sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A comunidade de leitores foi ao Centro Hospitalar Psiquiátrico do Conde de Ferreira...

... e, mau grado termos regressado um pouco impressionadas, gostámos muito. O pretexto, como sabem, era a leitura do "Alienista" de Machado de Assis. Mas a visita revelou-se um achado a vários níveis: arquitectónico, histórico, literário, científico, humano...
 

Cada uma de nós encontrou um (ou mais) ponto de interesse. Todas nos confrontámos com as nossas ideias pré-concebidas acerca da doença mental e dos seus tratamentos (quem não se lembra de "Voando sobre um ninho de cucos"?).

Admirámo-nos (talvez nos tenha vindo à mente a palavra "expiação") com o facto de o Conde de Ferreira ter ganho a sua fortuna com o tráfico de escravos. Relembrámos o poeta Ângelo de Lima (e ficámos a saber que foi a doença que lhe inspirou tantos neologismos, de entre os quais emerge a palavra "cintilar"). Espantámo-nos com o caso de Maria Adelaide Coelho da Cunha, internada por motivos totalmente alheios à loucura. Arrepiámo-nos com a lobotomia que Egas Moniz fez ao seu amigo Raul Proença. Lamentámos a riqueza das publicações adquiridas ao longo de centenas de anos, e com o facto de a sua aquisição estar agora, por razões orçamentais, suspensa. Vimos camisas de forças, observámos os planos de banheiras especiais e, sobretudo, tivemos pena do panóptico maior, arrasado para dar lugar à Via de cintura Interna. Arrepiámo-nos com o panóptico pequeno e com as suas implicações. As fotografias de alguns internados interpelaram-nos de uma forma inexplicável...
 
E fizemos um exercício de relatividade histórica: quantas das nossas prática actuais não serão, no futuro, consideradas bárbaras?

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