sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A obra premiada nas "Correntes d'Escritas"


INEXISTÊNCIA MENTAL
 
(Ana Matilde da Silva Gomes)

 

Hoje os meus dentes querem estar à mostra,
Misturar-se com o branco alheio.
Passamos tanto tempo a entrelaçar linhas
E a procurar sentidos atrás da bruma,
Que ver para lá do emaranhado
Sabe a café. (Com espuma).

 
Hoje não quero ter testa!
(o que está atrás dela costuma limitar tudo o que penso que sou)
E é tão mais fácil
Ir
Sem saber onde ponho os pés…
Não quero procurar justificação.
Estou tão bem, aqui, longe,
(Ligeiramente acima dos lugares do costume).
E o ar cheira-me às ruelas velhas e estreitas,
Encolhidas entre os prédios abandonados à humidade do dia inteiro.
Cheira-me à sombra, quase que ao mar, e ao sol frio de janeiro.
E este cheiro é ótimo porque não me lembra
Rigorosamente
Nada. (ou talvez o tempo em que não havia nada além de mim).
E cheira a comida! (Sagrada hora de almoço...
E nem foi precisa a prece!)
Nunca entendi porque é que há horas para comer,
Se o corpo trata dos outros assuntos à hora que bem lhe apetece…


A forma como as pessoas são sérias
Hoje, faz-me rir.
As gentes são tão seguras!
Tão convictas das suas conclusões…
Se eu não fosse pessoa,
Não saberia porque é que esta roda com números
Tem um ponteiro impaciente.
Diz-me que estou aqui há dezassete minutos.
Mas eu estou na mesma!
E as ruas ainda lá estão!
E ainda é hoje! (portanto, não quero pensar demais)
Mas se não me aconteceu nada,
Nada passou aqui, então.
Se não há tempo na inexistência,
Então o tempo é uma invenção.

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