«Fernando Távora
Fernando Távora 1923-2005 Arquitecto, professor e ensaísta | |
"Távora é o pai da escola do Porto, mas bisavô da Europa. É uma figura histórica e universal"
(Souto Moura, in Público de 4 de Setembro de 2005) |
Passou os primeiros anos da sua vida nas propriedades da família, no Minho, na Bairrada e nas praias da Foz do Douro, revelando desde cedo a sua aptidão para o desenho e o seu interesse por casas antigas.
Concluído o curso liceal do Segundo Ciclo no Liceu Alexandre Herculano, em 1940, com a classificação de dezasseis valores, fez o exame de admissão à Escola de Belas Artes do Porto, em 1941, para frequentar o Curso Especial de Arquitectura, contrariando, deste modo, a vontade da família que o queria ver licenciado em Engenharia Civil, um curso, a seu ver, mais prestigiante e mais concordante com a sua condição social.
As clássicas educação familiar e formação inicial foram complementadas pela cultura moderna da educação universitária. Durante quatro anos frequentou o Curso Especial de Arquitectura, inscrevendo-se de seguida no Curso Superior de Arquitectura, em Setembro de 1945, no decurso do qual estagiou com o Arquitecto Francisco Oldemiro Carneiro e realizou vários projectos nos anos de 1946 e 1947 (sobre grande composição, construção geral, composição decorativa, arqueologia e urbanização).
Em 1947 publicou o ensaio "O problema da casa portuguesa. Falsa arquitectura. Para uma arquitectura de hoje.", onde sintetizou a noção de uma arquitectura moderna, mas enraizada na cultura, e onde chamou a atenção para a necessidade de um estudo científico da arquitectura popular portuguesa.
No final do estágio profissional, em 31 de Março de 1950, o seu orientador declarou que ele tinha sido seu colaborador, desde 20 de Dezembro de 1947, e se encontrava apto para desempenhar a profissão escolhida. Em 1952, no Concurso para a Obtenção do Diploma de Arquitecto (CODA), apresentou o projecto Uma Casa sobre o Mar, com o qual obteve a brilhante classificação de dezanove valores, mas que nunca foi concretizado.
Entretanto, em 1955, integrou a equipa responsável pelo "Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa", um trabalho pioneiro no estudo da arquitectura nacional, promovido pelo Sindicato Nacional dos Arquitectos e publicado em 1961.
A sua longa e marcante carreira de docente universitário ligou-se, essencialmente, a três instituições: à Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP), onde começou a leccionar, a Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP), que ajudou a instalar (foi Presidente da sua Comissão Instaladora) e à Universidade de Coimbra, mais concretamente ao Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia, constituído com a sua colaboração nos anos oitenta do século XX.
Nas aulas vivas e cativantes deste professor competente e interessado, os tradicionais diapositivos eram, por vezes, substituídos por desenhos da sua autoria e os alunos instigados a viajar, tal como ele fez durante toda a sua vida, por prazer e para estudar arquitectura e trabalhar.
Como poucos, participou, entre 1951 e 1959, nos Congressos Internacionais de Arquitectura Moderna, da Conferência Internacional de Artistas da UNESCO de Veneza, Hoddesdon, Aix-en-Provence, Dubrovnik and Otterlo, onde conheceu, entre outros, a figura mítica do arquitecto Le Corbusier. Foi Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian e do Instituto para a Cultura nos Estados Unidos e Japão (1960).

Foi também arquitecto da Câmara Municipal do Porto e Consultor da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, do CRUARB (Comissariado para a Recuperação Urbana da Área da Ribeira - Barredo), da Comissão de Coordenação da Região Norte e do Gabinete Técnico da Câmara Municipal de Guimarães. Foi Membro Conselheiro do Comité de Cursos de Campo de Arquitectura da Comunidade Económica Europeia.
Morreu vítima de cancro, no dia 3 de Setembro de 2005, no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos. O seu corpo esteve em câmara ardente na capela da sua casa de Fermentões, um solar seiscentista reformado em Oitocentos e nos anos setenta do século XX, pelo próprio, sendo depois trasladado para o Porto, onde foi cremado no Cemitério do Prado do Repouso.
Como o próprio dizia, "eu sou a arquitectura portuguesa".
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2008)»
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