sábado, 12 de setembro de 2009

A turma



Hoje, às 22h43m, a RTP2 exibe, com grande sentido de oportunidade, o filme "A turma", de Laurent Cantet.
Baseado no livro homónimo de François Bégaudeau, que colaborou no argumento e desempenha o papel principal, este filme obteve a palma de Ouro do Festival de Cannes em 2008.
Há muitas razões para o apreciar: a sua honestidade intelectual (uma das "marcas de água" do realizador Laurent Cantet), a ausência de maniqueísmo (não pensem que o professor é o herói), a constatação das dificuldades de relacionamento entre alunos e professores, entre alunos e alunos, entre professores e professores, entre "escola" e professores. O multiculturalismo e as inúmeras questões que levanta. A diferença abissal entre as boas intenções (governamentais, institucionais, individuais) e a realidade dos factos. Um exemplo? Deixo-vos o excerto em que o professor claramente "perde as estribeiras":
«- Insulto-te se me apetecer, se me apetecer chamar-te tola chamo-te tola, e se o disser é porque é verdade, és uma tola, tenho três turmas e neste momento és tu, de longe a que tens direito ao título de aluna mais tola.» (p. 38) O professor "(...) dormira mal." (p. 37) e ninguém, se não um professor (ou alguém que leia este livro com olhos de ler) pode imaginar as consequências de noites mal dormidas numa sala de aula. A sua atitude é inadequada? É. Mas humana, e provém, talvez, de quem mais se preocupa:
«(...) Daqui a três meses vais perguntar-te mas porque fui tão estúpida, vais perguntar-te porque perdi o meu tempo com tolices, dentro de três meses vais pensar o professor de francês tinha razão, devia tê-lo ouvido, ter-me-ia integrado imediatamente na turma e não teria perdido três meses, é o que vais pensar daqui a três meses, queres apostar? Vais pensar fui uma burra e perdi o meu tempo, portanto o que proponho é que comeces já a pensar no assunto, assim não haverá problemas, agora vai-te embora, por hoje já chega de ti.» (p. 38).
O livro começa com o professor, três dias antes do início das aulas (12 de Setembro? Algures por aí...), contabilizando "(...) trinta e três semanas de aulas, que, multiplicadas por quatro e subtraindo os feriados e acrescentando em seguida uma estimativa das reuniões suplementares, produziam o número de dias de presença. Cento e trinta e seis." (p. 7)

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