IGREJA DE SANTA CATARINA
Um anjo papudo olha-me
lá do alto e eu estendo
as mãos não vá ele es-
tatelar-se no asfalto
Um anjo papudo
pintado de azul-cobalto.
ou em
AS TROMBETAS DOS ANJOS
As primeiras trombetas dos anjos
despontaram hoje sobre os muros
da alameda. Ao volante dum Ford
apesar do pára-arranca chega-
me aos ouvidos silenciosa e doce
a sua música branda.
ou, ainda, em
UM ANJO NO PORTO
Eu vi-o um dia destes pairando
sobre a Torre dos Clérigos
ou descendo a Avenida dos
Aliados ao fim da tarde
Disfarçava mal as asas
por debaixo da gabardina
e abdicara da auréola. Po-
dem não acreditar mas eu
vi-o. Da última vez atra-
vessava a pé o rio
Os anjos de Sousa Braga conferem uma dimensão poética à cidade.
Sendo anjos, são também humanos (podem estatelar-se no solo e ser amparados por um poeta, um humano que olha o céu e os beirais em vez de cravar os olhos no chão ou nas montras). Com a sua música branda, salvam os condutores presos no tédio do tráfego. Sobrevoam a cidade e misturam-se com os comuns mortais. Ou são pessoas nas quais o poeta entrevê qualidades angelicais: às vezes pairam, outras caminham. Tal e qual como nós, que, sobretudo em dias de nevoeiro, conseguimos fazer as duas coisas ao mesmo tempo.
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