha vida toda
Como cega errei.


Minha vida atada
Nunca desatei
Como Rimbaud disse
Também eu direi


«Juventude ociosa
Por tudo iludida
Por delicadeza
Perdi minha vida»

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