quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Palavras morais de um outro tempo ou de como a "Auto-ajuda" nasceu muito antes de os Estados Unidos existirem como nação

Neste início de ano, jornais, revistas, rubricas radiofónicas e televisivas enchem-se de preceitos de bem viver. Nós resolvemos fazer pesquisa arqueológica e encontramos esta...

... «Regra sua pera quem quiser viver em paz»

Ouve, vê e calla
e viverás vida folgada:
tua porta cerrarás,
teu vezinho louvarás,
quanto podes nam farás,
quanto sabes nam dirás,
quanto vês nãn julgarás,
quanto ouves nam crerás,
se queres viver em paz.
Seis cousas sempre vê
quando falares, te mando:
de quem fallas, onde e quê
e a quem, como e quando;
nunca fies nen perfies
nem a outro injuries;
non estês muito na praça
nem te rias de quem passa;
seja teu todo o que vestes,
a ribaldos (vadios, velhacos) nam doestes (injuries);
nam cavalgarás em potro
nem ta molher gabes a outro;
nam cures de ser picam (brigão, valentão)
nem travar (discutir) contra rezam.
Assi lograrás tas cãs
com tuas queixadas sãs.

Dom Joham Manuel

É fácil perorar acerca da "perenidade do espírito humano". Afinal de contas, é incontestável que o respeito por estas regras (de que talvez exceptuássemos a parte de cavalgar um potro, que nos parece um tanto improvável) permitirá atingir a idade madura sem grandes problemas. Porém, "quanto podes nam farás" podia ser levado à conta de preguiça. Tibieza, talvez? Uma certa hipocrisia, que também poderia ser qualificada como diplomacia... Mas, atenção: nem melhor nem pior do que se lê e ouve por aí. Só com uma ortografia mais arrevezada.

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