Li no jornal i do dia 24 de Fevereiro um artigo de Vanda Marques com infografia de Ricardo Santos, "Aprenda a escrever um livro como se fosse um jogo de tabuleiro".
Embora embirre com cursos de escrita criativa, devo admitir que alguns dos escritores de língua inglesa que aprecio os frequentaram. Por conseguinte, e dado que escrever livros ou guiões parece ser um lucrativo desporto nacional, parece-me que me devo "deixar de coisas".
O artigo tem o formato de um jogo da glória. O que me parece curioso é que, por um lado, inverte as nossas preocupações usuais: em vez de determinar quem é o narrador e qual o seu ponto de vista, nesta óptica temos, de acordo com Lídia Jorge, de "definir a voz do livro". Por outro lado, são-nos dados conselhos válidos para tudo na vida, como o que prodigaliza João Tordo: "A primeira regra fundamental é deixar de procrastinar, isto é, deixar de adiar o trabalho. Um escritor escreve todos os dias, mesmo que seja na sua cabeça." Ou, como dizia Plínio (e Zola repetia) "nulla dies sine linea", isto é, não deixes passar um dia sem escrever uma linha.
Um conselho que me parece altamente recomendável, independentemente da vossa vontade de se tornarem escritores, consiste em - como recomenda Pedro Sena-Lino - ler pelo menos cinco páginas antes de escrever uma. João Tordo pergunta, jocosa e certeiramente: "Como é que vamos saber se gostamos da prosa torrencial de Faulkner ou dos diálogos brilhantes e económicos de Hemingway se tudo o que lemos foi Dan Brown?" (pois...)
Outro conselho "passe-partout", este da autoria de Luís Carmelo: "A investigação é uma antecâmara. Mas nada de «googlanço»" (é que ainda podem tomar documentos forjados de alto a baixo, como o Protocolo dos sábios de Sião, por verdades inatacáveis... como o outro senhor....)
Também subscrevo inteiramente a advertência de Elmore Leonard, no sentido de não usar mais de um ponto de exclamação num texto de 100 mil palavras. Os adjectivos são comparados a hambúrgueres: "uma vez por mês não faz mal, todas as semanas a balança dispara." e usam-se quando o escritor não tem poder de descrição.
Por último, e ainda de acordo com Luís Carmelo, deve-se apagar mais do que se escreve. "A capacidade de perder o amor às nossas metáforas e rever o texto e mudá-lo é essencial", reforça Luís Carmelo. Era assim que fazia o meu querido Flaubert e o resultado está à vista, sendo um dos escritores cuja escrita melhor sobreviveu à passagem do tempo. E quanto tempo!
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