segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O pronome de todos os equívocos

Todos os anos pergunto aos meus alunos se preferem que os trate por tu ou por você. Em certos casos digo-lhes que em francês há até dois verbos específicos (tutoyer e vouvoyer, respectivamente) para distinguir estas duas formas de tratamento.
Geralmente, preferem que os trate por tu.
A questão do tratamento por você já levanta mais dúvidas e perplexidades. É frequente que os alunos me digam que os pais lhes recomendam para tratar os adultos, ou os professores, por você. Eu aplaudo em silêncio o cuidado destes pais. Porém, o resultado final não é brilhante, na medida em que, depois, alguns perguntam (mui respeitosamente):
«Você não vai marcar as datas dos testes?»
No decurso destas conversas iniciais, têm-me contado episódios de professores que se mostram desagradados com a presença explícita de um você numa frase. Ora, os alunos estão a ser respeitosos. Mas asseguro-vos que o resultado final melhora consideravelmente se omitirem o você, isto é, se disserem «Não vai marcar as datas dos testes?» ou «A "sotora"/ O "sotor" não vai marcar as datas dos testes?»; «A avó quer que a ajude?».
Trata-se, pois, de uma questão controversa.
É que não deixa de ser confuso ouvir alguém dizer-nos para tratar por você e, pelo outro, perceber que outra pessoa fica ofendida por se obedecer à ordem.
Em boa verdade, enquanto professora de Português, tenho simultaneamente a obrigação de lhes chamar a atenção para o facto de, sem saberem porquê, poderem estar a criar "anticorpos" num interlocutor; e de explicar que você é a corruptela de um respeitosíssimo "Vossa mercê". Na dúvida, devem evitar tanto quanto possível o você. "E mai'nada".

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