Mas a Mafalda ocupa um lugar especial no meu imaginário. Ela pensa. Pensa de forma diferente, mesmo quando isso lhe vale a curiosidade de todos os seus coleguinhas. Lamentavelmente, não tenho aqui nenhum álbum dela. Li-os todos, várias vezes - sempre emprestados. Mas lembro-me perfeitamente, por exemplo, daquela tira em que ela pergunta, no recreio, algo como «Mas o que é que tem de tão extraordinário não ter televisão?!» e logo todos os meninos se amontoam para ver quem é a ave rara. Ou daquela outra em que o Filipe, observando as idas e vindas do pai de Mafalda para consultar o dicionário, sentencia que, àquele ritmo, este nunca mais vai acabar de ler o livro. Uma das minhas preferidas é aquela em que o pai recebe um beijo de tal forma repenicado da Mafalda que passa o dia todo com um sorriso (tolo? maravilhoso?), enfrentando o ar carrancudo dos outros passageiros do autocarro.
Dou por mim a citar tiras em que Mafalda não contesta, o que é injusto. Mais do que somente a sopa, ela contestou o mundo absurdo em que vivíamos - muito, muito parecido com o mundo em que vivemos; desmontou as notícias da televisão e do jornal; em suma, pôs-nos a pensar.
Mas hoje, não sei porquê - talvez porque o sol de fim de dia era absolutamente redondo e absurdamente vermelho - vim para casa a pensar na Mafalda e no sorriso estampado no rosto do pai dela.
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