quinta-feira, 26 de março de 2009

Ouvido no quarto-de-banho

Estará este blog a ficar bisbilhoteiro? Não sei, digam-me vocês.
Às vezes apetecia-me andar de bloco de notas na mão, a recolher, simplesmente, o que as pessoas dizem. A cada passo fico surpreendida com o que ouço. Pergunto-me como é que o Lobo Antunes, fechado naquela cave/garagem/tugúrio, consegue escrever crónicas tão tal-qual-a-vida. Eu tenho o privilégio de estar rodeada de gente por todos os lados (sou o oposto de uma ilha. Ou ainda: se todo o homem é uma ilha, um professor não passa de uma península. Ou algo assim...).
Ora, estava eu no quarto-de-banho e ouvi a seguinte resposta a uma pergunta que já não consigo reproduzir: «- Um filho? Mas como é que eu posso ter um filho, com tantos filhos que tenho aqui?»
Esta resposta vem exactamente ao encontro daquilo de que ameacei falar na quarta-feira. É que as crianças passam tanto tempo na escola que os professores passaram a assumir, cada vez mais, os papéis que os pais, os avós (a família alargada, uma aldeia inteira) dantes exerciam. De facto, numa certa medida, eles são nossos filhos. Mas ao mesmo tempo não são. Se fossem, "os meus" (eu sei que estou a copiar descaradamente uma expressão que foi patenteada pela professora Graciosa Ferreira) não diriam nem fariam certas coisas.
Assim mesmo, fiquei a pensar naquela minha colega, cujo rosto desconheço e cuja voz não reconheci, e no seu lamento.

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