segunda-feira, 2 de março de 2009

Dia Internacional da mulher

O Dia Internacional da mulher não devia existir. Vou escrever um grandessíssimo cliché: Todos os dias deviam ser dias do género humano. Assim na linha de «Natal é quando um homem (ou uma mulher, já agora) quiser» e quejandos.
Sou aquele tipo de pessoa que se arrepia com afirmações do estilo «Os homens são todos...», «Os americanos...» Regra geral, atrás de uma frase assim iniciada vem uma barbaridade, uma generalização injusta para muitos dos indivíduos pertencentes àquela classe (um bastaria). Irrita-me a campanha (ancestral, convenhamos) contra as madrastas. Arrepio-me com alusões a louras. Odeio anedotas sobre sogras.
Acho que a Internet, na qual vejo inúmeras vantagens, tem o enorme defeito de inundar as nossas caixas de correio com graçolas de mau gosto e/ou juras de admiração pelas mulheres, cujo destino é um caixote do lixo mental e virtual. Ruído. Isto para não falar nas "cadeias" de sms rematadas com algo do género "Manda a todas as mulheres lindas e maravilhosas que conheces". Juro que visualizo sempre um publicitário espertinho a esfregar as mãos e a contabilizar os milhares de euros que estas cadeias devem dar a ganhar às operadoras...
E, no entanto, reconheço que o Dia Internacional da mulher se justifica.
De uma perspectiva estritamente literária, lembremos a ideia do livro Um quarto que seja seu, de Virginia Woolf, onde esta defende que não conhecemos a "irmã" de Shakespeare porque, enquanto as mulheres não tiveram um espaço onde escrever (o que implicava dinheiro que assegurasse a sua subsistência) não puderam ser "autoras". Com honrosas excepções. Mas excepções.
De um ponto de vista sociológico, sabe-se que as mulheres, que neste momento detêm mais habilitações do que os homens, ocupam menos cargos de chefia. Sabe-se que, por norma, as qualificações das mulheres lhes "garantem" remunerações inferiores às dos homens com iguais habilitações (felizmente, tal não sucede com os professores. Todavia, ver-se-á se as actuais mudanças na carreira não virão provocar alterações a esse nível). Sabe-se que as mulheres, em particular as portuguesas, trabalham em casa um número de horas muito superior ao dos homens - independentemente do número de horas que trabalham no exterior ou do salário que auferem. E eu assevero-vos, de um saber de amargas experiências feito, que passei por situações (oficinas de automóveis, instituições bancárias) onde me senti claramente discriminada.
Infelizmente, há mulheres que perpetuam a discriminação: outro dos meus ódios de estimação é a frase "Prefiro, de longe, trabalhar com homens." Isto, vindo de onde venha, faz-me impressão. Todavia, se vier de uma mulher, causa-me náuseas. Se me dissessem "Não gosto de trabalhar com gente preguiçosa, ou desleal, ou estúpida, ou carreirista...", faria sentido. Há pessoas assim de ambos os sexos, e é, efectivamente, horrível trabalhar com elas.
Não há como os cantores para porem tudo no devido lugar. Lembram-se da letra da canção "O homem fantasma" do Sérgio Godinho? Era assim:
«Eu sou o homem-fantasma
combatente infatigável
mas atenção que até eu
posso ser criticável
se depois do que eu digo
e denuncio e reclamo
eu voltar para casa
e em casa eu for um tirano»
Seria «bonito» terminar este texto com uma frase de uma canção do Léo Ferré, que dizia "La femme est l'avenir de l'homme". Mas bem mais tocante seria o pleonasmo "Les gens sont l'avenir de l'Humanité". "Les gens", gente, género humano, pessoas. Nós e eles, eles e nós, todos.
P.S. Não sabem o que significa pleonasmo? Perguntem a qualquer aluno de 10º, 11º ou 12º desta escola. Eles sabem.

2 comentários:

  1. Olá! Sou uma aluna do 12º ano desta escola e, muito sinceramente, escolar (talvez por distracção). Felicito quem redigiu o texto pois, na minha modesta opinião, está fantasticamente estruturado...
    Contudo, tenho uma advertência a fazer: lamentavelmente, a maioria dos alunos dos anos referidos não sabem o que á um pleonasmo... Honestamente, creio que quem escreveu o texto estava a ser irónica...

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  2. Olá! Sou uma aluna do 12º ano desta escola e, muito sinceramente, nao sabia que existia uma biblioteca escolar (talvez por distracção). Felicito quem redigiu o texto pois, na minha modesta opinião, está fantasticamente estruturado...
    Contudo, tenho uma advertência a fazer: lamentavelmente, a maioria dos alunos dos anos referidos não sabem o que é um pleonasmo... Honestamente, creio que quem escreveu o texto estava a ser irónica...
    (creio que houve uma falha no último comentário, pois não aparece todo o texto)

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