sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A escola, como uma casa



 
Famílias felizes e famílias infelizes

Se todas as famílias felizes são iguais,
também o são todas as famílias infelizes,
cujas vidas celebramos
porque estão cheias de movimento e ardor,
porque elas são aquilo que pensamos que a vida é.
Alguém mente e alguém está a ser
vítima de mentira. Alguém é agredido
e alguém é o sujeito da agressão.
Alguém reza, ou chora
porque não sabe como rezar.
Alguém bebe durante a noite;
alguém se encolhe nos cantos;
alguém ameaça e alguém suplica.
Palavras azedas à mesa,
soluços amargos no quarto;
represálias surdas no espelho da casa de banho.
A casa estala com segredos;
todos preparam o seu plano de fuga.
Alguém se desmorona sem produzir um som.
Às vezes, alguém sai de casa
numa maca, num silêncio terrível.

Quanta energia gasta em sofrimento!
É como um fogo que arde sem parar
mas não consegue arder até ao ponto da sua extinção.
As famílias infelizes nunca são indolentes;
estão sempre em acção,
ao contrário das outras, as felizes,
aquelas em que nunca se levanta a voz
ou se cospe sangue, aquelas que nunca
fizeram nada para merecer a felicidade que têm.

Lisel Mueller

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