«Eu não sou nada puritano», clamava um colega nosso, especado a meio das escadas do Bloco A. «Eu não sou nada puritano», repetiu, «mas aqueles meninos não deviam estar ali assim.» O assim era um casalinho, na bissectriz do pavilhão, muito coladinho e aos beijinhos. Já leram a banda desenhada da série Zits? "Richandamys", if you know what I mean...
Descemos as escadas a rir. O colega, o tal que não é puritano, é muito simpático e tem graça. E tinha também muita razão. Comentámos que, de facto, não deviam estar ali. O Carlos Drummond de Andrade dizia (noutras circunstâncias, por certo; e pudicamente resguardado por parêntesis) que "(O que se passa na cama / é segredo de quem ama)".
Curiosamente, como eu e a minha amiga somos Directoras de turma, já tínhamos abordado essa temática a propósito de uma circular relativa à implementação da Educação Sexual no Ensino Secundário. Defendia a minha colega que, a seu ver, os jovens não tomam precauções (leia-se: não usam sistematicamente preservativos) porque não assumem o desejo.
As raparigas, em particular, receariam ser consideradas levianas por abordarem essa questão ou tomarem iniciativas a ela conducentes. O resultado é do estilo bem "pior a emenda do que o soneto", ou seja, gravidezes indesejadas, doenças sexualmente transmitidas, uso e abuso da pílula do dia seguinte e ansiedades várias. Resolvemos ir consultar (informalmente) a professora Beatriz Santos, uma das três professoras da equipa PES (Equipa de Promoção e Educação para a Saúde), e esta aludiu a uma questão (muitas outras haverá, certamente) que não nos tinha ocorrido: o preço dos métodos contraceptivos.
Numa altura em que professores e alunos preparam as reuniões de conselho de turma, talvez seja boa ideia abordar essas questões numa perspectiva informada, consciente, assumida e, sobretudo, serena.
O romantismo é bom e nós gostamos, mas, se estiver na hora de tomar decisões, sejam pragmáticos. Quanto aos beijinhos, o exibicionismo é sempre de desconfiar...
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