sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Banda desenhada para adultos III

O dinheiro nunca me chega para comprar todos os livros que quero, e muito menos para comprar todas as bandas desenhadas que gostaria. Foi por isso mesmo que, depois de ter gasto uma fortuna (para os meus parâmetros) em livros da última vez que fui a Lisboa, deixei lá ficar o álbum La chair de l'araignée. Nem de propósito, no outro dia sentei-me a ver um bocadinho do programa "Yourope", do canal Arte, e lá estava Marie Caillou e Hubert, os autores desta obra que põe em cena a anorexia...
 
http://www.bdselection.com/imagesbd/l/lachairdelaraignee/lachairdelaraignee_1.jpg

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

"Bartleby" de Herman Melville

 
O livro da comunidade de leitores de hoje é um texto breve, para uma comunidade diminuta, cuja duração se prevê curta. E está muito bem, dado que se trata do famosíssimo, enigmatíssimo (?) e influentíssimo
 
Bartleby é o nome de um escrivão, ou copista, cuja frase emblemática constitui uma espécie de graça privada para iniciados: «Preferia não o fazer.». De um ponto de vista literal, podíamos encontrar nesta novela um daqueles funcionários que, obedecendo escrupulosamente aos  constrangimentos exteriores do seu trabalho (cumprir horários, por exemplo), na verdade não cumprem o seu conteúdo funcional. Lembro-me sempre com irritação daquelas mensagens electrónicas enviadas por organismos públicos ao fim-de-semana, ou de madrugada...
 
Mas é a redução ao absurdo, a apatia, a abulia de Bartleby que tornou este livro tão conhecido. Até é natural que em 1853 - data em que foi publicado - a novela tenha deixado o público norteamericano indiferente. No entanto, além de ser um espécie de precursor de Kafka, esta obra de Herman Melville (também autor da ainda mais famosa Moby Dick), influenciou directamente outros escritores: o primeiro livro de Henrique Vila-Matas que li, e que me deixou fascinada (um livro sobre livros, haverá melhor?): Bartleby & companhia,
 
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbffNBivMtP21iYvqQ7d_EbOueVRcw0pSBBQ9PKET4fPf6_SskNgwtTA8Lx6Sw0DF2CuGKYNuFAy3_Q80yQKwQjfvR8StCXTa1Yh_z8R4FwMBZ-atMxTjmO1eVqC8VuPlFFR2lIoqIDro/s320/972-37-0629-6.JPG

o protagonista de A vida modo de usar, de Georges Perec (um dos livros da minha vida): Bartlebooth.

http://bibliotecariodebabel.com/ficheiros/perec1.jpg
 

Mas não só: há,  na obra de Perec, outras personagens cujas obsessões fazem lembrar grandemente o copista melancólico.

Porque Bartleby, mais do que um copista, fora um leitor de cartas extraviadas e, por isso, destinadas à destruição (assim como em La vie mode d'emploi há uma personagem cujo labor consiste em salvar palavras eliminadas dos dicionários): palavras nunca lidas pelos seus destinatários.

Haverá pior destino do que conviver com todos esses restos de vidas desperdiçadas?

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O original de Cole Porter


As privatizações do ponto de vista histórico-filosófico-sociológico

 
 
Li no Público de ontem uma entrevista ao autor Alain de Botton, que veio a Portugal proferir uma conferência dedicada ao tema genérico "Inovar a reforma", um tema que só me interessará daqui a longos anos (quando tiver quarenta e três, 43, anos de serviço). Como a reforma é, para mim, (se entretanto não "cair da tripeça", que é o mais certo, deitando assim o dinheiro - e os respectivos juros - que desconto há vinte e sete anos ao caixote do lixo do Estado) um assunto muito, muito remoto, deixo-vos aqui uma reflexão que, filósofos sociais ou não, todos poderíamos fazer:
 
"Botton não acredita no desinvestimento ou emagrecimento do Estado social, nem na alternativa de criar um sistema privado para as reformas, em que as pessoas tomam conta das suas próprias poupanças para o futuro. Acha, sim, que os problemas da gestão pública são sobretudo resultantes da burocracia. A solução não está nos privados, que em casos como no Reino Unido, no sector dos comboios, se mostraram igualmente ineficientes, diz."

As privatizações do ponto de vista da economia doméstica



No Verão, li no i um artigo que recordo periodicamente. A autora, Inês (?) Teotónio Pereira, afirmava que uma sua amiga estabelecia, relativamente às privatizações, a seguinte analogia: é como se tivesses uma empregada diária e encomendasses comida fora.

É uma comparação que traz consigo uma marca de classe, mas talvez tenha sido, por isso mesmo, das mais eficazes que já li (além de que partilhar, ou distribuir, o dinheiro que se ganha com alguém não tem mal nenhum. Perguntem lá às empregadas domésticas se preferem ficar sem trabalho...).
 
Naturalmente, num tal negócio só ganhariam as empresas ou restaurantes com pronto a comer...
 

 

Aldrabice editorial em "Fun home"

Abro o blogue e reparo na cor da imagem do "post" anterior, obtida a partir de um "site" brasileiro. O meu álbum, que não foi assim tão barato, é a preto e branco. Leio a crítica que José Mário Silva escreveu no suplemento Atual do Expresso de 8/9/2012 e descubro que o original tem uma "(...) aguada verde-cinza", que a autora descreve como "uma qualidade sombria e elegíaca".
 
Além de não respeitar as características artísticas da obra (características significantes, como se depreende dos dois adjectivos qualificativos), a editora e as livrarias arriscam-se a que, para a próxima, prefiramos comprar o original on-line.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Banda desenhada para adultos II

 

Na sequência de Maus e Persepolis, surge Fun Home, de Alison Bechdel.

Um traço "americano" clássico serve uma nova narrativa autobiográfica, na qual a história e a política (o caso Watergate), ao contrário do que sucedia em Maus e Persepolis, surgem apenas como pano de fundo.
 
Mas Fun Home é igualmente desaconselhável a menores de dezasseis anos, dadas as características particulares da família da protagonista. O subtítulo português, "uma tragicomédia familiar", mostra uma família disfuncional, onde todos coexistem no mesmo espaço, mas estão desconectados uns dos outros.
 
A obra de Alison Bechdel tem ainda um ingrediente que está ausente das outras obras: a inserção, e comentário, de obras literárias que marcam o crescimento intelectual da protagonista e do pai: A morte feliz, de Albert Camus, O grande Gatsby, de Scott Fitzgerald, o primeiro volume de Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust e, sobretudo, o Ulisses de James Joyce. Mais ainda, o início e a conclusão da narrativa são marcados por uma interpretação, inicialmente prosaica (o jogo do "avião", em que o adulto, deitado no chão, sustenta a criança nas pernas estendidas), depois fundadora do ponto de vista narrativo e pessoal, do mito de Ícaro.
 

Ainda assim, uma das coisas que mais me atrai em Fun home é a omnipresença obsidiante da casa na narrativa. Poderia ficar duas horas a escrever acerca disto (na verdade, nada me agradaria mais... mas tenho de ir dar aulas já, já, já). Não podendo, sempre vos digo que Alison compara a sua casa e a sua família à Família Addams. Por que será?
 
 

História via BD

Banda desenhada para adultos I


Achava eu que já tinha escrito neste blogue acerca de um dos romances gráficos que mais apreciei: Persepolis. Afinal, vim a descobrir que só falei nele de raspão.

Tinha até muitas razões para o referir: há quatro anos preparei uma aula de 9º ano de Francês com um cheirinho da obra e da sua autora, Marjane Satrapi. E, no ano passado, a Céu organizou, aqui na escola, um visionamento do filme correspondente.

Não escrever acerca desta obra é uma lacuna grave: regra geral, considera-se que Maus, de Art Spiegelman (que temos cá na Biblioteca) constitui a obra pioneira deste género emergente. Persepolis sucede-se-lhe. Se aprecio mais o traço de Spiegelman, considero que Satrapi tem muita qualidade gráfica - de tal forma que encontro na manta de retalhos feita por Raina, em Blankets, de Craig Thompson,  a proliferação de arabescos árabes. Além disso, têm em comum o facto de desenharem narrativas autobiográficas autoficcionais extremamente pungentes. Nesse sentido, este tipo de banda desenhada nada tem a ver com as que líamos em novinhos: Astérix, Tintin, Gaston Lagaffe, Spirou e Fantásio; nem sequer com os livros da Marvel, que li, não por amor, mas por desfastio.
 
Não, Maus e Persepolis são para adultos, e com bom estômago.

Podem ler na Wikipédia esta entrada e no Youtube este excerto do filme.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Livros para jovens inquietos I



Ontem, já nem sei a propósito de quê, disse aos meus alunos do décimo ano que estavam mesmo, mesmo, na idade de ler A metamorfose, de Franz Kafka. E contei-lhes o início (só mesmo o início).
 

Como estas coisas não se devem dizer de ânimo leve, hoje vim aqui à Biblioteca verificar se tínhamos o livro. Claro que temos.  E deixo-vos aqui o início dos tormentos de Gregor Samsa:
 
"Certa manhã, ao acordar após sonhos agitados, Gregor Samsa viu-se na sua cama, metamorfoseado num monstruoso insecto. Estava deitado de costas, umas costas tão duras como uma carapaça, e, ao levantar um pouco a cabeça, viu o seu ventre acastanhado, inchado e arredondado em anéis mais rígidos, sobre o qual o cobertor, quase a escorregar, dificilmente se mantinha. As suas numerosas patas, lamentavelmente raquíticas, comparadas com a sua corpulência, remexiam-se desesperadamente diante dos seus olhos.
«O que me aconteceu?», pensou."

Se eu me desse ao luxo de recorrer a alguns lugares-comuns que dão muito jeito (mas que eu rejeito), começaria o meu comentário da seguinte forma:

«Muito haveria a dizer acerca desta obra de Kafka. Dada a escassez de espaço (?) e de tempo, dir-vos-ei apenas que o problema de Gregor Samsa replica, de alguma forma, as angústias de todo o ser humano - e, por maioria de razões, dos adolescentes - no confronto com a família e com os outros.»


Mas, como já sou adulta e, neste momento,  o (excesso) de trabalho é uma das minhas principais preocupações, preferia dizer-vos que A metamorfose problematiza a questão da alienação no trabalho. Leituras muito parciais, que cada um colmatará como entender.
 
 
 

Caminhar junto até à água



 
não são as luzes nem os animais
o esplendor
nem as mudas palavras onde a voz
difusa se separa

caminharemos junto à água, até
ao recordar dos promontórios,
ao olhar
a invenção do inverno

e recolhidos
no brusco ardor dos
anos breves

ouvindo cintilar
a frívola passagem
dos sinais

António Franco Alexandre

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Prefiro "A casinha do ursinho Puff"





A MÃO



Vinte e sete ossos,

trinta e cinco músculos,

cerca de duas mil células nervosas

em cada uma das pontas dos cinco dedos.

É quanto basta

para escrever Mein Kampf

ou A Casinha do Ursinho Puff.

(Wisława Szymborska)





[in http://bibliotecariodebabel.com/tag/wislawa-szymborska/]

A petição por que eu esperava...

... foi-me mandada pela Elisa. Ora leiam:


http://www.avaaz.org/po/petition/Contra_a_liberalizacao_das_plantacoes_de_eucalipto_em_Portugal/?tsPDKab




Contra a liberalização das plantações de eucalipto



Foi recentemente avançada uma proposta da alteração da legislação sobre Arborização e Rearborização, a qual abre a porta à liberalização das plantações de eucalipto em Portugal. Sabendo que o eucalipto é uma espécie invasora que aloja uma baixa biodiversidade e potencia os fogos, factor crítico em Portugal, pedimos que considerem esta alteração e que evoluam no sentido de proteger o nosso património natural ao investir na plantação de espécies nativas portuguesas, as quais reduzem os fogos e potenciam a biodiversidade.Para mais informações, consultem o pdf da proposta de alteração aqui: http://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0CHQQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.afn.min-agricultura.pt%2Fportal%2Foutros%2Fnoticias%2Fresource%2Fficheiros%2Facoes-arborizacao-e-rearborizacao&ei=VpsdUOnbDIeBhQfXbw&usg=AFQjCNE7GxrhZ-rzto53DYsr9PBLbE0cxQ

http://www.avaaz.org/po/petition/Contra_a_liberalizacao_das_plantacoes_de_eucalipto_em_Portugal/?tsPDKab

Um blogue a ter em conta

 

As críticas de José Mário Silva são - para ser sucinta - muito justas. Lia-o na secção "Actual" do Expresso, na Ler e, doravante, tenciono segui-lo no blogue: http://bibliotecariodebabel.com/

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Entretanto, contento-me...


... a folhear o meu exemplar do Diário Gráfico de Braga, editado pela Fundação Bracara Augusta.

 

Diário Gráfico

Se fosse a Lisboa, ia ver...

... a exposição de Eduardo Salavisa.

  

Como não vou, contento-me em folhear - e em recomendar atodos, e aos meus alunos em particular - a consulta de  http://www.diariografico.com/ e http://diario-grafico.blogspot.pt/.