quarta-feira, 27 de maio de 2009

Mundo mundo, vasto mundo


Explicações, pedido de desculpa, contextualização:
- Que queria eu dizer com "estrangeiro" no texto acerca do "Serralves em festa"?

Outrora, em tempos que já lá vão, em Portugal quase não havia bibliotecas (havia uns poucos e raros edifícios; e as itinerantes da Gulbenkian, de que já aqui vos falei). Havia poucos cinemas ou teatros (ou cine-teatros). Havia poucos museus e, naturalmente, poucas exposições. Poucas salas de concertos e, naturalmente, poucos concertos. Se excluirmos a arte dita popular, a cultura era um privilégio das elites.
Claro que sempre houve honrosas excepções, que havia arte "consumida clandestinamente", serões culturais (frequentemente com uma orientação política definida); e claro que, com o 25 de Abril, a arte saiu à rua. Lembro-me de sessões de cinema em lugarejos perdidos, de "brigadas culturais", etc. Mas depois as coisas, fora de Lisboa ou Porto, voltaram a esmorecer.
Actualmente, a rede de Bibliotecas e a reabilitação/construção de cine-teatros, Casas das artes, Centros culturais e quejandos vieram reanimar este cenário. Numas mais, noutras menos.
Mas é preciso reconhecer que a França, por exemplo, já tinha "Maisons de la culture" espalhadas por todo o país desde os anos sessenta ou setenta. O Centro Georges Pompidou constituiu um "sintoma" da vontade de aproximar a arte da rua. Deixaria de haver uma fronteira nítida entre "alta" e "baixa" cultura. E, com efeito, ela deixou de ser acessível apenas às classes mais elevadas, um sinal distintivo que, inclusivé, lhes permitia perpetuar os seus privilégios. Costuma dizer-se que dinheiro atrai dinheiro, o que às vezes é verdade. Esquecem-se é de dizer que cultura atrai cultura - e que a cultura também pode atrair dinheiro.

Como? Olhem, se o sociólogo Pierre Bourdieu andou anos e anos a estudar estas questões, não serei eu a explicá-las aqui em Vila Verde, quase à hora do almoço, avizinhando-se uma tarde de reuniões e uma noitada de trabalho.

3 comentários:

  1. Bem,

    Para começar, este texto chamou a minha atenção pelo título, mas não estava à espera de nada deste género...

    Mas não posso dizer que desgostei dele, pois está muito bem concebido e retrata o atraso cultural do nosso país, que é evidente... Não só cultural, mas também social, político, económico... Enfim, o nosso país já foi uma grande potência, mas neste momento está a milhas de se ""aproximar" das grandes potências mundiais, com sistemas/programas educativos/ culturais excelentemente concebidos.

    Por fim, apenas tenho a dizer para todos tentarmos inverter esta situação, pois todos nós podemos dar uma ajudinha.

    Mesquita, 10B

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  2. Caro Mesquita:

    O título era uma alusão à parte final de um poema do Carlos Drummond de Andrade: "Mundo mundo vasto mundo / se eu me chamasse Raimundo / seria uma rima, não seria uma solução. / Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração.". Ainda bem que gostaste.

    O nosso país é um país a duas (ou três) velocidades. Se os portugueses aproveitassem todos os recursos que, apesar de tudo, têm ao seu alcance, chegariam (ainda mais) longe. Como sabes, há portugueses (cá e no estrangeiro) na vanguarda da ciência, da cultura, da tecnologia. Há vários centros de execelência, a vários níveis e em várias áreas.
    Só que foram portugueses que QUISERAM. Por isso, tens toda a razão: se todos dermos "uma ajudinha", saímos do marasmo. Ai não, que não saímos!

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  3. Gralha - que não mudará a minha vida, como a de R.R.: "excelência"

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