sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Filmes só para adultos

Aproveitei a interrupção lectiva para ver dois filmes que tão cedo não esquecerei: «Amor», de Michael Haneke, e «Holy motors», de Leos Carax. 
 
O primeiro é um filme que pode - e talvez deva - ser visionado por alunos do ensino secundário, os quais - nós também já passamos por aí - consideram qualquer ser humano com mais de trinta anos uma relíquia arqueológica e têm dificuldade em encarar o seu futuro em idades mais avançadas.

 
A verdade é que as famílias (em Vila Verde talvez não tanto) se reduzem cada vez mais ao núcleo duro (pai, mãe - ou apenas um deles - e filhos - ou apenas filho) e, por isso, as crianças e jovens convivem pouco com velhos. Ao passar na via rápida, vejo sempre um cartaz que mostra duas pessoas de idade numa pose que habitualmente associamos a jovens. Jamais esquecerei o ar de nojo que a Cristina, minha aluna do décimo ano, pôs quando falámos dessa publicidade. E não houve nada que a convencesse que é lícito, e desejável, que os menos novos tenham uma vida amorosa activa. Não faz mal. Quando lá chegar, a Cristina VAI perceber (e isto não é uma ameaça. É um desejo).

Mas seria extremamente redutor encarar «Amor» apenas desta perspectiva pedagógica (utilitária e sociológica, até porque a questão da eutanásia é fulcral). «Amor» é um filme lindíssimo, muito bem filmado, mostrando tudo com tal pudor que jamais sentimos senão um respeito reverencial por aquelas pessoas. Podemos lamentá-las, mas não temos pena delas. Admiramo-las tanto pelo que foram como pelo que são.

Mesmo quem conhece  de perto aquela realidade, como eu, encontra agora novas dimensões e novas formas de pensar a velhice, a doença e os cuidados que elas implicam.
 
Já o filme de Leos Carax será mais difícil de apresentar a um público jovem. Tão difícil, que eu e o E. discordámos em vários pontos, lemos e relemos as críticas do Público e do Expresso e, não contentes com isso, fomos à Internet ver as críticas dos jornais franceses... tanto bastaria para o classificar como um óptimo filme.


Enquanto a obra de Michael Haneke decorre num espaço fechado com um número restrito de personagens, «Holy Motors» é "muitos filmes" dentro do filme, abrangendo várias micro-narrativas, um desfile de personagens e vários espaços. Assim, a minha veia "professoril" aconselharia a isolar um ou dois destes episódios e a estudá-los do ponto de vista da crítica a uma sociedade capitalizada pelo trabalho e pela falta de tempo, pela primazia das imagens e pelo vazio vivencial. Redutor? Muito, muitíssimo. Vejam mas é o filme todo, que os professores não percebem nada disto...

 
 

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