segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Banda desenhada para adultos II

 

Na sequência de Maus e Persepolis, surge Fun Home, de Alison Bechdel.

Um traço "americano" clássico serve uma nova narrativa autobiográfica, na qual a história e a política (o caso Watergate), ao contrário do que sucedia em Maus e Persepolis, surgem apenas como pano de fundo.
 
Mas Fun Home é igualmente desaconselhável a menores de dezasseis anos, dadas as características particulares da família da protagonista. O subtítulo português, "uma tragicomédia familiar", mostra uma família disfuncional, onde todos coexistem no mesmo espaço, mas estão desconectados uns dos outros.
 
A obra de Alison Bechdel tem ainda um ingrediente que está ausente das outras obras: a inserção, e comentário, de obras literárias que marcam o crescimento intelectual da protagonista e do pai: A morte feliz, de Albert Camus, O grande Gatsby, de Scott Fitzgerald, o primeiro volume de Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust e, sobretudo, o Ulisses de James Joyce. Mais ainda, o início e a conclusão da narrativa são marcados por uma interpretação, inicialmente prosaica (o jogo do "avião", em que o adulto, deitado no chão, sustenta a criança nas pernas estendidas), depois fundadora do ponto de vista narrativo e pessoal, do mito de Ícaro.
 

Ainda assim, uma das coisas que mais me atrai em Fun home é a omnipresença obsidiante da casa na narrativa. Poderia ficar duas horas a escrever acerca disto (na verdade, nada me agradaria mais... mas tenho de ir dar aulas já, já, já). Não podendo, sempre vos digo que Alison compara a sua casa e a sua família à Família Addams. Por que será?
 
 

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