sexta-feira, 27 de março de 2009

O estranho caso do assassino da leitura

Pedi emprestada a revista Ler porque queria ver uma entrevista do Carlos Vaz Marques ao António Barreto, um dos meus "gurus".
Infelizmente, parece-me que há lá algumas afirmações menos ponderadas. Claro que eu só me posso pronunciar sobre a parte da realidade que conheço. Porém, sendo professora de Português e trabalhando em equipa com vários colegas meus desta e de outras escolas, discordo que se diga "(...) a escola hoje destrói a leitura (...)", designadamente "(...) com a análise estruturalista e linguística dos textos (...)".
Claro que me aflijo, e muito, pelo facto de ter de trabalhar programas tão extensos, tantas competências - e, às vezes, tantas lacunas - em apenas duas vezes noventa minutos por semana. É óbvio que, tendo cento e oitenta alunos, não poderei desempenhar o papel que António Barreto preconiza, que consiste em "adequar o tipo de livro à pessoa em causa" - que é o papel do pedagogo grego, do perceptor privado, do mentor... ou dos pais.
Mas, mesmo sendo uma professora da vilipendiada "escola de massas", tento sugerir livros que, a meu ver, agradarão a este ou àquele aluno. E é frequente aceitar, sem sombra de remorso, que apresentem obras que de forma alguma fazem parte das minhas preferências pessoais.
É verdade que nas escolas coexistem as práticas mais diversas. Mas não podemos ignorar que, a par da entronização do Magalhães, há também um Plano Nacional de Leitura. E bem sabemos que, embora hoje haja muitos livros à disposição dos alunos, eles têm de competir com os muitos outros interesses dos jovens.
Ainda assim, considero que há alunos que lêem muito. Muitíssimo. E não me baseio apenas nos dados deste nosso observatório, mas ainda no que conheço de outros contextos.
Daí que considere, parafraseando Mark Twain, que a notícia da morte da leitura na escola é claramente exagerada.

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