sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Museus virtuais

"Art project" é uma iniciativa do motor de busca Google, que permite visualizar mais de mil obras de arte. O acesso de obras de artes alteradas (como no vídeo que precede este texto) ou reproduzidas em diferentes formatos não substitui a emoção que vê-las ao vivo proporciona. Porém, é uma forma fácil e barata de contactar com a história de arte. Melhor do que nada...

Cliquem aqui para viajar no espaço e no tempo.

Museus "a brincar"

A árvore do dia

FADENSONNEN


Acima dos dejectos cinza e negros.
Uma árvore –
elevado pensamento
capta os tons da luz: há ainda
canções para cantar além
da humanidade.



Paul Celan

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Estranha obsessão




Já ontem, ao telefone com a Elisa, lhe tinha dito o quanto tinha gostado do filme "O discurso do rei" e das minha razões para discordar da fraca pontuação que lhe havia sido atribuída pelos críticos do Público. Quando lhe disse "É um filme óptimo para as aulas de Português, quando começamos a exposição oral", a minha amiga riu-se até às lágrimas. De mim, claro. "Tu nunca páras de pensar na escola." Comentários para quê?

Escola, escola e mais escola


Esqueço-me frequentemente de contextualizar o que escrevo. O texto precedente tem a ver com a circunstância de eu ter ficado encantada com o facto de os assistentes operacionais cá da escola ostentarem agora umas belas fardas (castanha e verde a feminina, azul a masculina).

Gostei tanto (aqueles casacos, hmmm), que fui à Comissão Executiva pedir uma. O pedido foi-me negado e ficaram admirados pois, pelos vistos, alguns funcionários não gostam delas. À parte o facto de achar uma pena não serem iguais as dos homens e das mulheres, eu, pessoalmente (já o disse) gosto. Ou seja: vivo escola, respiro escola, penso escola... e acho que também gostava de vestir escola - sem ser no sentido metafórico, claro.

Andar fardado ou não andar fardado


Gosto muito de fardas. Não se riam, que não estou a dizer aquilo que estão a pensar... que marotos! É verdade que muita gente gosta de fardas por ESSES motivos, mas eu cá gosto de fardas porque dão um ar profissional e poupam muito a roupa. Com efeito, no início da minha carreira comprei uma bata branca e durante um ano andei sempre com ela. Pois não imaginam a sujidade que levava para casa todas as sextas-feiras. Agora levo-a na mesma... mas entranhada nas roupas.

Escusado será dizer que os meus alunos detestavam que eu usasse bata. Imagino que fosse porque perdiam uma das distrações favoritas das aulas: ver como o(a) professor(a) anda vestido. Lembro-me que, quando era estudante, colegas minhas sabiam a frequência com que determinado professor mudava de camisa ou de meias - o que era, e é, assustador. Assim, usar bata implica eliminar mais um factor de insucesso escolar, a desconcentração.

Por outro lado, e mesmo se as pessoas hoje não prestam muita atenção a esse factor, uma farda poupa muito a roupa. Eu, por exemplo, uso certas roupas até ao fio, e penso que se avizinham tempos em que as pessoas em geral comprarão roupa com menos frequência, constituindo o uso de bata uma boa ajuda para gastar menos dinheiro em vestuário.

Além disso - esta achega vem-me da minha mãe, que se referia a isso como algo de positivo do colégio interno onde esteve - o uniforme elimina distinções sociais. Usando a mesma indumentária, somos mais nós mesmos.

Por último, do ponto de vista estético, as fardas (estou a lembrar-me concretamente das fardas maoístas) são bonitas. Nos meus tempos gloriosos de interail, mandei fazer uns balandraus "à Mao" que, se não tivessem morrido de usura, ainda hoje usaria. Mas não vos vou massacrar hoje com a minha versão da "Rádio nostalgia".

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Esta escola não é para velhos (I)

Hoje é um dia triste para mim. Hoje é um dia triste para a nossa escola toda.
Quando para cá vim, casávamo-nos, tínhamos filhos, dávamos os parabéns uns aos outros. Ocasionalmente, isso ainda sucede: ainda há quem se case (embora já comecem a ser mais os filhos do que os colegas), já há quem tenha netos. Nessa época, sucedia darmos os pêsames uns aos outros, mas, em geral, era porque nos tinham morrido os avós. Custou-nos muito perder os avós. Mas ficarmos órfãos ainda custa mais. E perdermos pessoas da nossa idade é ainda mais chocante. Talvez estejamos a ficar velhos. Talvez estas coisas não devessem acontecer. Hoje é um dia triste para nós.

Árvore (III)






















ALGUMAS PROPOSIÇÕES COM PÁSSAROS E ÁRVORES
QUE O POETA REMATA COM UMA REFERÊNCIA AO CORAÇÃO

1. Os pássaros nascem na ponta das árvores
2. As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
3. Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
4. Os pássaros começam onde as árvores acabam
5. Os pássaros fazem cantar as árvores
6. Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
7. Como pássaros poisam as folhas na terra
quando o outono desce veladamente sobre os campos
8. Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada e não se dá bem na poesia
não foi ainda isolada da filosofia
9. Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
10. Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração

Ruy Belo

Árvore (II)












Pertenço de fazer imagens.
Opero por semelhanças.

Retiro semelhanças de pessoas com árvores
de pessoas com rãs
de pessoas com pedras
etc etc.

Retiro semelhanças de árvores comigo.

Não tenho habilidade pra clarezas.
Preciso de obter sabedoria vegetal.

(Sabedoria vegetal é receber com naturalidade uma rã no talo.)
E quando esteja apropriado para pedra, terei também
sabedoria mineral.

Manoel de Barros

Árvore (I)

Hoje achei que talvez fosse de mau gosto falar de árvores, visto que ontem morreu um senhor na sequência da queda de uma árvore que, pelas imagens que vi na televisão, parecia saudável. Mas li num sítio de referência que o excesso de alcatrão nas cidades explica estas quedas lamentáveis. Por isso volto aos poemas acerca de árvores de dois dos maiores poetas de língua portuguesa do século XX - mas não sem antes vos deixar "literatura" acerca do assunto:
e

Amor e bolachinhas

No dia 14 de Fevereiro, a Ana Margarida levou a biblioteca à sala de professores, e assim pudemos comer bolachas em forma de coração enquanto líamos belos poemas de amor. Ao que parece, aqui na Biblioteca houve outras coisas, dinamizadas pelas turmas I e H do décimo primeiro ano e a turma H do décimo segundo ano. Mas, como sabem, só posso falar acerca do que vi, e isso não vi...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sabendo como a poda indiscriminada de árvores me incomoda, sabendo como ando desolada pela forma como até nos campi de Gualtar e Azurém os bárbaros forçaram a entrada, quem me queria consolar enviou-me este poema:

A ÁRVORE E A NUVEM

Uma árvore anda de aqui para ali sob a chuva,
com pressa, ante nós, derramando-se na cinza.
Leva um recado. Da chuva arranca vida
como um melro ante um jardim de fruta.

Quando a chuva cessa, detém-se a árvore.
Vislumbramo-la direita, quieta em noites claras,
à espera, como nós, do instante
em que flocos de neve floresçam no espaço.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

"Faites l'amour, pas les magasins"



Faço uma pausa na correcção dos testes para inserir esta imagem nos dois blogues de Francês e, "burn out" ou não "burn out", não resisto a partilhar convosco este texto, que fui buscar a um sítio de Francês Língua estrangeira mexicano:

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

"Burn out"

Hoje não haverá escritas, há os testes dos sétimos, mais uma vigilância e, depois, uma consulta. A minha Componente não lectiva, que já se estende por horas inimagináveis, mais uma vez engolida pelo abismo do trabalho-extra-que-mais-ninguém-pode-fazer. Gostaria de ter tempo de ver a Olívia Palito, mas, infelizmente, não sei se a verei. Levo umas bolachas para comer entre uma sala e outra. Estou à beira do esgotamento, a um ponto tal que nem sou capaz de pensar num equivalente português para a expressão que dá título a esta mensagem. Mas, afinal, os médicos lusos também não...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Papa feita



Fui buscar este vídeo ao blogue amigo http://projectopne.blogspot.com/, onde já ontem tínhamos sido advertidos de que hoje era o Dia da Internet segura. Foi lá ainda que fiquei a saber que a DGIDC disponibilizava estes http://www.seguranet.pt/semana/2011/sugestoes.html e estes http://www.seguranet.pt/semana/2011/recursos.html recursos em linha.

"La chandeleur", ou "Dia das candeias"


No dia dois de Fevereiro, os alunos de Francês do 11.º D e do 11.ºG comemoraram "La chandeleur", o dia mais associado a essa especialidade francesa que são os crepes (em francês a palavra é masculina e leva acento circunflexo no primeiro e). Em Portugal, neste "Dias das candeias", comem-se os "moletinhos", uma especialidade que se vende numa pastelaria bracarense. O que é curioso é que eu ignorava completamente este pormenor, apesar de o meu pai contar sempre - o "nome das coisas" é uma matéria fascinante - que o "pão molete", típico da região de Santa Maria da Feira, se chamava assim porque o padeiro que o fazia era um tal monsieur Molet (ou Mollet). Ora aí está como a cultura francesa e a cultura portuguesa estão inextricavelmente ligadas...

Mas voltando aos crepes: apesar de a Cláudia, a Céline e a Dina terem trazido de casa umas belas - e boas - pilhas de crepes, eles rapidamente esgotaram. Ficou toda a gente com pena, mas a culpada é uma e uma só, a professora de Francês das duas turmas que se r-e-c-u-s-o-u a deixar os alunos a fazer crepes na escola. Ele há cada um(a)... que se podiam queimar, que era perigoso, e que tinha medo, e mais isto e mais aquilo...

As latrinas


Passamos uma parte da nossa vida no quarto de banho, por isso nem percebo por que motivo ficam escandalizados por eu falar em quartos de banho, leituras de quarto de banho, etc. Também não tenho medo das palavras, por isso prefiro designar uma retrete pelo seu nome e não pelo mais asséptica sanita. Mas não se preocupem, que hoje vou falar-vos de coisas limpinhas: é que achei muita graça ao facto de os quartos de banho masculino e feminino dos monoblocos se distinguirem por uma imagem do Popeye e outra da Olívia Palito.
P.S. repararam que consegui escrever isto tudo sem usar o "mot de Cambronne"? E o que é o "mot de Cambronne"? Isso queriam vocês saber... vão ao google, e é se querem...

Leituras inesquecíveis


Enquanto esperava para ver se ia dar aula de substitução, peguei numa daquelas Públicas que o Aquiles tem a gentileza de trazer para a sala de professores (com o objectivo, não confessado, de nos "desembrutecer"). Li uma parte de uma entrevista muito interessante do historiador Rui Tavares, o qual, para além de outros atributos como investigador e comentador, merece destaque pelo facto de financiar, com parte do seu salário de deputado europeu, bolsas de investigação. Uma das coisas que achei interessante (e rara) na entrevista foi a sua insistência nas origens plebeias da família. Num país onde somos todos finos e importantes (eu não, que costumo dizer que sou plebeia dos quatro costados), pereceu-me isto de louvar.

Estava mesmo a "zarpar" para a biblioteca, quando cheguei à parte em que Rui Tavares diz que leu As aventuras de Tom Sawyer e As Aventuras de Huckleberry Finn lá onde se devem ler estes dois maravilhosos e bem humorados livros do escritor americano Mark Twain: empoleirado numa árvore. A vocês só resta requisitar os livros, porque árvores não faltam em Vila Verde...

Jules Verne


Hoje, dia 8 de fevereiro, o google remete-nos para o aniversário de nascimento do escritor francês Jules Verne, de quem já vos falei, porque povoou a minha infância. Uma das primeiras entradas que podem consultar é o sítio http://jverneportugal.no.sapo.pt/.
Além dos livros de que vos falei na semana passada, temos aqui 20000 léguas submarinas, Cinco semanas em balão, Viagem ao centro da terra e Miguel Strogoff. Pensando bem, os livros que li deste autor implicam viagens, embora ele não viajasse. Tal como Hergé, o criador de Tintin (cujos álbuns também são cientificamente exactos, embora, naturalmente, reflictam o espírito da época), Jules Verne retratava uma realidade que não conhecia in loco. Viajava em imaginação, levando-nos com ele. O fascínio que exerceu nos seus leitores é enorme, daí que autores consagradíssimos da literatura mundial, como o francês Georges Perec ou o espanhol Antonio Muñoz Molina o citem/integrem nas suas obras, das minhas favoritas de sempre: La vie mode d'emploi e O Cavaleiro Polaco.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Bibliotecas, livrarias e política de aquisições


Como sou uma mulher muito contraditória, fui há pouco à livraria "Capítulos soltos", em Braga (http://cslivraria.blogspot.com/). Julgam que me preocupei minimamente com o facto de ter decidido (e escrito) que ia deixar de comprar livros? Pois desenganem-se. Aliás, se escrevi isso, foi disparate. O que eu queria dizer era comprar menos livros. No que eu ia mesmo a pensar é nos efeitos que a crise terá em livrarias, em particular em livrarias simpáticas e eficientes, como esta onde fui. Claro que também me preocupo com a bela "Centésima Página" (http://www.centesima.com/), a clássica "Minho" (http://www.livrariaminho.pt/, a tradicional "Osvaldo Sá" e a lindíssima "Bertrand" da rua do Souto, onde um empregado discreto e conhecedor merece (como outros mais, sejamos justos) elogio. Não renegarei a "Fnac" e a "Bertrand" dos centros comerciais, mas as livrarias de rua têm de lutar mais, e eu cá sou pelos fracos e oprimidos.
Recapitulando: estarei eu a prestar um péssimo serviço às livrarias falando-lhes de empréstimo? Nem por isso. Comprar livros pode ser (tss, tss) uma compulsão. Não acredito que quem dela sofra se deixe levar assim. Além disso, ouço muitas vezes a nossa professora bibliotecária referir-se à política de aquisições, e que consiste, se bem a entendi, em diversificar a compra de livros para espalhar, por assim dizer, "o bem pelas aldeias". Por isso, se as Biblioteca comprarem, e se comprarem segundo este critério, nem tudo está perdido.

Evasão


A literatura (ou, mais simplesmente, a leitura) é uma forma de evasão. O ano passado convidaram-me para falar a alunos do ensino recorrente nocturno e escolhi, como tema, a biblioterapia. Sim, porque a leitura cura (também mata, mas disso não posso falar).
Em tempos de crise, ler sobre viagens é uma óptima forma de evasão. Por isso, sugiro os livros de Gonçalo Cadilhe, de que já vos falei e Sul, Miguel Sousa Tavares (que não aprecio como "romancista", mas de cujas crónicas gosto. Acerca dos artigos de opinião, recuso-me a falar).
Hoje gostaria de pôr em evidência os óptimos livros da colecção da Tinta-da-China, coordenada por Carlos Vaz Marques. Adorei - e tenho a certeza de que os nossos alunos vão ADORAR - O Japão é um lugar estranho. Viagem de um pai com o seu filho ao país da manga e do anime, de Peter Carey. Também temos Disse-me um adivinho (Tiziano terzani) e Paris (Julien Green). De editora Presença, comprámos Horizontes em branco (José Maria Abecasis Soares). Viagens sob a forma de romance (óptima literatura de evasão) temos mil e uma. Por hoje (já estou a "queimar" o intervalo) deixo-vos a sugestão de Hy Brasil (Margaret Elphinstone) e a minha muito amada A volta ao mundo em 80 dias do Jules Verne. Bom fim-de-semana.

Medidas para combater a crise


E agora para algo completamente diferente: uma das formas de combater a crise é frequentar Bibliotecas. Eu, por exemplo, que vi o meu ordenado reduzido numa percentagem muito significativa e que já há dois anos quase não compro roupa ou sapatos, decidi que ia reduzir nas compras de livros e discos.

Com efeito, depois de muitos anos a ler tudo o que havia lá em casa, todos os livros dos meus amigos e respectivos pais, de uma vizinha simpática, da Biblioteca itinerante da Gulbenkian, quando comecei a trabalhar comecei a comprar os livros que lia. Todos? Não. Ainda hoje leio muitos livros emprestados. Mas, se me apetecia sublinhá-los, comprava-os na mesma. Ou se fosse um autor que adoro. Ou se fosse de/para trabalho. Ou... ou...

Tenho milhares de livros. Mas, há quinze dias fui à Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva e fiquei cliente. Também tenho cartão da Biblioteca pública de Vila do Conde (jurarei eterna gratidão a Manuel Maria Carrilho pelo trabalho efectuado nesta área, absolutamente excepcional). E há pilhas de livros e filmes interessantes na NOSSA Biblioteca. Toda a gente sabe que, em tempo de crise, as pessoas investem mais nas casas e no que podem fazer em casa, como ler e ver filmes.

Combata a crise: leia livros!

Hoje dói-me tudo


Hoje dói-me o sistema de ensino. Pior: dói-me o país, porque somos o sistema de ensino que temos.

Começo pelo meu umbigo: esta semana doeu-me ser professora na ESVV. Continuo com os que me rodeiam: na quarta-feira doeu-me a Isabel XXXXX, que me telefonou a dizer que na escola dela iam ser "dispensados" quinze professores. Ontem doeu-me a rádio, onde ouvi que iam ser dispensados milhares de professores. Durante a noite doeu-me a idade: serei capaz de dar tantas aulas, com a idade a pesar, a dificuldade de dar aulas a aumentar (pudera, com "ajudas" construtivas como as de Isabel Stilwell e Eduardo Sá, no seu estúdio climatizado e à prova de som) e as famílias de alunos, professores e assistentes operacionais e administrativos a ficar cada vez mais pressionadas?

Hoje o sr. Pedro esteve a mostrar-me o normativo que regulamentava todas estas mexidas. É aflitivo. As escolas ficarão mais e mais estranguladas - mas anda tudo muito calmo. Talvez andem todos demasiado ocupados a receber e a enviar sms e a "comunicar" pelo Facebook para se aperceberem, não sei. Há muitas coisas que eu não sei (não sou psicóloga social), mas algo me diz que estamos a escorregar docemente para o abismo.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Agarrem-me, se não eu mato-os! (II)

Pois lá estava eu no trânsito, dentro do meu carro lavado, a ouvir "Os dias do avesso". Do avesso, com efeito. Pois defendiam os dois doutos senhores que os professores (todos os professores) usavam a caderneta dos alunos como substituto para a autoridade que não exerciam.
Revolvem-se-me as entranhas sempre que ouço alguém incluir, sem matizes, toda uma classe (um género, o que quer que seja) dentro do mesmo saco. Por essa ordem de ideias, eu também poderia dizer que todos os comentadores de rádio são abéculas, coisa que jamais me ocorreria dizer. Pois seria muito injusta.
Se não tivesse mais que fazer, ligaria para lá a pedir que:
1) provassem que nenhum professor deste país faz aquilo que eu creio que a maioria fará, ou seja, usar a caderneta como reforço (e não substituto) para a autoridade efectivamente exercida na sala de aula;
2) provassem que a caderneta não é um bom meio para promover o diálogo escola-família (detesto "eduquês", mas ainda detesto mais "palermês");
3) fizessem uma auditoria às cadernetas dos meus alunos e se retractassem: «As professoras XXXXXX YYYYYYY e VVV ZZZZZ da ESVV também usam a caderneta para escrever elogios aos alunos...»
Por último, gostaria que os Encarregados de Educação agradecessem a Isabel Stilwell a utilíssima sugestão que, no final do programa, deu aos alunos deste país, e que consistia em deitar fora a caderneta (numa poça de lama, salvo erro).
Um lodaçal, com efeito.

Agarrem-me, se não eu mato-os! (I)

Hoje de manhã carreguei na tecla errada e perdi a sintonização prévia do rádio do meu carro. Resultado: só ouvi Antena 1. Nenhum mal viria daí ao mundo se, há bocado, não tivesse dado comigo a ouvir "Os dias do avesso". A essa hora, invariavelmente, estou a trabalhar, mas hoje resolvi dar banho ao carro (com a ESVV em obras, os carros parecem aquela personagem do Charles Schultz - acho que é o Linus - que arrasta consigo uma nuvem de poeira), por isso lá estava eu, no meio do trânsito a uma hora improvável, a ouvir um programa improvável, iniciado com o mais do que provável diálogo:
«- Olá, Isabel.
- Olá, Eduardo.»
Nada tenho contra as Isabéis e os Eduardos. Nada, nada mesmo. Faz-me apenas alguma confusão a ligeireza com que, das poucas vezes que ouvi o programa, tratam os assuntos. Também me interrogo acerca dos dotes radiofónicos dos dois protagonistas: a voz inefável de Eduardo Sá, as dificuldades articulatórias e o sotaque estranho de Isabel Stilwell. Penso sempre que, se fossem professores, eram dos tais que duravam dois segundos, como muitos colegas de faculdade que tive: ao fim de uma manhã de aulas, desertavam para a empresa do pai, a firma do tio, a secretaria de Estado tutelada pelo cunhado, etc., etc. A sério: caladinhos, a coisa ainda ia. Mal começassem a falar, a galhofa ia ser total.
Acham que estou a ser desagradável? Talvez. Mas tenho razão. Acham que é um ataque "ad hominem" (e "ad mulierem"?). Talvez seja. Mas perante o ataque generalista a uma classe e a uma prática, sem que se interroguem se têm ou não razão, parece-me até que estou a ser muito branda.

Mrs. Christie



O meu pai adorava lia livros policiais, daí que tivéssemos em casa pilhas deles. Maioritariamente da colecção "Vampiro". Durante a minha adolescência os meus preferidos foram os de Georges Simenon e os de Agatha Christie.

Ora, nós cá na Biblioteca temos muitos livros da Agatha Christie, escritora a vários títulos fascinante. É fascinante a sua biografia, com os seus sucessos, os seus fracassos, as suas opções de vida, os seus pequenos mistérios. Do ponto de vista literário, inovou, a ponto de ser mencionada nas minhas aulas de Estudos Literários e de Teoria da Literatura na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (o narrador que é o assassino, a multiplicidade de pontos de vista, etc.).

Embora a sua personagem mais conhecida seja o detective belga Hercule Poirot (talvez também já o tenham visto nas séries televisivas) e os seus acólitos Hastings e detective Japp, esta autora britânica criou outras personagens fascinantes, como a escritora que só come maçãs e muda de penteado e de decoração de quinze em quinze dias, o casal Tommy e Tuppence e a minha querida miss Marple, de que vos falei há pouco.

Um destes dias vos direi qual o meu lado (não necessariamente o lunar) Miss Marple. Entretanto, requisitem os livros dela - e deliciem-se!

Os da minha rua



Há dias, nas minhas lamentações, não mencionei um dos aspectos mais agradáveis desta minha componente não lectiva, que é a proximidade de livros. Adoro livros: o aspecto, o cheiro, o toque. Lê-los, por supuesto. Falar deles. Integrá-los na minha vida, divertir-me fazendo paralelismos (sou uma espécie de Miss Marple). Hoje, a mexericar, encontrei dois (2) exemplares das estórias Os da minha rua, de Ondjaki.

Ondjaki, que conheci (assim mais o género "vi e ouvi" nas Correntes de Escritas) na Póvoa do Varzim, é muito simpático. As histórias deste livro são igualmente simpáticas, interessantes, engraçadas e fáceis de ler. E depois termina com "Palavras para o velho abacateiro", que me pareceu melhor ainda do que as anteriores. Porque não o lêem e me dizem alguma coisa?