Eu confesso: no dia 1 de Maio fui flanar.
Lembram-se que, na semana passada, me sentia a estiolar entre quatro paredes, cheia de inveja dos participantes no cicloturismo? E não sabem - porque eu não lhes disse - que me sentia um mocho, uma coruja - um desses animais pálidos, cuja pele jamais capta os raios solares.
Durante semanas, olhava para o espelho e lembrava-me da descrição de Pierrot, a personagem do conto "Pierrot ou les secrets de la nuit", do livro Sept Contes (que nós temos aqui na Biblioteca):
"Peut-être parce qu'il travaillait la nuit et dormait le jour, il avait un visage rond et pâle qui le faisait ressembler à la lune quand elle est pleine. Ses grands yeux attentifs et étonnés lui donnaient l'air d'une chouette, comme aussi ses vêtements amples, flottants et tout blancs de farine. Comme la lune, comme la chouette, Pierrot était timide, silencieux, fidèle et secret. Il préférait l'hiver à l'été, la solitude à la société, et plutôt que de parler - ce qui lui coûtait et dont il s'acquitait mal - il aimait mieux écrire, ce qu'il faisait à la chandelle, avec une immense plume, adressant à Colombine de longues lettres qu'il ne lui envoyait pas, persuadé qu'elle ne les lirait pas."
Embora Colombine se encante momentaneamente com Arlequin, são as cartas de Pierrot que, finalmente, a conquistam.
O que significa que o poder de uma carta (uma mensagem, um "mail", um bilhete, um postal) bem escrita não é de subestimar. Se se lembram, por exemplo, do filme "Cyrano de Bergerac", de Jean-Paul Rappeneau, verificam que o que verdadeira e indelevelmente seduziu Roxanne não foi a beleza de Christian, mas as cartas de Cyrano. No livro Aquilo que eu amava, de Siri Hustvedt, as cartas de Bill Wechsler desempenham um papel fundamental na conquista amorosa. Ora bem: Pierrot é um contemplativo, mas Cyrano e Bill são homens de acção.
Conclusão e moral da história: nem sempre leitura e escrita, nem sempre bicicleta e caminhada.
Sem comentários:
Enviar um comentário