Uma das coisas que achei interessante é que, ou me engano muito, ou fui a primeira leitora a requisitá-lo. Fiquei sonhadora. Quando era novinha, li os livros todos lá de casa (mesmo aqueles que, claramente, não eram para a minha idade), os livros dos meus amigos, as bandas desenhadas de uma vizinha, os livros dos meus primos e dos amigos deles, os livros que havia na escola (quase todos relíquias do Estado Novo) e ainda os livros que deixavam trazer da Biblioteca Itinerante Gulbenkian que parava ao lado da matriz da Azurara. Não pensem, porém, que isto é uma crítica. Não é. Quando conto às alunas de Literatura que, nessa época, víamos um ou dois programas de televisão por dia, elas riem-se. Escuso de dizer, por óbvio, que não tínhamos telemóveis, computadores, jogos de consola ou facebook. Tínhamos muito menos distrações, a pressão escolar, nesse tempo e na minha família, era muito menor, as férias prolongavam-se por três ou quatro meses e também éramos felizes.
Sempre pensei que, se tivesse ainda mais livros, seria hoje uma pessoa mais culta (também me lembro de achar vergonhoso não ter ainda lido os Cem anos de solidão aos vinte e seis anos).
Em Mel, há um jovem escritor de vinte e sete anos que ainda não leu os Cem anos de solidão. No entanto, o livro ocupa-se da educação da jovem protagonista, Serena Frome. Uma educação sentimental, mas também gastronómica, informativa e cultural. Livro sobre livros, Mel é também um livro sobre uma determinada época e sobre a forma como a leitura de jornais abre os horizontes das pessoas - mesmo de jovens ingénuas, como Serena ou o meu eu de vinte e dois anos que decidiu - e cumpriu - dedicar uma parte do salário à aquisição de jornais. Até hoje.
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