
Os biombos Nambam
Blogue da Biblioteca da Escola Secundária de Vila Verde
Fragonard - A leitora
Num livro/folheto/panfleto de uma pretérita Feira do Livro do Porto a que não terei ido - mas que me ofereceram, o que lhe confere agora ainda mais sabor - encontrei, entre muitos outros textos dignos de nota, um, escrito por Carlos Poças Falcão, intitulado "O livro transparente".Desse texto, que gostaria de transcrever na íntegra, selecciono apenas uma pequena parte:"Baixando, pouco a pouco, as suas guardas, por puro assentimento, o leitor prepara-se para ser surpreendido vivo e um dia há-de encontrar o livro que o modifica. Então, poderá dizer: «a minha vida lê.» Falo de um leitor com qualidades, daquele que, efectivamente, está em condições de vir a ser tocado e transformado,
dotado dessa paciência que faz com que a vida finja estar à espera, espere sem esperar, expondo-se e acreditando. Não trato de ledor que apenas busca instruções e informação, ou que vive uma relação profissional (professoral?) com os livros, capitalizando fichas e obtendo mais-valias de um saber corrente. Refiro-me ao leitor sentado e de cabeça serenamente inclinada, como em reverência humilde, cuja vida aprende a ser lida".
"A gentileza está em toda a parte na vida do dia-a-dia, um sinal de que a fé comanda através das coisas ordinárias: através do cozinhar e da conversa banal, escrever contos, fazer amor, pescar, tratar dos animais e das flores; através do desporto, música e livros; criar os miúdos — todas as actividades em que o molho se embebe e através das quais a graça brilha. Mesmo em tempo de vaidade e ganância elefantinas, não é preciso olhar para muito longe para ver as fogueiras de gente boa. Mesmo que não tivéssemos outro propósito na vida, seria bom simplesmente tomar conta dessa gente e dar-lhe um empurrão de vez em quando."
Ainda estamos casados (Garrison Keillor)
A poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen recriou-o (felizmente, sem qualquer "angústia das influências") desta forma:
Bailarina fui
Mas nunca dancei
Em frente das grades
Só três passos dei
Tão breve o começo
Tão cedo negado
Dancei no avesso
Do tempo bailado
Dançarina fui
Mas nunca bailei
Deixei-me ficar
Na prisão do rei.
Onde o mar aberto
E o tempo lavado?
Perdi-me tão perto
Do jardim buscado.
Bailarina fui
Mas nunca bailei.
Minha vida toda
Como cega errei.
Minha vida atada
Nunca desatei
Como Rimbaud disse
Também eu direi
«Juventude ociosa
Por tudo iludida
Por delicadeza
Perdi minha vida»
«Failure is always the best way to learn»
Em todo o caso, com ou sem banquete, saibam que são bem-vindos: à escola e à Biblioteca.