sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Philip Roth

Andamos a ler um livro de Philip Roth, O fantasma sai de cena. Não é talvez, o primeiro que nos ocorreria recomendar num contexto de leitura, mas é, ainda assim, um livro muito interessante. Neste livro, mais uma vez, o protagonista é Nathan Zuckerman. Depois de um exílio voluntário no campo, Nathan regressa, por motivos de saúde, à Nova Iorque pós 11 de Setembro:
«Que me surpreendeu mais nos meus primeiros dias de deambulação pela cidade? A coisa mais óbvia - os telemóveis. Lá no alto da minha montanha ainda não tínhamos cobertura de rede, e cá em baixo em Athena, onde a têm, raramente via pessoas a andar na rua falando despreocupadamente para dentro dos seus telefones. Lembrei-me de uma Nova Iorque em que as únicas pessoas que subiam a Broadway parecendo que iam a falar sozinhas eram malucas. Que tinha acontecido nestes dez anos para que de repente houvesse tanto para dizer - tanto e tão urgente que não pudesse esperar para ser dito? Para onde quer que eu fosse, havia sempre alguém que caminhava na minha direcção a falar ao telefone e alguém atrás de mim a falar ao telefone. Dentro dos carros, os condutores iam ao telefone. Quando me metia num táxi, o taxista ia ao telefone. Para quem muitas vezes passava dias seguidos sem falar com ninguém, não podia deixar de me perguntar o que seria que antes refreava as pessoas e agora tinha desaparecido a ponto de as levar a falar constantemente para dentro de um telefone em vez de passearem sem terem ninguém a vigiá-las, momentaneamente solitárias, assimilando as ruas através dos seus sentidos animais e pensando as miríades de pensamentos que as actividades de uma cidade inspiram. Para mim, aquilo fazia as ruas parecerem cómicas e as pessoas ridículas. E no entanto também me parecia uma verdadeira tragédia. Erradicar a experiência da separação não pode deixar de ter um efeito dramático. Quais serão as consequências? Sabemos que podemos contactar a outra pessoa em qualquer altura, e se não pudermos ficamos impacientes - impacientes e furiosos como pequenos deuses estúpidos. »


Neste dia belíssimo, aqui fica a nossa sugestão: passear sem ninguém a vigiar-nos, momentaneamente solitários, assimilando as ruas através dos nossos sentidos animais e pensando as miríades de pensamentos que as actividades de uma cidade inspiram.

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