Pois lá estava eu no trânsito, dentro do meu carro lavado, a ouvir "Os dias do avesso". Do avesso, com efeito. Pois defendiam os dois doutos senhores que os professores (todos os professores) usavam a caderneta dos alunos como substituto para a autoridade que não exerciam.
Revolvem-se-me as entranhas sempre que ouço alguém incluir, sem matizes, toda uma classe (um género, o que quer que seja) dentro do mesmo saco. Por essa ordem de ideias, eu também poderia dizer que todos os comentadores de rádio são abéculas, coisa que jamais me ocorreria dizer. Pois seria muito injusta.
Se não tivesse mais que fazer, ligaria para lá a pedir que:
1) provassem que nenhum professor deste país faz aquilo que eu creio que a maioria fará, ou seja, usar a caderneta como reforço (e não substituto) para a autoridade efectivamente exercida na sala de aula;
2) provassem que a caderneta não é um bom meio para promover o diálogo escola-família (detesto "eduquês", mas ainda detesto mais "palermês");
3) fizessem uma auditoria às cadernetas dos meus alunos e se retractassem: «As professoras XXXXXX YYYYYYY e VVV ZZZZZ da ESVV também usam a caderneta para escrever elogios aos alunos...»
Por último, gostaria que os Encarregados de Educação agradecessem a Isabel Stilwell a utilíssima sugestão que, no final do programa, deu aos alunos deste país, e que consistia em deitar fora a caderneta (numa poça de lama, salvo erro).
Um lodaçal, com efeito.
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