Agora, da árvore encostada ao bloco B, apenas resta uma fotografia. Talvez ela não morra (para já), mas não terá o porte imponente que prometia. E porquê, afinal? O céu era o limite...
Boas Festas
Há 11 anos
Blogue da Biblioteca da Escola Secundária de Vila Verde
Estava eu muito sossegadinha no meu aquário, quando vejo entrar uma turma de nono ano. «Mau, mau...», pensei eu com os meus preconceituosos botões. «Lá se vai o sossego.»
Engano meu. Eles, o professor Joaquim Oliveira, a D. Lúcia e eu estivemos a ouvir atentamente o primeiro capítulo do livro Marley e eu, lido pela professora Isabel Pinheiro e pela Filipa Fernandes do 12ºL (muito bem acompanhada pelo Marcelo Barros).Um momento de tranquilidade que me soube mesmo bem. Amanhã continuamos.
Um dos filmes que mais me impressionou (e vi-o na televisão) foi «O meu pé esquerdo», que retrata a vida do escritor irlandês quadriplégico Christy Brown.
Tal deveria bastar para me impedir de dizer que tenho dois pés esquerdos, mas, na verdade, é essa (infeliz) expressão que me ocorre sempre que quero caracterizar a minha queda para a dança. Vinha ia a subir as escadas do Bloco C, e ouço a música latina que vem do Pavilhão Gimnodesportivo. Fico com inveja destes alunos, que têm acesso à prática de dança na escola, o que "no meu tempo" era impensável.
Mesmo que tenham os meus dotes inatos, se se esforçarem conseguirão atingir um nível aceitável - satisfação que me está vedada para todo o sempre.
E assim, com muita pena minha, limito-me a sorrir e a subir as escadas com mais ânimo do que o habitual...
Em A escola do Paraíso, de José Rodrigues Miguéis, encontramos um longo excerto onde os dias que antecederam a proclamação da República são narrados do ponto de vista de uma criança - o que nos permite observar as motivações assaz pessoais que levavam uns e outros a escolher um dos lados (como o senhor Sepulcra, monárquico porque "funcionário das alfândegas d'el-rei nosso senhor").
Quando, após dois dias e dois noites em que "(...) o ar de Lisboa andou esguedelhado de tiros, o céu riscado de fogos-de-vistas singulares (...)" e a bandeira republicana é içada no quartel do Carmo, os habitantes do prédio onde vive a família do protagonista dividem-se de acordo com as suas simpatias políticas. Reparem neste excerto delicioso: "O prédio embandeirou, mas só do lado esquerdo, numa espécie de hemiplegia republicana".
A alegria, mesclada de oportunismo, destes tempos de mudança, é assim caracterizada:"Começavam-se a vender na rua bandeiras, alfinetes, postais e globos de vidro colorido com cenas e retratos dos homens do regime. Era uma Vida Nova que raiava. Dir-se-ia que estava tudo preparado para a celebração! Passavam bandos aos vivas, caminho da Baixa, da Rotunda, do tejo, cantando a Portuguesa. Afluíam de todos os lados os heróis de última hora: as barricadas, até ali quase vazias, transbordavam agora de combatentes, eriçadas de armas que não tinham chegado a dar fogo. Tiravam-se grupos memoráveis, para depois se dizer «Eu também Lá estive!»"O pai do protagonista, porém, é genuinamente republicano, e o capítulo 28 conclui-se com os filhos intuindo as diferenças entre convicção e acomodação:"Então compreenderam que alguma coisa de grande e sério se passava: não era só festa, só vivas, só fogo-de-vista! E ficaram muito tempo calados, no escuro da noite, pensando no pai que chorava de alegria, até que o cansaço daquele primeiro dia da Vida Nova os venceu, e adormeceram."