sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Lido no "Página 23" de ontem

O que pensam os mais novos que vêem muitas cenas de violência e de sexo na televisão


Imagem: Cães dana­dos, de Quentin Tarantino
O impacto da exposição de cri­anças e ado­les­centes a cenas de sexo e vio­lên­cia na tele­visão” é o tema de um doc­u­mento em que a Andi – Comu­ni­cação e Dire­itos e o Inter­vozes – Cole­tivo Brasil de Comu­ni­cação Social recen­seiam diver­sas inves­ti­gações, real­izadas, desde há décadas, em diver­sos países, sobre os efeitos que as ima­gens tele­vi­si­vas de sexo e vio­lên­cia pro­duzem em cri­anças e jovens. As con­clusões a que os estu­dos chegaram são idên­ti­cas, havendo um amplo con­senso quanto à cir­cun­stân­cia de o vision­a­mento reg­u­lar de con­teú­dos inad­e­qua­dos provo­car graves con­se­quên­cias na vida mais novos, que podem ficar mais ansiosos, agres­sivos e medrosos; for­mu­lar con­cepções erradas sobre o papel da vio­lên­cia na vida real; e ter uma ini­ci­ação pre­coce da activi­dade sex­ual.
O doc­u­mento “Media e infân­cia” apre­sen­tou, em Março de 2012, os resul­ta­dos de estu­dos pro­movi­dos na Ale­manha, na Holanda, na Sué­cia, no Canadá e nos Esta­dos Unidos da América, onde, nos últi­mos 40 anos, foram real­izadas mais de 3.500 inves­ti­gações sobre os efeitos da vio­lên­cia tele­vi­siva. Ela surge em vari­a­dos géneros de pro­gra­mas, como, por exem­plo, video­clips, pro­gra­mas de entreten­i­mento, doc­u­men­tários ou noti­ciários. Nos Esta­dos Unidos da América, ao ter­mi­nar o ensino básico, uma cri­ança comum terá visto mais de oito mil assas­si­natos e mais de cem mil out­ros actos de vio­lên­cia incluí­dos nos diver­sos con­teú­dos tele­vi­sivos. Esta exposição exces­siva à vio­lên­cia con­tribui, segundo várias inves­ti­gações, para um acréscimo da vio­lên­cia na sociedade norte-americana.
Um dos estu­dos, real­izado pela Uni­ver­si­dade de Michi­gan, esta­b­elece uma cor­re­lação entre a exposição de cri­anças à vio­lên­cia na tele­visão e os com­por­ta­men­tos agres­sivos e vio­len­tos no iní­cio da fase adulta. A pesquisa avaliou, em 1977, os hábitos de 557 cri­anças de Chicago em relação, sobre­tudo, ao con­sumo de pro­gra­mação tele­vi­siva vio­lenta. Uma grande parte dessas cri­anças foi ouvida 14 anos depois, quando tin­ham idades com­preen­di­das entre os 20 e os 22 anos, tendo-se ver­i­fi­cado que uma maior exposição a con­teú­dos tele­vi­sivos vio­len­tos foi capaz de sus­ci­tar um aumento sig­ni­fica­tivo do nível de agres­sivi­dade na vida adulta. Mesmo cri­anças, de todos os extrac­tos soci­ais, que não eram agres­si­vas na infân­cia, ao terem sido expostas a um vol­ume sig­ni­fica­tivo de con­teú­dos tele­vi­sivos vio­len­tos, acabaram por apre­sen­tar uma maior tendên­cia para se tornarem agres­si­vas na idade adulta.
Além de pre­dis­por os mais novos a adoptarem com­por­ta­men­tos agres­sivos, as cenas tele­vi­si­vas vio­len­tas ditaram uma perda de sen­si­bil­i­dade per­ante a vio­lên­cia no mundo real e um aumento do medo. O Physi­cian guide to media vio­lence, pub­li­cado pela Amer­i­can Med­ical Asso­ci­a­tion, em 1996, indica que a exposição a um único filme, pro­grama de tele­visão ou reportagem pode resul­tar em depressão emo­cional, pesade­los ou out­ros prob­le­mas rel­a­tivos ao sono em muitas cri­anças, par­tic­u­lar­mente as mais novas. E cri­anças ame­drontadas, acrescenta-se, estão mais sujeitas a se tornarem víti­mas ou agres­sores. Tam­bém o estudo Young people’s per­cep­tion of vio­lence on the screen, real­izado na Uni­ver­si­dade de Utrecht, na Holanda, con­cluiu que a vio­lên­cia nos ecrãs tende a ser perce­bida pelos mais novos como um apel­a­tivo mod­elo para resolver os prob­le­mas da vida real.
O Physi­cian guide to media vio­lence julga que as cri­anças e os jovens que abusam do con­sumo dos media elec­tróni­cos podem ser mais facil­mente lev­a­dos a con­sumir álcool e tabaco, a terem relações sex­u­ais pre­co­ce­mente e a con­sumir exces­si­va­mente uma vez que existe a tendên­cia, bem doc­u­men­tada, de as cri­anças imitarem os padrões com­por­ta­men­tais mostra­dos na tele­visão. Out­ros estu­dos tiraram idên­ti­cas con­clusões. O doc­u­mento Watch­ing sex on tele­vi­sion pre­dicts ado­les­cent ini­ti­a­tion of sex­ual behav­ior, pub­li­cado em 2004 pela Acad­e­mia Amer­i­cana de Pedi­a­tria, con­sid­era que, para a ini­ci­ação sex­ual dos ado­les­centes, tem sido deter­mi­nante a exposição ao sexo tele­vi­sivo a que eles estão sujeitos, dizendo os dados de 1996 rel­a­tivos aos Esta­dos Unidos da América que um ado­les­cente médio se encon­trava exposto a cerca de 14 mil refer­ên­cias a sexo na tele­visão durante o período de um ano.
Ver tele­visão tendo por perto a com­pan­hia de um adulto que ava­lie o que pode ou não ser obser­vado é uma exce­lente regra. É que as cri­anças e os jovens vêem na tele­visão e na Inter­net demasi­adas ima­gens per­ni­ciosas para o seu desen­volvi­mento saudável.»

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