A pedido de várias famílias, venho retractar-me. Não, não sou de modas. Sou, até, uma pessoa muito constante (mas hão-de convir que tinha mais graça dizer o contrário).
Guardo a roupa anos e anos a fio, remodelo-a, uso coisas que eram das minhas avós e da minha mãe, gosto desde sempre dos mesmos livros (alguns exemplos, que podem encontrar aqui mesmo na Biblioteca: Alice através do Espelho, Alice no país das Maravilhas de Lewis Carroll, as séries Astérix e Tintin; Mrs. Dalloway, da Virginia Woolf, Memórias de Adriano e A Obra ao negro e da Marguerite Yourcenar), só mudo de carro em última instância, tenho os mesmos amigos (com "novas contratações", é claro) há anos e anos, guardo tudo e mais alguma coisa e arranjo-lhe sempre utilidade (um dos meus lemas é "guarda o que não presta e terás o que é preciso"). As músicas e os filmes que me encantavam aos dezoito continuam, com raras excepções, a encantar-me. A ordem dos factores é arbitrária.
No entanto, parece-me que todos somos de modas, no sentido em que somos sensíveis ao ar dos tempos ("l'esprit du temps", dizia o Edgar Morin, "zeitgeist", dizem os alemães), e que, com maior ou menor consciência disso, usamos cada vez menos as calças estreitas, as camisas de gola larga ou as meias brancas quando estas passam de moda. É inelutável.
Já no que diz respeito à escola, tenho a certeza absoluta de que as modas se sucedem com relativa rapidez (embora os sistemas, naturalmente, ofereçam resistência à mudança). Mas, lá está, inelutavelmente, de repente começamos todos a ensinar a aprender a aprender, ou a abandonar os objectivos para adoptar as - abissalmente diferentes - competências. E mal de quem se enganar e usar a terminologia anterior. Será proscrito para todo o sempre. O mesmo para a (in)disciplina. Convenhamos que há quem muito lucre (literal e metaforicamente) com estas nossas inconstâncias, acusando-nos - com alguma razão mas nem sempre de forma fundamentada - de falarmos ou escrevermos "eduquês".
Em verdade vos digo, em jeito de conclusão, que já passei por demasiadas modas (vestimentares, pedagógicas, decorativas, gastronómicas, corporais, capilares) para não as olhar com distanciamento. Com o tempo, tudo aquilo que achávamos horrível volta a estar na moda. As fotografias ridículas passam a "ter graça", os móveis horrendos passam de velharia a antiguidade, os carros obsoletos passam a ser "de colecção", as roupas velhas são "vintage" - e assim sucessivamente. Transformamo-nos nas nossas mães e nos nossos pais (e não estou a referir-me apenas ao aspecto físico...). Por isso, meus amigos, o melhor é não criticarmos muito. Não cuspirmos para o ar. Porque, cedo ou tarde, estaremos a dar o dito por não dito.