segunda-feira, 15 de março de 2010

Pensar é a maior de todas as transgressões

A prova de que Murray Ringold - apesar das suas dúvidas e perplexidades, apesar do seu remorso pelo facto de a mulher ter morrido por culpa da sua teimosia em manter-se em Newark, foi bem sucedido - é que é graças ao seu professor de literatura que o narrador de Casei com um comunista se torna um romancista reconhecido.

Não é por acaso que a obra se inicia, justamente, com uma alusão a esta figura: "Murray, o irmão mais velho de Ira Ringold, foi o primeiro professor de Inglês que tive no liceu (...)" e continua nestes termos: "(...) sentia-se, no sentido carreirístico do termo, a vocação de um professor como Murray Ringold, que não se tinha perdido na amorfa aspiração americana de chegar ao topo (...). [Murray] tinha escolhido como norma de vida ser nosso."

Reparem que não há ilusões na forma como os alunos o encaravam "Não que a impressão deixada no meu conceito de liberdade pelo seu arrojado estilo pedagógico fosse aparente na altura; nenhum miúdo pensava assim a respeito da escola, dos professores ou mesmo de si próprio. No entanto, uma ânsia incipiente de independência social deve ter sido de alguma forma alimentada pelo exemplo do Murray (...)", um professor para quem "pensar é a maior de todas as transgressões".

Não é Murray Ringold quem quer, mas ter um professor assim no horizonte não é, a meu ver, mau. E é consolador...

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