sexta-feira, 24 de abril de 2009

"O sonhador" de Ian McEWan


A propósito do texto anterior, lembrei-me de um livro que a professora Ana Paula Matos me emprestou. O livro trazia uma recomendação que eu considero preciosa: os filhos dela gostaram. Além disso, trata-se de um autor que muito admiro, não apenas por escrever muitíssimo bem, mas também porque trata, com igual mestria, assuntos completamente diferentes.

O mesmo poderia dizer de outro autor de língua inglesa, Kazuo Ishiguro, que escreveu, entre outros, os diferentíssimos Despojos do Dia e Nunca me deixes. Caros alunos de secundário desta escola: não deixem de ler este livro. Sim, eu sei, estou a fugir ao tema...
De volta ao bom caminho: Ian McEWan escreveu muitos livros bons, de temáticas variadas. A mim marcaram-me mais (dois complementos indirectos, isto vai de mal a pior) Expiação, Amsterdão e Na praia de Chesil. Este último, breve e hipnótico, fala de sexo (é hoje que sou excomungada, está visto).
O sonhador, escrito para um público mais jovem, inicia-se nestes termos:
"Quando Peter Fortune tinha dez anos, os adultos diziam muitas vezes que era uma criança «difícil». Peter nunca percebeu o que isso significava. Não se sentia nada difícil. Não atirava garrafas de leite aos muros do jardim, não despejava garrafas de Ketchup por cima da cabeça a fingir que era sangue, nem sequer dava com a espada nos tornozelos da avô, embora essas ideias lhe passassem pela cabeça."

Se, em vez de Peter Fortune, tivéssemos um Pedro Fortuna que estudasse na Escola Secundária de Vila Verde, poderia passar-lhe pela cabeça atirar papéis para o chão (ou essas chicletes que ficam, como uma ignomínia rebelde a qualquer tentativa de remoção, recordando indelevelmente um segundo de preguiça), escrevinhar palermices no tampo das mesas ou no betão das colunas, arrancar bocados de formica das mesas ou de madeira das cadeiras, empurrar os colegas, etc., etc.
Mas Pedro Fortuna não seria ASSIM tão difícil...

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