segunda-feira, 3 de maio de 2010

A choldra

Temos aqui na Biblioteca um exemplar de O Leopardo, de Tomasi di Lampedusa, de onde se extraiu o filme do mesmo nome, o qual se conclui com o paradoxo "É preciso que tudo mude para que tudo permaneça como está".

E a verdade é que, se lermos Os Maias, verificamos que, mais de um século volvido, o país parece ter mumificado nos antigos vícios. Independentemente das obscuras intenções das agências de "rating"...

«— Então, Cohen, diga-nos você, conte-nos cá... O empréstimo faz-se ou não se faz?

E acirrou a curiosidade, dizendo para os lados que aquela questão do empréstimo era grave. Uma operação tremenda, um verdadeiro episódio histórico!...

O Cohen colocou uma pitada de sal à beira do prato, e respondeu, com autoridade, que o empréstimo tinha de se realizar absolutamente. Os empréstimos em Portugal constituíam hoje uma das fontes de receita, tão regular, tão indispensável, tão sabida como o imposto. A única ocupação mesmo dos ministérios era esta —cobrar o imposto e fazer o empréstimo. E assim se havia de continuar... Carlos não entendia de finanças: mas parecia-lhe que, desse modo, o país ia alegremente e lindamente para a bancarrota.

— Num galopezinho muito seguro e muito a direito — disse o Cohen, sorrindo. — Ah! sobre isso, ninguém tem ilusões, meu caro senhor. Nem os próprios ministros da Fazenda!... A bancarrota é inevitável; é como quem faz uma soma...»

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