segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Ricardo Araújo Pereira, o intelectual improvável

Na NS de 20/2/2010 li uma entrevista de Ricardo Araújo Pereira. Não a tenho aqui, pelo que terão de me perdoar algumas imprecisões. Vou ver se arranjo um exemplar, para que não me esqueçam os muitos aspectos importantes de que vos quero falar.

Razões de peso me levam a falar do primeiro. É que resolvi trazer os meus Dez livros da Arquitectura, de Vitrúvio, para redigir um textozinho sobre a catástrofe na Madeira no blogue "Duas culturas". Ora, já que vim carregada, vou pô-lo a render.

Acontece que Vitrúvio, arquitecto militar romano que escreve o seu tratado no século I a. C., considera que o arquitecto deverá ser "(...) instruido en las Buenas Letras, diestro en el Dibuxo, habil en Geometría, inteligente en la Óptica, instruido en la Aritmética, versado en la Historia, Filósofo, Médico, Jurisconsulto, y Astrólogo".


Porquê literato? "(...) para poder con escritos asegurar sus estudios en la memoria."


Porquê filósofo? "La Filosofía hace magnánimo el Architecto, y que no sea arrogante, antes flexible, leal y justo: sin avaricia, que es lo pricipal; pues no puede haber obra bien hecha sin fidelidad y entereza. No será codicioso, ní amigo de receber regalos; antes procure antener su reputacion con gravedad y buena fama (...)"

Ricardo Araújo Pereira rejeita explicitamente a astrologia (leiam a entrevista e vejam se não tenho razão). Porém, é um homem culto, um intelectual que não vive nas altas esferas, mas que toma partido quando deve fazê-lo. Escreve bem (as suas crónicas atestam-no). Não é arrogante (o jornalista testemunha a sua tendência para se desmerecer). Não é ganancioso (está em "ano sabático"). Não será grave, mas tem demonstrado inteireza moral e postura ética (veja-se o caso dos cartazes).

Não sei se merecemos um humorista desta craveira. Mas que temos sorte em tê-lo, lá isso temos.

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