terça-feira, 26 de outubro de 2010

A angústia da folha em branco



Eis-me aqui, novamente, perante uma folha em branco. Já me habituei, daí que não me provoque a habitual angústia. Hoje, por exemplo, falarei do que… não falar.
Há muito tempo que sei que, à mesa (ou sem ser à mesa: com a família, os amigos dos pais, os colegas, estranhos em geral) não se deve falar de política e de religião. Sempre ouvi dizer que é feio falar de dinheiro (embora, quando ele nos falte, seja difícil evitar o tema). Parece-me óbvio que não se deve falar de… enfim, como disse o Carlos Drummond de Andrade: “O que se passa na cama é segredo de quem ama”. Parece-me de boa política não falar de corda em casa de enforcado: queixar-se de que se está gordo perante alguém cujo índice de massa corporal é superior ao nosso, das maleitas da idade perante alguém mais velho ou da falta de tempo perante uma pessoa com mais ocupações do que nós.
Num breve inquérito às minhas companheiras de trabalho de hoje (a Isabel Oliveira e a Maria José Carvalho) ouvi os seguintes e avisados conselhos: evitar temas controversos e, sobretudo, observar as pessoas antes de encetar uma conversa. Isso, disse-lhes eu, é uma boa definição de inteligência emocional.
E quanto ao tempo? As opiniões dividiram-se: será demasiado circunstancial? Ou será uma boa forma de quebrar o gelo? Lembro-me sempre daquela frase acerca da chuva em Espanha que molha quem a apanha que a Audrey Hepburn dizia, com ar solene, em “My fair lady”.
E pronto, assim me desenvencilhei do tema mais glosado por todos os cultores de crónicas: a falta de tema.
(escrito em formato Word no dia 21/10/2010, 11h12m)

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