terça-feira, 9 de março de 2010

Alta literatura para as massas

Descobri na Biblioteca um livro de crónicas do Ricardo Aráujo Pereira, Boca do Inferno, um ano de crónicas na Visão. Enquanto esperava que a Net "viesse", folheei-o e encontrei várias referências literárias.

Ora vejam: na página 11 refere-se à peça de teatro do absurdo Rhinocéros de Eugene Ionesco. Eça de Queirós merece, pelo menos, duas referências, uma na página 26 ("A propósito, uma questão: é possível ser queirosiano e não usar, pelo menos uma vez por dia, a palavra «piolheira»?) e outra na página 35: "(Usei aqui um diminutivo porque periodicamente gosto de lembrar às pessoas que sou o mais parecido que nós hoje temos com o Eça.)"

Fernando Pessoa, ou um dos seus heterónimos, surge na página 69 como o correlato do empregado de café: "Pousa o olhar sobre um prato de tremoços como Alberto Caeiro o pousava sobre os rios e sobre as flores só qu com mais poesia." Flaubert aparece na página 83, na boca de uma porteira linguaruda "«Então diz que a Madame Bovary anda amantizada com um tal Rodolfo? Eu tenho pena é do sr. Carlos, que não merecia.»" No monólogo, que prossegue, faz ainda alusão a Cervantes.

Mas talvez o mais engraçado seja o pastiche (escrita"à maneira de...") António Lobo Antunes, que ocupa toda a crónica "O teu subúrbio era mais bonito que o meu". Depois venham dizer-me que as aulas de Português/a literatura/a escola/o francês/os livros "não servem para nada"...

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