segunda-feira, 11 de maio de 2009

Acto falhado


Este texto vai ser um fracasso. Eu sei que ele vai ser um fiasco, mas não posso impedir-me de o escrever.
Com tantos anjos, lembrei-me de repente que tinha visto (?) um filme, ainda por cima de uma cineasta que muito aprecio, Jane Campion (autora, entre outros, do inesquecível O piano e de uma adaptação muito respeitável de um livro de uma das minhas escritoras favoritas, Virginia Woolf, intitulado Orlando). O filme chamava-se Um anjo à minha mesa, julgo que falava sobre escola (e a minha vida gira, desde os seis anos de idade, à volta da escola) e sobre uma escritora.
Pois se era da Jane Campion, se tinha a ver com escola (?) e com livros (?), por que motivo não me lembro senão muito vagamente da imagem de um pique-nique sob as folhagens?! Se é que me lembro de um pique-nique sob as folhagens...
Em contrapartida, lembro-me MUITO BEM por que motivo não me lembro do filme (e isto não é um paradoxo). É que foi um dos últimos filmes que fui ver ao Teatro Circo, quando ele ainda se chamava Teatro Circo e ainda passava filmes bons. Era Inverno, eu fui agasalhadíssima e levei um casaco de caxemira que só consigo usar em situações de frio glaciar. Só para que vejam, não o usei nos últimos três anos... ainda assim, depois do intervalo só conseguia pensar: "Os meus pés, os meus pés, os meus pés." Tive receio de que um dedo me caísse. De apanhar uma pneumonia e ser hospitalizada. De ter de ser descolada da cadeira, em estado de hipotermia, pelo arrumador. Em suma: pensei em tudo menos no filme.
O Teatro Circo, agora Theatro, nunca mais voltou a programar filmes. Quando reabriu, nem me ocorreu que não seria uma reedição, para melhor, da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão. Ou que não tivesse a vitalidade do Centro Cultural Vilaflor. "Os cujos" têm uma óptima programação de cinema. Assim como Vila do Conde, que só agora vai reabrir o Cine-Teatro (o último filme que vi lá, com os meus pais e a minha irmã - e vila do conde em peso - foi o "África Minha"), mas onde todas as semanas há bons filmes e onde se organiza, anualmente, o festival das curtas metragens. Ou a Póvoa do Varzim, que mantém há anos o cineclube "Octopus".
Não acho normal, mesmo nada normal, que Braga delegue essa tarefa num privado, o sr. Gomes, proprietário do Bragashopping. É verdade que a programação já teve um ou dois deslizes. Se me pedirem muito, eu digo quais são. Não obstante, considero que o sr. Gomes (que é coadjuvado por um professor da Universidade do Minho, Alberto Filipe Araújo) merecia mais do que... outros... ser agraciado com o grau de comendador. Porque, na prática, o sr. Gomes tem feito mais pelo cinema de qualidadade na cidade de Braga do que qualquer outra pessoa.
Para ser justa, devo dizer que a livraria Centésima Página e a Velha-a-Branca também programam filmes, e dos bons. Porém, as condições não se assemelham às de uma sala de cinema (como consta existir no Theatro Circo). Vocês sabem, a Rita Lee já cantou, "o escurinho do cinema"...
Também me enerva sumamente verificar que Festivais de cinema, como o IndieLisboa, têm extensões em cidades "da província". Como o mais ecléctico (não é só cinema) "Temps des Images".
Braga é assim como aqueles gritos da praxe "E pra Braga, não vai nada nada nada?!".
Só que a resposta é, quase sempre, um rotundo "Nãããããão!"

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