segunda-feira, 20 de abril de 2009

Susan Doyle e a fábula

Quem me falou deste vídeo do Youtube foi uma colega de um curso que ando a fazer. Ainda por cima, disse-me que um amigo comum ia escrever uma crónica sobre o assunto. Como vêem, estou a roubar ideias descaradamente. Por outro lado, esta história tem tantos ângulos de abordagem que até fico curiosa de saber de que vão as pessoas falar...
A Susan Doyle é uma britânica de quarenta e sete anos que participou num concurso de descoberta de talentos. Eu suspeito que a produção, tendo percebido a pepita que ali estava, resolveu, intencionalmente, não partilhar a sua descoberta com os jurados, com o intuito de os surpreender. Não me parece crível que ela saísse assim da sala de maquilhagem, mas, enfim, são só conjecturas...
Seja como for, a senhora chegou ao palco, numa das mais puras ausências de estilo que já me foi dado ver em televisão. Chegou com passo seguro e de queixo bem levantado. Quando o jurado que lhe colocou as questões manifestou incredulidade perante a idade que ela afirmava ter, ondulou as ancas como se fosse uma beldade (nesta fase do campeonato, eu acho que ela é. Uma beldade. De um tipo diferente). Mas não exactamente como uma voluntária da igreja. Não interessa: o enxovalho mais ou menos manifesto do público e dos jurados não a demoveu. E, quando abriu a boca para fazer o que sonhara, mas nunca fizera... vocês, não sei, mas eu fiquei comovida.
Para mim, ela é um ícone.
Uma anti-Barbie, que "enfiou" algumas Barbies do público num chinelo. Uma extraordinária mulher igual a todas as outras, talvez até menos ataviada do que muitas outras e, depois, não apenas aquela voz, mas - sobretudo - aquele sentido de humor, aquela capacidade de rir de si própria.
Uma mulher que não se deixou intimidar pela snobeira do apresentador, que a olhava do alto da sua (muito relativa) juventude, telegenia (leia-se: carradas de maquilhagem) e celebridade (aquela celebridade que a televisão confere).
Uma peça que vou guardar preciosamente na colecção das pessoas de meia idade que iniciam novas carreiras (como o Manuel de Oliveira, que começou um curso de cinema depois dos quarenta anos).
Quem nos houvera de dizer que, quase no fim do primeiro decénio do ano 2000, a Gata Borralheira teria excesso de peso? Que a melhor bofetada ao império da telegenia seria dada em plena televisão?! Que a crise seria sacudida por uma desempregada com quase cinquenta anos?

6 comentários:

  1. A fábula é tão perfeita, tão "plus vrai(e) que nature" que, se tivesse sido difundida num dia 1 de Abril, suspeitaria de uma fraude.

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  2. Concordo plenamente com tudo o que foi escrito.
    Quando soube do "acontecimento" (que de acontecimeto nao tem nada, dado que o não falta para aí são talentos, esta senhora é só mais um, só que apenas descoberto mais tardiamente)fui ver o vídeo e..."arrepiei-me".
    Esta é uma verdadeira "bofetada psicológia",à todos os modelos impostos pela sociedade. Um ícone, sem dúvida, tal como foi dito por quem escreveu este magnífico texto(anónima 12º ano)

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  3. concordo com tudo que foi escrito. E digo mais: ninguem pode julgar uma pessoa pela sua aparencia, independente da idade, tem muita gente que é um latento, e não tem chance, e por outro lado, tem muita gente que não tem talento algum e está sempre na midia. Neste programa foi bem demonstrado, que, quem nao tem talento são os jurados, e estes julgam verdadeiras pérolas.

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  4. Susan Doyle, mostrou que todo e qualquer ser humano tem suas virtudes e capacidades, não importa a idade.
    Muitos tenores bastantes conhecidos deveriam "fisgar" esta celebridade e gravar vários CDs com esta criatura, tenho certeza que irão fazer umas das melhores coleções de suas carreiras.
    Ou mesmo que um bom empresário a contrate e procure fazer um ou mais CDs com este tipo de música que Doyle cantara e encantara o MUNDO.
    Parabens Susan Doyle, que Deus lhe proporcione longos anos com esta bela voz, sinceramente falando, nunca, mas nunca mesmo ouvi melodia tão bem interpretada.
    Lembrem-se "Nunca julguemos ninguém pela sua aparência, ou seja; um feio pode ser bonito, um nervoso poderá ser o mais delicado que já se viu, procuremos sempre transmitir o melhor que há dentro de nós".

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  5. Susan Doile é uma pedra preciosa que já nasceu lapidada. Foi necessário apenas que alguém soprasse a poeira a encobrir sua beleza para que todo o mundo se fascinasse por ela.

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  6. É Boile , não Doile ;)

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