segunda-feira, 15 de março de 2010

A traição da escola

Num dos meus livros preferidos de Philip Roth, Casei com um comunista, uma das personagens é um professor chamado Murray Ringold. Sempre me impressionaram as passagens que dizem respeito a este docente de literatura, que se mantém em Newark contra tudo e contra todos, por idealismo e convicção:

"Passei lá os últimos dez anos antes de me reformar. Não conseguia ensinar nada a ninguém. Quase não conseguia controlar os desmandos, quanto mais dar-lhes aulas. A disciplina... era esse o busílis da questão. Disciplina, patrulhar os corredores, repreendê-los até algum miúdo se atirar a nós, expulsões. Os piores dez anos da minha vida (...) Mas fui toda a vida um dos agitadores do sistema educativo de Newark, não fui? Os meus antigos colegas diziam que eu era maluco. Nessa altura eles estavam todos nos subúrbios. Mas como é que eu podia fugir? Estava interessado em que fosse mostrado respeito por esses miúdos. Se há alguma esperança de uma melhoria de vida, onde há-de ela começar senão na escola? Além disso, cada vez que, como professor, me foi pedido que fizesse alguma coisa que eu achasse interessante e conveniente, dizia logo: «Sim, gostaria de fazer isso.» e atirava-me de cabeça. Continuámos em Lehigh Avenue e eu ia para o South Side e dizia aos professores do Departamento: «Temos de encontrar maneiras de induzir os nossos alunos a serem empenhados», e coisas que tais."

Murray Ringold dá-se conta do seu erro da pior maneira possível: é roubado duas vezes, a mulher morre na sequência de um assalto. Eis a conclusão:

"Sabes do que me apercebi? Apercebi-me de que tinha sido atraiçoado. Não é uma ideia que me agrade, mas nunca mais me largou desde essa altura."

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