segunda-feira, 9 de março de 2009

Parabéns, Barbie!

Hoje a Barbie faz cinquenta anos e, por isso, a nossa Biblioteca vai inaugurar uma exposição que demorou meses a preparar (eu não disse que a nossa responsável tem alma de Directora de jornal?)
Eu, como humilde redactora, vejo-me obrigada a escrever sobre o assunto. O problema - porque há um problema - é que não sou grande apreciadora de Barbies. Eu explico: só tive bonecas e chorões. Gordinhos, cheinhos, à imagem dos bebés e crianças que éramos. O ideal de beleza da minha infância era, aliás, o "bebé Nestlé". Rechonchudo, louro e de olhos azuis.

Já a minha irmã, muito mais nova do que eu, teve a primeira Barbie que vi na vida. Nunca brinquei com a boneca e nunca mais pensei no assunto. Ela só voltou a atravessar-se no meu caminho como qualificativo depreciativo ("É uma Barbie", ou seja, "É bonita, mas não tem nada na cabeça"); ou como responsável directa ou indirecta por bulimias e anorexias.

E, com efeito, a professora Ana Margarida Dias, a nossa mentora, confirma que há estudos antropométricos que demonstram que uma mulher com a configuração da Barbie não conseguiria manter-se de pé. Assim, brincar com Barbies plasmaria, na mente influenciável das crianças, um ideal de beleza que a própria natureza jamais lograria criar. Inculcar-lhes-ia a ideia de que só as mulheres longilíneas seriam belas. Sim, porque a Barbie saiu do estereótipo louro e rapidamente foram criados modelos morenos, latinos, africanos, asiáticos.


Não foi foi só do ponto de vista do fotótipo que a Barbie se adaptou. Com efeito, ela deixou de ser apenas o suporte de toilettes de alta costura ou associadas ao lazer - ou de profissões tradicionalmente associadas ao feminino - para ser, por exemplo, astronauta. A Barbie foi, desde cedo, politicamente correcta.

Além disso, do ponto de vista histórico, a Barbie foi acompanhando (embora de longe) os novos tempos. O seu lema, "We girls can do anything", vai no sentido da emancipação (relativa) da mulher. E porquê relativa? Porque ela segue as mudanças sociais a uma distância cautelosa. Quando algo está consolidado e é consensualmente aceite, aí, sim, haverá uma "Barbie-isso". A Barbie divorciada, por exemplo.

Por que motivo essa adaptabilidade da Barbie foi um pouco escamoteada em Portugal? Porque, tratando-se, durante um longo período, de um país periférico, atrasado e renitente às mudanças - e, sobretudo, de um mercado muito restrito, não valia a pena apostar na comercialização de todos os modelos.

Todavia, uma exposição de todas as Barbies e respectivos acessórios (incluindo o Ken, com quem nunca se casou, como o pato Donald e a Margarida ou o Mickey e a Minnie... não sei se estão a ver...), daria um interessante testemunho sociológico da sucessivas idealizações e representações da vida das mulheres a partir da segunda metade do século XX.

Pronto. Uma parte das minhas ideias pré-concebidas caiu por terra. Agora só estou à espera que criem a "Barbie atarracada", a "Barbie nariguda" ou a "Barbie das pernas tortas" para me despojar por completo dos preconceitos. Sim, porque a televisão e o cinema já celebrizaram mulheres com ESSE tipo de beleza, lembrem-se por exemplo das maravilhosas Chandra Wilson (Dra Bailey de "Anatomia de Grey), Barbra Streisand ou Carrie Bradshaw, de "O sexo e a Cidade".

Parabéns, Barbie!... "malgré tout"

1 comentário:

  1. Sou uma leitora atenta dos vossos textos e porque gosto e porque tiro sempre ideias deles, aqui vai um abraço para a professora Ana Margarida e para a humilde redactora.

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